Como eu vi todo o 9º episódio de The Promised Neverland: com as mãos na cabeça e a dar constantes face palms. A minha frase para resumir o episódio é: não criei expectativas de nada e ainda assim saí desiludida.
Este não foi um dos piores episódios da temporada, mas a verdade é que foi isso que senti devido àquilo que estão a entregar. Estragaram de vez o melhor personagem do anime, resolveram problemas em cinco minutos com um talk no jutsu e fizeram-me não querer ver os restantes dois episódios.
Vi no Twitter que várias pessoas gostaram do que se passou e que estão também a gostar da temporada! Pergunto a essas pessoas: como? Quanto anime já viram na vossa vida? Não possuem as expectativas demasiado baixas?
E volto a frisar: eu não li o manga, logo não há qualquer comparação possível com material anterior. Não faz do anime melhor, infelizmente. Quem está aqui no 9º episódio, além de mim, continuam a ver porquê? Qual a vossa principal razão?
Enfim, vamos à análise?
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Yakusoku no Neverland 2ª Temporada Episódio 9 – Opinião
A Emma consegue sempre o que quer, inclusive estragar personagens
Eu sei que a Emma é a protagonista e, devido a isso, o mundo gira em volta do seu umbigo. O problema é fazer dela a voz da razão mesmo quando não a tem. Lembro-me bem na primeira temporada a ideia transmitida ser a de que as decisões eram tomadas em conjunto. De momento temos a Emma a comandar a tropa e mais ninguém tem um piu a dizer. Porque é que ninguém lhe faz frente? Porque é que ela tem a última decisão sem ninguém questionar se é a correcta e adequada? Mesmo que todos queiram uma coisa diferente perguntam-lhe sempre, “O que queres fazer Emma?” e o que decidir, está decidido.
Quem a nomeou para o cargo? Gostei tanto de como a personagem dela foi construída na primeira temporada e agora passou a ser uma das que mais me irrita e que está a estragar totalmente a história.
O pior que conseguiu fazer nesta segunda temporada foi dar cabo do melhor personagem do anime: o Norman! O último episódio cuspiu na vivência dele, nas suas convicções e valores, como se nada importasse. Sei bem que The Promised Neverland se concentra, antes de porradas estilo shounen, no debate e filosofia, só que estamos a abusar disso. A Emma não tem assim tanto o dom da palavra para mudar pessoas de um momento para o outro como se nada fosse.
Aquilo que o Norman podia ter representando foi colocado no lixo sem dó nem piedade.
A atitude dos normies também não fez muito sentido, muito menos a da Barbara. Pensem na vossa visão. Imaginem agora um assunto polémico, sei lá, a eutanásia. Vocês são a favor ou contra isto, certo? E têm os vossos porquês e valores. Imaginem que agora a vossa mãe, o vosso patrão ou o líder do partido que seguem assumem uma posição diferente da vossa e dizem que agora é assim e ponto final. Como é que reagem? Automaticamente alteram o vosso modo de pensar?
Foi isso que fizeram com eles, a Barbara passa de “os demónios são todos iguais” para “vamos dar as mãos e ser felizes”. Ela podia muito bem não matar ninguém por respeito ao Norman e continuar a achar que estava correcta. Se fosse assim tão fácil mudar pensamentos hoje estaríamos todos num mundo melhor.
O Ray perdeu a personalidade jurídica
(Para quem não entender)
A Emma virou a líder do grupo sem eleições, o Norman foi estragado e o Ray deixou de ser relevante. Podíamos retirá-lo da temporada e nada seria diferente. Um personagem tão importante na obra, que até já serviu como espião e que sem isso eles não teriam conseguido escapar (!), completamente descartado e esquecido. O Ray virou um apêndice da Emma e segue tudo o que ela diz e, tal como um belo apêndice, se estiver lá até está bem, mas se for retirado não faz falta nenhuma.
Incrível como um dos principais personagens virou um nada. Gostava mais dele quando era um emo-chan.
