Desenvolvido pela FromSoftware, autores do famoso Dark Souls, Sekiro: Shadows Die Twice é o equivalente a um primo da série Souls. Trazendo muitos elementos já conhecidos, mas misturando-os também com elementos novos, resultando num jogo com uma jogabilidade inovadora.
Assumimos o papel de Wolf, o Shinobi de Lorde Kuro, o herdeiro divino portador da linhagem do Dragão, capaz de conceder imortalidade através do seu sangue. Numa tentativa de resgatar o seu amo de um rapto, Wolf sai derrotado, perdendo um braço, mas graças a um bom samaritano, este braço é substituído por uma prótese.
Sekiro: Shadows Die Twice – Análise ao jogo
Jogabilidade
Este título pode ser considerado um RPG de ação, sendo que a maioria do tempo de gameplay é passado em exploração e combate. Nos ambientes durante a exploração vamos também encontrar estátuas de Buda. Estes ídolos recuperam totalmente a vida e a carga de ressurreição e esvaziam a barra de postura, além disso, recuperam as doses da cabaça curativa.
A cabaça consiste num frasco com um líquido medicinal que nos permite recuperar vitalidade, tendo um determinado número de usos. Este numero de usos pode ser aumentado com sementes de cabaça. Além disso, ao descansar nestes ídolos, todos os inimigos normais voltam a vida, sendo necessário ponderar bem quando o fazer. Estes ídolos também podem tem a utilidade de permitir fazer fast travel para outros ídolos descobertos, assim como permitir subir os nossos stats. Mas mais sobre isso em baixo.
Tirando proveito do contexto e historia deste jogo… a equipa aproveitou e aumentou a mobilidade do nosso personagem consideravelmente comparando com outros títulos do género. Primeiro que tudo, pela primeira vez num jogo souls, podemos saltar com o pressionar de um botão.
Segundo, em troca de ficar maneta, o nosso novo braço prostético vem equipado com um Grappling-Hook, abrindo imensas possibilidades em termos de mobilidade e ocasionalmente em combate. Esta adição trouxe um mapa bastante mais complexo, com mais possibilidades de esconder segredos, recompensando a atenção ao que nos rodeia, recorrendo à verticalidade. Por último … sabemos nadar! Outra adição a fórmula que abre portas a que se possa meter coisas engraçadas em cantinhos ao longo do rio.
De forma geral, para eliminar inimigos neste jogo, é necessário realizar um golpe fatal, representando uma boa reviravolta no sistema de parries característico da série Souls. Este golpe pode ser realizado após encher a barra de postura. Esta barra está presente em todos os inimigos do jogo, mas também no nosso personagem… esta barra enche ao defender ataques, no entanto, enche mais se o ataque for defletido, como quem diz, defender o ataque a última da hora.
Para além de preencher mais a barra de postura, ainda pode deixar os inimigos abertos a um contra-ataque, criando um sistema de risco-recompensa em que arriscamos receber um golpe direto na esperança de aumentar a barra de postura do adversário. Esta barra vai se esvaziando a um ritmo diferente para cada tipo de inimigo… mas este ritmo pode ser abrandado se se diminuir a vitalidade do inimigo, portanto não é desta que nos podemos esquecer da vitalidade!
Além disso, existem ataques que não podem ser defendidos de forma convencional, terão que ser evitados ou tirados proveito de outra forma, representados por um símbolo a vermelho acima do inimigo e um sinal sonoro. Tudo isto faz com que o combate deste jogo seja mais defensivo, no sentido em que é recompensada a reação e a ofensiva inimiga em variadas ocasiões.
Outra abordagem mais direta, é matar os inimigos à socapa! Se não formos detetados pelos inimigos, é possível eliminar 1 ou mais inimigos sem recorrer a combate, em teoria, é possível limpar secções inteiras à custa de stealth! Sinceramente, esta mecânica é uma dádiva dada o hábito da FromSoftware de por um gangue de inimigos na mesma área como se fossemos protagonistas de um anime.
Mas quando o resultado do encontro se resume ao combate, por vezes (ok, muitas vezes) os inimigos levam a melhor, contudo… temos um último trunfo… ressuscitar. Quando damos por nós a esticar o pernil, fazer para sempre ó-ó… temos a chance de voltar a vida com metade da vitalidade. Isto permite-nos surpreender inimigos que, entretanto, já viraram as costas assim como ultrapassar algum desafio sem as penalizações de morrer.
