No Barcelona Manga Fair 2016, a equipa do Anime News Network teve a oportunidade de estar à conversa com parte da equipa técnica responsável pela criação de One Piece Film Gold.
Hiroaki Miyamoto (realizador), Masayuki Sato (designer de personagens e diretor de animação), e Hiroyuki Sakurada (produtor) falam, nesta entrevista, sobre o seu trabalho no filme e sobre a indústria de anime no geral.
One Piece Film Gold – Entrevista com a Equipa
Anime News Network: Qual é o processo para alguém realizar um filme de One Piece?
Hiroaki Miyamoto: Eu passei uns 6 anos a trabalhar na série, portanto o estúdio já conhecia o meu trabalho. Usualmente, os filmes de One Piece, são realizados por alguém que já tenha, ou esteja, envolvido na série.
ANN: Em termos de continuidade narrativa, para quem é este filme?
Miyamoto: O filme não tem qualquer relação com a série. One Piece Film Gold foi feito como algo completamente independente, com o objetivo principal de entreter o público.
Hiroyuki Sakurada: Exato. O público-alvo deste filme abrange tanto os fãs que acompanham One Piece há muitos anos, até às pessoas que nunca ouviram falar sequer da franquia.
ANN: Como é trabalhar como produtor na Toei Animation?
Sakurada: É um pouco estranho (risos). Eu vou para o escritório, leio manga, como enquanto leio manga, tenho algumas reuniões durante a tarde sobre storyboards, e depois vejo anime à noite.
ANN: Qual é a diferença entre trabalhar (como produtor) em One Piece (que é já uma franquia estabelecida) e em algo menor?
Sakurada: Bem, em One Piece tentámos retirar o máximo possível do Oda, a opinião dele é extremamente importante durante o processo criativo. Temos que pensar como ele pensa, e colocar todos esses pensamentos dentro de uma produção de One Piece. Por exemplo, falando de forma específica sobre One Piece Film Gold, o Oda esteve envolvido deste o início em tudo, por exemplo: no guião, no design das personagens, até na música e nos atores de voz. Acho que todo este processo com o criador original é a grande diferença relativamente a uma produção menor.
ANN: Consideram que franquias como One Piece e Dragon Ball possuem conteúdo infinito, ou têm uma data de validade?
Sakurada: Enquanto as pessoas aceitarem as novas criações, não existe limite para aquilo que se pode criar para franquias deste género. Acaba por ser algo que não cabe a nós decidir.
ANN: E se deixar de existir material para adaptar?
Sakurada: Criamos conteúdo original, quem decide o fim destas franquias é o seu público. De qualquer das formas, vamos fazer sempre o nosso melhor para entregar excelente conteúdo.
ANN: Ao trabalhar numa franquia como One Piece, sentem o peso da responsabilidade?
Miyamoto: Como realizador sinto uma enorme pressão. Mas, à parte disso, isto é algo que eu sempre quis fazer. Quando era mais novo, eu lia One Piece e via o anime, e sonhava poder um dia integrar a equipa de produção. E eu consegui concretizar esse sonho, sinto-me mesmo realizado.
ANN: E o Sato? Também seguiu One Piece desde os seus inícios?
Masayuki Sato: Tenho que admitir que, quando One Piece começou a ser serializado eu não lia e também não sentia grande interesse pela obra. Porém, quando comecei a trabalhar na franquia, comecei a ler e adorei! Portanto, sinto-me mesmo feliz por fazer parte dela.
ANN: É a terceira vez que está envolvido num filme de One Piece. Quais as diferenças entre o Gold, Strong World e Z?
Sato: Como diretor de animação, a grande diferença está nos diferentes tipos de animação utilizados. Como designer de personagens, não acho que existam grandes diferenças entre os três filmes, exceto a parte que agora estou a fazer um trabalho superior. Estou simplesmente a fazer adaptações dos designs criados por Oda, e portanto isso não muda ao longo dos filmes. A única coisa que muda é a minha experiência relativamente ao cargo.
ANN: Comparando com o seu último trabalho em Pretty Cure All Stars: Haru no Carnival, onde teve que criar designs de personagens originais, qual é a diferença no processo criativo relativamente a One Piece, onde é uma adaptação do trabalho de outra pessoa?
Sato: A grande diferença é: enquanto que nos designs originais tenho mais liberdade criativa, é também um trabalho mais difícil. Por outro lado, no caso de One Piece onde já existe algo criado, a parte mais difícil encontra-se no facto de ter que adaptar o meu estilo ao trabalho original, que neste caso é ao de Oda. Claro que, no geral, é mais fácil copiar do que criar os designs.
ANN: Sente que possui liberdade para escolher novos projetos?
Sato: Eu tenho liberdade para escolher onde quero trabalhar, mas não tenho a mesma liberdade se quiser criar algo do zero.
ANN: One Piece Filme Gold passa-se em Las Vegas. Como ocorreu a decisão de desenvolver a ação nesta cidade?
Sakurada: Foi ao escolher a temática. Quando chegou a altura de o fazer, tive uma reunião com Oda e com o Realizador, onde abordamos qual seria o melhor local para desenrolar a ação. Escolhemos um Casino, como local principal, porque dinheiro não tem a capacidade de nos comprar liberdade, e essa é a principal temática aqui presente. Os mugiwara, neste filme, enfrentam Tesoro, que simboliza dinheiro e poder.
ANN: Tesoro e Carina são duas personagens originais criadas para este filme. Estão contentes com o seu desenvolvimento?
Miyamoto: Do meu ponto de vista, Tesoro tem tanto de sinceridade como de sensibilidade. Ele luta para ter a sua liberdade. Ainda que Luffy e Tesoro sejam extremos opostos, possuem uma natureza semelhante. Ao criar Carina, sendo ela uma amiga e rival de infância da Nami, tentamos criar uma personalidade ainda mais sexy que a da Nami, sem nunca descorar o estilo de desenho que o Oda tem para as mulheres do mundo de One Piece.
Sakurada: O que é mais interessante na Carina é que ela é bastante misteriosa. Ainda que ela lute contra o Tesoro, nunca sabemos, com clareza, de que lado ela está.
ANN: Qual é o peso do trabalho para um filme desta dimensão?
Miyamoto: Em termos de animação, para um episódio regular da série temos 300 cortes e 4000 key animations. Para o filme fizemos 2000 cortes e 76 000 key animations.
ANN: Tenciona voltar a trabalhar na série?
Miyamoto: Por enquanto estou a trabalhar noutros projetos. Mas se me pedirem para voltar a trabalhar em One Piece, eu aceito a proposta.
ANN: Quais são as vossas perspetivas sobre a indústria de anime contemporânea?
Sakurada: Anime está a ficar cada vez mais internacional. Alguma produções atingiram um sucesso tão grande, que algumas pessoas na indústria estão a fazer o seu melhor para que esta moda se torne algo permanente.
One Piece Film Gold com lançamento em PORTUGAL
Sato: Pelo lado da animação, eu não sei o que vai acontecer com a tecnologia, não sei se vai chegar a um ponto em que a tecnologia andará à frente das pessoas. Portanto, eu não sei até que ponto a animação CGI ou realizada através de tablets irá deixar a animação tradicional a apanhar pó.
Miyamoto: Aliás, nós em One Piece Film Gold utilizamos uma mistura de 3DCG com animação tradicional. Tentamos elevar a fasquia.
Uma conversa muito interessante, sem dúvida! Agora, para terminar, deixo-vos com o trailer do filme:
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Fonte: Anime News Network