Não queria dizer isto assim de ânimo leve, mas cada vez acho mais que o último episódio de Trigun Stampede é um dos melhores episódios de anime que eu já vi na vida. Se não foi perfeito foi lá perto, e eu mal posso esperar pela continuação do passion project do Estúdio Orange.
Podes ler aqui todas as análises semanais de Trigun Stampede.
Trigun Stampede Episódio 12 – Opinião
Memórias do cabelo vassoura
Depois de estar em banho maria na sopinha mais as outras Plants, Vash parece perdido para sempre. Contudo, mergulhando novamente na mente do Tufão Humano, podemos ver que Vash não perdeu totalmente as suas memórias… a memória de Rem ainda subsiste sob a forma de um gerânio vermelho. Ou seja, estávamos nós a uns 4 minutos do início do episódio e eu já estava a chorar. Apetece-me dar um beijo no Estúdio Orange, depois de eles terem feito um dos visuais mais belos que eu alguma vez vi.
Vash eventualmente lembra-se de Rem, conseguindo mesmo ouvi-la a agradecer-lhe por nunca se ter esquecido dela, e por ter protegido aquilo em que ela acreditava. Para mim, este é um dos diálogos mais bonitos do universo de Trigun. Eu senti nos meus ossos o quão desesperadamente o Vash precisava de ouvir esta reafirmação dos seus ideais para seguir em frente, para continuar firme nas suas convicções e, principalmente, para conseguir fazer frente a Knives.
Também com a ajuda da voz incessante de Meryl, Vash parte o aquário do oceanário e vem cá para fora com uma transformação digna de magical girl. No momento em que Vash sai da sua quarentena aquática, com o seu icónico cabelo vassoura de volta, eu juro que me apeteceu rir na cara das pessoas que acharam que Stampede não merecia uma oportunidade porque o Vash parecia um e-boy do Tiktok. Ninguém sabia que as fibras capilares do Vash tinham uma origin history, e por isso, agora não há desculpas para não ver este anime.
Nervos à flor da pele
Muita gente disse que a final fight de Trigun Stampede se tornou num jogo de Final Fantasy e talvez tenham razão. Para mim, esta é uma das melhores lutas que alguma vez vi. A coreografia dos movimentos do Vash, do disparar e recarregar da sua pistola, juntamente com os movimentos errantes de Knives são dignos de filme da Disney. Já para não falar que os irmãos estavam a lutar pelo cubo de matéria concentrada do portal do Vash (capaz de destruir o planeta inteiro) como dois putos que andam aos socos para ver quem usa primeiro a Xbox. Eu honestamente achei isso lindo.
E é aqui, senhores e senhoras, que o Estúdio Orange demonstra as potencialidades da animação 3D, bem feita, no seu esplendor máximo. Todo o enquadramento da luta de Vash e Knives é extremamente dinâmico.
Isto é algo que a animação 3D permite fazer com grande qualidade, e que seria um pesadelo infinito para os animadores de 2D, já que tudo tem de ser desenhado à mãozinha. É verdade que a animação 2D tem as suas vantagens, e o estúdio Orange fez uso delas pontualmente, mas Trigun Stampede é a prova que há muito espaço para animação 3D e tudo o que ela pode acrescentar de bom.
No meio do caos completo, ainda tivemos migalhas do momento inesperado do Wolfwood a salvar Meryl, pegando-a como se ele fosse um saco de batata, porque tinham que dar à sola para saírem dali vivos. Não deixei de reparar na cara de alívio que o Vash fez quando viu que os besties estavam são e salvo.
Anjo da escuridão
A segunda parte da luta entre Vash e Knifes é ainda mais intensa que a primeira. Pela primeira vez, vemos as asas de Vash, também elas feitas de ramos de plantas, tal como a criatura gigante que ele criou no episódio anterior. O nosso boy transforma-se um verdadeiro angle of darkness e eu acho que toda a gente devia ver a fantástica sequência do voo dele com a música Angle with a shotgun dos The Cab… só uma recomendação.
Porém, o mais pormenor mais interessante acerca destas asas é o facto de cada irmão ter apenas uma asa. Para mim, isso simboliza o facto de cada um deles ser metade de um todo, mas também indica que eles apenas conseguem voar plenamente quando estão juntos. Aliás, conseguimos ver a dificuldade que Vash tem em voar com uma só asa, batendo em diversos edifícios no seu percurso.
Neste aspeto, Trigun Stampede aproxima-se muito do manga de Trigun, já que todos estes elementos estão presentes na obra original. Eu mandei um grito assim que vi o Angle Arm do Vash, aqui criado apartir do cubo de matéria infundido com o braço prostético dele. Achei este conceito novo muito curioso, e a forma como o Estúdio Orange animou tudo isto contribuiu ainda mais para eu estar a viver plenamente o meu sonho de manga reader.
Sempre fomos assim tão diferentes?
Pondo agora de lado o aparato visual fabuloso que Trigun Stampede vomitou para cima do meu ecrã, o que mexeu mesmo no fundo do meu kokoro foi a discordância ideológica entre Vash e Knives. Apesar de ser constantemente maltratado pelos humanos, Vash acredita que Plants e pessoas podem coexistir. Em oposição, Knives argumenta que os poderes que eles têm enquanto Plants independentes são algo que os humanos vêm como uma ameaça que deve ser eliminada.
