The Mole: Undercover in North Korea, produzido por Mads Brügger, é um documentário que aborda a infiltração de dois cidadãos na Coreia do Norte, envolvendo a investigação de Alejandro Cao de Benós e do regime de Kim Jong-Un.
Quando comecei a ver este documentário nunca pensei que iria abordar assuntos deveras tão sérios e ainda por cima verdadeiros! Só no final de ver os dois episódios que o compõem, é que tive a noção de que foram precisos dez anos para produzir “The Mole”, graças ao risco e esforço das personagens principais.
The Mole – O registo de uma infiltração na Coreia do Norte
The Mole é realmente um documentário forte, tenso e cheio de suspense, colocando-nos na pele dos dois infiltrados que puseram em risco a sua vida ao longo de dez anos seguidos, para o bem da população mundial. Achei um ato heroico e de muita coragem. Não seriam muitas as pessoas que teriam a tamanha valentia de se colocar no mesmo risco.
A origem de “The Mole” e o porquê da infiltração na Coreia do Norte?
Antes de mais, é importante perceber o contexto do documentário. Comecemos pela razão que levou Mads Brügger a produzir este documentário, que implicaria mais tarde chegar ao seu objetivo: a infiltração de dois cidadãos do ocidente na Coreia do Norte.
Acho pertinente explicar também quem são os protagonistas e como eles se encaixam no enredo desta história. Se “The Mole” já aborda um tema intenso e delicado, imaginem o momento em que descobrem que as duas pessoas infiltradas não são profissionais de espionagem!
The Mole: Undercover in North Korea – Análise
The Mole trata-se em parte de um interrogatório ao “Infiltrado”, que é feito por uma antiga espiã a pedido de Mads. Ulrich Larsen, apelidado o “Infiltrado”, é um cidadão dinamarquês, e um cozinheiro aposentado. Através deste interrogatório vamos conhecendo a razão que levou este homem a conhecer Mads e a infiltrar-se na Coreia do Norte, mas a cima de tudo factos reais, que se passaram entre 2011 e 2021.
No primeiro episódio é-nos explicado que The Mole nasce da vontade do Infiltrado em viajar para a Coreia do Norte. Mas porquê? Bem, na realidade Mads Brügger realizou em 2006 um documentário intitulado “A Capela Vermelha”, que abordava o regime ditatorial numa perspetiva ocidental. Como não foi bem aceite pelo regime de Pyongyang, Mads foi expulso e impedido de voltar a entrar no país. Após ter visto o seu documentário, “O Infiltrado” entrara em contacto com o realizador, pedindo para este fazer um filme sobre ele a ir à Coreia do Norte no seu lugar.
Tudo começa em 2011, com a sua infiltração na Associação de amizade dinamarquesa com a Coreia do Norte. No início do primeiro episódio, vemos a maneira como este se tornou membro do conselho, até conseguir viajar à Coreia do Norte em 2012. Foi aí que conheceu Alejandro Cao de Benós, o presidente e fundador da KFA (Associação de Amizade com a Coreia do Norte).
Em 2013, é proposto ao Infiltrado criar a KFA Dinamarquesa, a qual este iria dirigir. A partir daqui, começa a ser ainda mais interessante ver como este vai subindo na hierarquia e ganhando aos poucos a confiança de Alejandro, um admirador dos ideais da Coreia do Norte e uma pessoa com grande influência e poder fora do país.
Com o aumento de poder, vem mais responsabilidades, por isso Alejandro pressiona o Infiltrado a arranjar investidores na Coreia do Norte. Isto leva-nos à parte em que entra em ação o nosso segundo infiltrado. Jim, apelidado “Sr. James”, é um empresário, com um histórico complicado no passado, que o torna a pessoa perfeita para se infiltrar e empenhar a função de investidor.
Em 2014, com a apresentação do Sr. James a Alejandro, os acontecimentos começam a escalar de intensidade, levando-os a caminhos obscuros relativos à corrupção manipulada pelo regime ditatorial da Coreia do Norte.
Mesmo sem nenhuma experiência na área da espionagem, é arrepiante ver e pensar como é que os dois protagonistas conseguiram passar despercebidos, ao longo de tantos anos, sem nunca levantarem uma única dúvida nos norte coreanos. É impressionante a força psicológica e emocional que estes suportaram e o facto de não colapsarem nos momentos mais intensos!
Registo da infiltração
Desde o início da infiltração em 2011 até 2021, que foram filmados e registados os áudios das conversas que o Infiltrado e o Sr. James foram tendo com Alejandro e com traficantes norte-coreanos, com quem entraram em contacto.
Os dois conseguiram registar todos os momentos importantes e secretos ao longo dos anos, recorrendo a microfones e camaras escondidas nas suas roupas e nas salas. O Infiltrado também teve ajuda de cameramans contratados, sempre com a desculpa que estava a filmar para colocar nas redes sociais e publicitar a KFA.
É realmente assustador pensar como é que nunca foram descobertos e incrível ao mesmo tempo, por terem entrado e saído na Coreia do Norte sem nenhum problema ou imprevisto. Para além disso, e graças aos seus papéis como “atores” e confiança que impuseram nos traficantes norte-coreanos, ainda conseguiram ter acesso a imensas informações secretas, que denunciam claramente a corrupção pela Coreia do Norte.
À medida que fui avançando no segundo episódio, fui sentindo a pressão e ansiedade, com a escalada de intensidade e secretismo dos acontecimentos. É impressionante como através de várias camaras escondidas (dentro das salas ou dos seus pertences), se conseguiu capturar rostos de criminosos e conversas, que se não fosse deste modo, nunca chegariam a ver a luz do dia.
The Mole – Juízo Final
Ainda me custa a acreditar que estamos perante uma história real, de dois homens que sem nenhuma experiência conseguiram descobrir segredos e informações confidenciais do regime ditatorial coreano de Kim Jong-Un, que revelam a corrupção existente no país e os seus esquemas ao longo do mundo.
Não é novidade, mas voltei a ficar chocada com o facto de os representantes do regime, que vão aparecendo ao longo do documentário, acharem que a Coreia do Norte tem mais valor e poder graças às armas nucleares e poder militar, achando-se superiores a outros povos. Ainda mais parva fiquei com a descoberta da existência de grupos de pessoas que apoiam os mesmos pensamentos que estes e que glorificam o país.
Fiquei surpreendida e colada ao ecrã desde o início. Posso-vos afirmar que não estava à espera de metade dos acontecimentos, da quantidade de pormenores e informações secretas reveladas sobre a Coreia do Norte. É sem dúvida um dos melhores documentários que já vi até hoje e já está disponível na Filmin!
Este documentário encontra-se na Filmin, uma plataforma de streaming onde poderão assistir a este e outros filmes e séries asiáticos e não só.
Análises
The Mole: Undercover in North Korea - Análise
The Mole é um documentário real e arrepiante, que retrata a infiltração de dois cidadãos na Coreia do Norte, envolvendo a investigação de Alejandro Cao de Benós e do regime de Kim Jong-Un.
Os Pros
- Abordagem/retrato de factos reais
- Espionagem por cidadãos sem experiência
Os Contras
- Pouca qualidade de imagem em algumas das câmaras