A possibilidade de ressuscitar é representada por um ou mais círculos acima da barra da vitalidade. Esta mecânica é sempre bem-vinda dada a dificuldade do combate, e uma possível solução para a repetição que se pode instalar perante a dificuldade do jogo. No entanto, há que considerar que só temos garantida uma ressurreição, as restantes terão que ser “recarregadas” eliminando inimigos. O que atua como um equilíbrio para que esta mecânica não possa ser abusada.
De cada vez que o nosso personagem morre, perdemos metade do dinheiro que tínhamos em mãos e da experiência para adquirir um skill point, aparentando não ser um castigo tão severo como o habitual, mas desta vez está mesmo perdido de vez… Além disso, há uma hipótese de algum NPC contrair Dragon Rot, uma doença que afeta os NPCs pondo-os com dificuldades respiratórias e impedindo que quest lines avancem! Apesar de esta mecânica fazer sentido no contexto da história do jogo… como mecânica diria ser desnecessária.
No decorrer de Sekiro adquirimos habilidades, algumas delas através de textos que nos conferem uma habilidade diretamente, outros, permitem aceder a uma skill tree, estas permitem desbloquear uma variedade de habilidades que custam skill points. Estes textos enfatizam a recompensação na exploração e interação com NPCs, pois para conseguir tirar proveito das vantagens que os textos nos trazem, temos que os encontrar primeiro! Os já mencionados skill points são adquiridos pelo acumular de pontos de experiência adquiridos durante o combate.
Parte das habilidades são passivas, no entanto, outras são Combat arts, resumindo, ataques especiais, existindo apenas um espaço para um ataque destes. Isto resulta em mais uma ferramenta que poderá ser utilizada para criar vantagem, se conseguirmos identificar as alturas corretas de a utilizar. Além disso, podem nos ser concedidos opções adicionais em combate, o que, dada a dificuldade de Sekiro são sempre agradecidas.
Inimigos normais são canja para um ninja, para trazer um desafio de verdade existem inimigos especiais, minibosses e bosses. Os minibosses normalmente aparecem no meio de inimigos normais, mas podem ser distinguidos pelo facto de a barra de vida deles e a quantidade de golpes fatais necessários para eliminar esse miniboss aparecer no canto superior esquerdo.
Além disso, também possuem maior quantidade de postura e vitalidade do que inimigos normais. Geralmente, com a estratégia certa é possível realizar um dos golpes fatais necessários com stealth, facilitando o nosso trabalho. Quando se elimina um destes inimigos, obtemos uma conta de oração.
Quatro destas contas, dão um incremento de vida e postura, fundamentais para acompanhar a curva de dificuldade em Sekiro. Mas não se acudam veteranos da série Souls, é o jogador que tem que “subir de nível”, portanto as runs de nível 1 de olhos vendados e com um baralho de cartas como comando ainda são possíveis!
Os bosses já são uma conversa um pouco diferente, são inimigos isolados e com maior quantidade de vitalidade e postura tal como os minibosses. No entanto, é impossível infligir algum golpe fatal por stealth. Outra diferença notória é que ao eliminar o boss, recebemos uma memória, cada memória permite aumentar o ataque do nosso personagem, aumentando o dano, a postura e vitalidade dos inimigos.
Ao ter perdido o braço no início do jogo e recebendo o braço prostético acabamos obtendo uma ferramenta valiosa. Neste braço podem ser equipadas ferramentas com variadas utilidades, concedendo vantagens em situações especificas. Embora seja possível utilizar algumas de uma forma um pouco fora da caixa, diria que o seu uso no geral é específico, sendo reservado para certas e determinadas situações.
Os materiais base para estas ferramentas, estão espalhados pelo jogo, há que estar atento a pistas, elas andem aí… após obtidas, podem ser transformadas em ferramentas e utilizadas em troca de um determinado número de spirit emblems. Apesar disto, a forma base destas são um bocadinho… rústicas, felizmente, a partir de certa fase do jogo é possível dar upgrade às ferramentas. Estas novas formas permitem novos usos e mais “poderosos” … a custo de um maior gasto de spirit emblems.
Todas as formas obtidas das ferramentas estão disponíveis ao mesmo tempo, sendo possível equipar várias formas da mesma se assim for desejado. Os spirit emblems, contendo as almas daqueles que morreram em batalha, são encontrados nos ambientes, largados por inimigos ou comprados nos ídolos do escultor. Esta moeda de troca obriga a pensar duas vezes em relação ao uso das ferramentas, o que é importante para equilibrar esta muito útil mecânica de Sekiro.
Por muitos elogios que eu tenha feito ao combate deste jogo, nem tudo é perfeito. De vez em quanto surgem bosses ou minibosses que requerem um estilo de jogo diferente daquele que o resto do jogo requer, penalizando o jogador por seguir aquilo o jogo tinha encorajando até então.