O mais curioso é que o episódio esforça-se em reforçar o quão realista é visão de Knives. Quando Vash tenta salvar os guardas da cidade, eles disparam sobre ele em vez de o ouvirem. Tal como Knives afirma, tudo o que acontece contraria os ideias de Vash, mas ele é teimoso o suficiente para nunca perder a esperança. Na minha prespetiva, esta é uma das mensagens mais importantes de Trigun: mesmo que pareça impossível, nunca devemos desistir de fazer a paz, de acreditar no melhor das pessoas e ter fé que da diferença possa nascer uma riqueza benéfica para o mundo. E essa é a tarefa mais difícil… acreditar.
Um dos meus momentos favoritos deste episódio vem no seguimento deste conflito. Vash olha para o irmão com uma expressão de pura angústia e desespero. Finalmente ele chora, confrontado com o facto trágico que ele e Knives nunca poderão chegar a um acordo, nunca poderão estar novamente lado a lado.
Eu sou Vash the Stampede
Não posso acabar a análise sem antes referir o quão emotivo foi o momento em que Vash disse que era Vash the Stampede. Ok, sim todos nós sabemos que ele é Vash the Stampede, mas neste contexto, ele aceita o nome que os humanos lhe deram, que literalmente significa “fugir em debandada”. Ao reafirmar este nome, Vash aproxima-se da humanidade, vendo com carinho algo que é utilizado para o insultar, para o chamar de cobarde.
É aqui que Vash se afasta definitivamente de Knives, fazendo a escolha que ele nunca quiz fazer: ele escolhe a humanidade em vez do irmão.
Para mim, existe sempre algo de fascinante nesta atitude de Vash: nesta necessidade de proteger os humanos que lhe fazem tanto mal. Talvez o meu fascínio venha da incondicionalidade do amor que Vash tem pela humanidade. Talvez porque existe algo de perturbador em ter uma fé tão absoluta no melhor das pessoas quando o mal que elas provocam é predominante. O que é que quer que seja, deixa-me sempre, em todas as versões de Trigun, de coração cheio.
Knives é condenado à desintegração, no desespero de tentar recuperar Vash, de tentar mantê-lo a seu lado para criarem um paraíso só para eles. E mesmo que Knives seja um dos vilões mais terríveis, ele não deixa de ser o irmão de Vash, e o momento torna-se estranhamente triste, porque nós sabemos o peso que aquela perda tem para o nosso boy.
Adeus a July
Apesar de derrotar Knives, Vash manda tudo pelos ares, deixando uma cratera no lugar onde antes estava a maior cidade do planeta. Achei esta mudança interessante, já que nas outras versões da história ainda restaram ruinas da cidade. Mas não, aqui não restou mesmo nada, apenas um granda buraco.
Este é o evento que marca o fim do prólogo da história. A partir daqui começa a “verdadeira história” de Trigun como a conheçemos nas diversas versões. E sim, eu mandei um grito enorme quando disseram que a Meryl, agora a agente de seguros mais durona de sempre, ia ter uma novata para treinar chamada… Milly Thompson! Muitas pessoas não viram Stampede porque a Milly não aparecia e, mais uma vez, os haters não tinham razão. A nossa big girl favorita vai aparecer novamente, para refrescar os ares deprimentes desta história tão trágica. Bem que precisamos de comic relief…
Relativamente ao Ericks… os fãs do anime de 1998 já conhecem esta parte. Contudo, estou curiosa para ver como o Estúdio Orange vai reinterpretar este segmento mais familiar. Porém, mesmo no final do episódio, foi introduzida uma nova informação que os fãs do anime clássico desconhecem: pelos vistos, uma missão espacial vinda da Terra procura pelos sobreviventes do projeto Seeds… será esta a possível salvação para os humanos no planeta árido No Man’s Land?
Trigun Stampede: Uma reinterpretação de sucesso
Após acompanhar semanalmente os 12 episódios de Trigun, posso agora dizer que Trigun Stampede é um anime digno de ser sucessor de um grande clássico. A pesar das mudanças que desagradaram muitos fãs e da animação 3D que afastou outros tantos, este é sem dúvida um projeto do Estúdio Orange feito com uma dedicação louvável e que, para mim, reflete a essência de Trigun, e o que torna esta história tão marcante. Mesmo tropeçando um pouco em termos de pacing, Trigun Stampede elevou o universo de Trigun a algo ainda mais complexo e rico e provou que a animação 3D não tem de ser sempre o “parente pobre” da indústria de animação no Japão.
Trigun não é uma história estranha a reinvenções. E eu estou eternamente grata por poder experienciar esta narrativa de 4 maneiras distintas. A narrativa de Trigun é, por definição, uma história intemporal que nunca ficará datada, pois a obra de Yasuhiro Nightow é sobre a humanidade, é sobre todos nós. Sobre a bondade e a crueldade, sobre a fé e o perdão, sobre tudo aquilo que não é essencial mas é necessário, sobre a paz e o amor incondicional. No final de tudo, no meio de todos os nossos sofrimentos e angústias, o bem irá sempre florescer se tivermos e dermos a oportunidade de cultivar atos de bondade.
E vocês? O que acharam de Trigun Stampede Episódio 12? Comentem abaixo a vossa opinião!
Muito obrigada a todos os que acompanharam os comentários semanais. Espero-vos na segunda temporada de Trigun Stampede! Love and Peace para todos! <3
Análises
Trigun Stampede - Análise
Enviaste Trigun Stampede é a prova que há muito espaço para animação 3D e tudo o que ela pode acrescentar de bom.
Os Pros
- - Melhor animação 3D que já vi
- - Banda Sonora fabulosa
- - Expansão muito interessante do universo de Trigun
- - Segue mais fielmente o manga
- - O Knives está no seu melhor (a ser mau)
Os Contras
- - Pacing demasiado acelerado
- - Não tem a Milly