Transmitido em agosto de 2018, este especial One Piece fez novamente de Skypiea, “a ilha no céu”, o plano de fundo da trama e recordou algumas das aventuras ali vividas pelos grandes heróis da história.
Contudo, se o objetivo desta produção era despoletar nostalgia nos fãs mais velhos da trama, ou até mesmo cativar potenciais novos seguidores para One Piece, a Toei Animation falhou redondamente. Para lá de ganhar dinheiro com mais um trabalho de quase duas horas, este “One Piece: Episódio de Skypiea” não terá trazido nada de bom para os seus criadores, muito menos para quem o viu.
50 episódios em menos de 2 horas?!
Resumir a saga de Skypiea e o mini-arco que a antecede (Jaya) em cerca de 100 minutos de transmissão. A simples existência deste especial de One Piece confirma que esta era a principal missão dos responsáveis por este projeto.
A grande questão que se coloca é: era mesmo para fazer deste trabalho um projeto de sucesso? Se sim, então diria que as missões impossíveis que deram por aí ao Tom Cruise nos últimos anos eram “para meninos”. Colocar mais de meia centena de episódios num filme? Com qualidade, impacto no espectador e capacidade para despertar saudade desta saga? Totalmente para esquecer, como ficou provado.
Aliás, este não foi o primeiro trabalho, nem será ou último, a ser desenvolvido neste formato. Quer em One Piece, quer noutros animes. Porém, se longas-metragens pobres e com histórias independentes não fazem jus às obras a que estão associadas, a verdade é que também não atrapalham, ou pelo menos não condicionam, a vertente canon das respetivas. Já no que toca a trabalhos como o presente nesta análise o problema é bem mais sério, pois podem colocar em causa todo o trabalho anteriormente desenvolvido, a par da própria reputação da criação que lhe deu sustento.
Especial Skypiea – Do céu às profundezas do oceano!
Por outras palavras, esta produção corresponde ao afundar da saga de Skypiea. Como já disse, o deitar por terra de todo o trabalho previamente desenvolvido que visou embelezar esta parte da história de One Piece. Um episódio totalmente incapaz de agradar quem quer que seja.
No caso dos que acompanharam as aventuras desta saga no decorrer da série anime, como aconteceu comigo, esses irão ficar desagradados com a incompletude deste projeto. Por força de ter de resumir tantos acontecimentos e explicações importantes em tão poucos minutos, a história deste especial não consegue ser isso mesmo, uma história. A dita cuja não é capaz de ligar devidamente os vários momentos que apresenta, por falta de outros de igual importância, perdendo-se assim muito do sentido dos acontecimentos e o possível interesse do espectador naquilo que está a ver.
Por outro lado, potenciais novos fãs de One Piece, que por algum motivo acabem a dar uma oportunidade à obra por intermédio deste especial, vão descobrir mil e uma razões para criticarem One Piece e reforçarem um possível desinteresse que já vinham a desenvolver. Desta forma, o que antes seria uma falsa impressão sobre o grande trabalho de Eiichiro Oda passará a ser uma alucinada má impressão daqui em diante, corroborada por este episódio especial de Skypiea.
Arte e banda sonora que se afundam com o enredo
Perguntam vocês. Mas então este especial não tem nada de bom? Sim, a banda sonora que marca presença em todos os outros trabalhos de One Piece. Mas que pode ela fazer, juntamente com a arte, quando a base de todo o projeto (história e enredo) é tão inconsistente e repleta de lacunas? Nada!
Concedendo então alguma atenção à arte, de referir que está um pouco diferente da que acompanhou a saga Skypiea, transmitida na série entre 2003 e 2004. O traço do desenho é claramente mais carregado, enquanto as cores utilizadas apresentam tonalidades que sobressaem com mais facilidade. Um estilo diferente, interessante, e sujeito ao gosto pessoal de cada um.
Porque ao falar em arte sou quase obrigado a falar na animação, até esta parece ter sido alvo de censura. Acima de tudo nos combates, alguns movimentos não são contínuos, resumidos muitas vezes ao início e desfecho das investidas.
Não vejam este especial!
Não fiz uso de acontecimentos concretos desta parte da história para fundamentar as minhas críticas devido ao risco de spoilers. No entanto, pelo que disse em cima, será fácil de entender o porquê de proibir a visualização deste “One Piece: Episódio de Skypiea” a toda a gente. Sim, leram bem! Não se trata de não recomendar, trata-se de proibir! Não gastem tempo precioso das vossas vidas com este pseudo-projeto nem deixem que a vossa experiência One Piece seja influenciada por ele.
Pessoalmente, embora Skypiea não seja das minhas sagas favoritas de One Piece, não deixo de a considerar agradável e deveras original. Infelizmente, este episódio longo não só comprometeu estes estatutos como deixou este arco de One Piece altamente vulnerável a duras críticas.
Tributo a Namie Amuro
Nota final para o ending desta longa-metragem, no qual Namie Amuro, em versão anime, acompanha os vários membros da tripulação liderada por Luffy. De lembrar que a cantora POP pôs um fim à sua carreira artística no dia 16 de setembro do ano passado. Com este especial a ser lançado cerca de um mês antes, os seus responsáveis decidiram prestar-lhe tributo desta forma.
Não esquecer que Namie Amuro é a protagonista da música (“Hope“) presente no opening que acompanhava os episódios de One Piece por essa altura. Uma balada que podem recordar já de seguida. No meio de uma análise tão cinzenta, sempre fica aqui um cantinho mais alegre.
Namie Amuro – Hope
Análises
One Piece: Episódio de Skypiea
Um especial que não devia existir! Porque quando se tenta comprimir mais de meia centena de episódios em menos de duas horas de transmissão, ou se tem uma mestria muito grande e um plano de trabalhos invejável no que toca a resumir o enredo sem afetar a sua consistência, ou então o resultado final vai mais fundo que as previsões mais pessimistas.
Os Pros
- Originais deste especial? Nem vê-los!
Os Contras
- Enredo repleto de lacunas e, quiçá, mesmo impossível de seguir para quem não conhece a história de Skypiea
- Animação descuidada e demasiado económica em vários momentos do episódio