Durante o jogo vão dar de caras com uma mecânica essencial para derrotar um ou outro boss obrigatório, o problema surge na explicação… onde é que Sekiro explica esta mecânica? Num papel que está numa parede duma sala perto da primeira vez em que esta é apresentada! Temo que isto seja profundamente insuficiente, pois não é assim tão difícil passar por ele sem dar por ela.
E por fim… neste jogo existem status, mas há um que diria passar o limite do razoável, pois quando se é infligido com este, morre-se instantaneamente. Este castigo é excessivo, pois nem é possível ressuscitar, obrigando a regressar a estaca zero sem uma boa razão para isso.
Para além de jogar uma playthrough do jogo, existe também um modo Boss Rush. Criando um novo desafio para ser enfrentado por quem assim o desejar. Permitindo espremer um pouco mais de conteúdo deste jogo, que definitivamente segue mais uma abordagem de qualidade em vez de quantidade.
História
Para melhor compreender a história deste jogo, clique aqui. Ganância, poder, religião e o sobrenatural… A história deste jogo é muito clara em comparação com outras do género. Mesmo assim continuamos a ver a história a ser entregue via diálogos, descrições e cutscenes.
Em termos de estrutura, Sekiro possui quatro finais distintos. Apesar de alguns finais serem simples de obter, alguns requerem uma certa jornada! O que acaba obrigando o uso de um guia para os obter, demonstrando uma falha na forma como o jogo transmite informação.
O jogo passa-se numa versão mais assustadora do Japão da era Sengoku, no território fictício de Ashina. Sekiro também utiliza muitos conceitos budista, sendo as famosas bonfires deste jogo, ídolos de Buda. Mas temo que não vos posso desvendar muito senão os fãs de Souls vão ficar zangados e eu tenho medo deles.
Posto isto, como consequência de uma decisão próxima do fim de Sekiro, a história ramifica-se, sendo que uma das vias permite obter apenas 1 dos finais e os restantes 3 existem dentro da outra via da ramificação.
Música
A música neste título está ao serviço da atmosfera a ser criada, permitindo acrescentar a experiência. Por esse motivo, algumas músicas ficam facilmente gravadas na nossa mente!
Para além do que já está dito… acho importante mencionar o quanto Sekiro utiliza o som no combate, desde a defesa perfeita, aos ataques não bloqueáveis, entre outros. Isto permite-nos extrair muitas informações através do som e dá outro peso às nossas ações assim como as de inimigos.
Performance
Joguei este jogo numa PlayStation 4, regra geral permitiu uma jogabilidade fluida e responsiva aos inputs, no entanto, em algumas áreas em específico, foi notório que o sistema não conseguiu manter os 30 FPS, tendo soluços ou então quedas de framerate, demonstrando problemas com a otimização do jogo. Felizmente não é frequente o suficiente (de forma que se note) para afetar gravemente a minha experiência com o jogo.
Veredito final
Sekiro: Shadows Die Twice é um jogo que me desafiou durante todo o seu percurso, mas cada desafio que me apresentou, eu superei, seja devido a toda uma estratégia, perseverança, alguma pista que encontrei na área ou uma das muitas ferramentas fornecidas. Este é definitivamente um daqueles casos é que o jogo resultante é maior do que a soma das partes que o compõem.
A história, apesar de ser mais clara do que outros jogos do género nos habituaram, ainda tem pontos que nos obrigam a prestar atenção para conseguir dar conta da história por detrás.
Tudo isto, faz com que rejogar o jogo para obter os outros finais e não só… não pareça um castigo, mas sim mais um gosto proporcionado pela experiência. Por fim, gostaria só de dizer para não se esquecerem de quebrar códigos, especialmente os metálicos.
Hesitation is defeat!
Análises
Sekiro: Shadows Die Twice
Um jogo com mecânicas mais focadas e especificas mas que não deixa de permitir expressão do jogador enquanto proporciona uma experiencia coerente e desafiante. Um título essencial das plataformas modernas.
Os Pros
- Dificuldade justa
- Variedade de opções para lidar com os mesmos desafios
- Stealth permite tornar as ondas de inimigos mais fáceis de lidar, para além de ser simplesmente divertida
- Ressuscitar ajuda a reduzir a dor de cabeça de tentar uma e outra vez o mesmo desafio
Os Contras
- Ocasional incoerência do estilo de jogo encorajado pelo jogo
- Status que nos mata instantaneamente
- Mecânica explicada de forma facil de passar ao lado
- Quests com linguagem críptica que não ajuda a entender o que fazer