O demónio-velhote não presta: parte 2 e porque não podemos ser amigos de demónios
Como é que as pessoas continuam a achar este velhote fofo? Fofo em quê? Admitir que faz merda com que “não concorda” e está tudo bem? Alguém se esqueceu que ele comeu um humano que poderia ser supostamente o Minerva ou algum aliado dele? Ele não tem necessidade de comer carne humana e mesmo assim continuou a fazê-lo por cerca de 700 anos, por puro egoísmo. O Vylk, nome dele, tem apenas interesse em manter a sua família e os seus, como é que as “vítimas” têm compaixão por ele? Quem o defende parece as mulheres que escrevem cartas de amor a criminosos condenados por assassinar ou violar, vejam lá, mulheres. Vocês são esse tipo de pessoa? Porque o defendem?
É tal e qual dizermos que gostamos de animais e depois vamos comer um belo de um cozido à portuguesa. Admitamos: quem faz isso é hipócrita e incluo-me nesse saco. Nós não gostamos de animais, gostamos de CERTOS animais, os que achamos fofinhos, cool e sei lá mais o quê. O demónio idoso é a mesma coisa. Se ele tivesse um humano em casa como um cãozinho era capaz de não o comer porque gostava dele, mas a seguir apanhava um Minerva perdido algures na floresta e fazia uma feijoada. E é por isso que o plano da Emma, uma vez mais e como já estou cansada de escrever, não pode funcionar a não ser neste conto de fadas.
Tal como o Vylk existirão outros demónios que receberão o “sangue sagrado” e continuarão a alimentar-se de carne humana, simplesmente porque sim e porque podem. Porque é que iriam deixar de comer humanos? É errado? Apenas do nosso ponto de vista! Para eles, mesmo deixando de ser um caso de mera sobrevivência, não existe motivo para se proibirem de comer algo que gostam, ainda por cima quando o seu mundo gira em torno do consumo de criancinhas. O que vocês vão fazer com todos os demónios que vão ficar desempregados? Não têm pena deles? Deixem-nos continuar a vender xixa humana na feira.
Outro ponto que me irritou neste demónio já em estado zombie foi quando disse se ter apercebido que os humanos também tinham desejos e motivos para viverem, até além da sua própria vida. Vejamos: os demónios são espécies cujo corpo se adapta ao animal que comem. Se comessem pombos andariam agora a voar para as casas dos humanos e a cagar-lhes na varanda. Eles apenas são racionais porque comem humanos, porque obtêm essas características destes. Então eu pergunto: como é que ele, que já sabia muito bem como as coisas funcionavam, tem o desplante de afirmar que NÃO SABIA que os humanos também tinham – como os demónios – desejos, valores, crenças e etc se eles apenas são assim porque comem humanos? É para rir? Este personagem é só ridículo.
Neste episódio tive também a confirmação de que o Vylk vive há pelo menos 700 anos, ou seja, o sangue da Mujika faz com que eles vivam o mesmo tempo que ela: centenas de anos ou até milhares, não sabemos. Já falei disto noutras opiniões então não me vou voltar a alongar, mas se cada um dos demónios viver pelo menos 700 Primaveras, como será daqui a uns tempos quando não existir planeta suficiente para tanto ser “imortal”? Parece que ninguém quer saber disto, a Emma do futuro que lide com isso.
Coincidências atrás de coincidências
Este episódio podia muito bem chamar-se Coincidências no Neverland que ninguém ficaria chocado.
Existe tanta necessidade de terminar a história à força toda nos próximos dois episódios (sim, dois!), que agora existe um problema e aparece a solução caída do céu nos próximos minutos. Enquanto que na primeira temporada vibrávamos com as conquistas dos personagens, porque realmente eram merecidas e havia um real esforço para chegar até lá, aqui é tudo muito perfeitinho ao ponto de conquistarem batalhas que ainda nem sequer haviam travado.
Isto tudo adveio daquela peça pertencente à caneta do Minerva (e por isso afirmar que o humano que o Vylk comeu era o Minerva ou algum seguidor dele), do demónio velhote ser aquele que estava na sua posse, das novas informações e também do plano da Isabella (que finalmente deu de caras).
O anime estava num impasse: ora bem, temos o Norman e os capangas a morrer, a Isabella vai, supostamente, enviar para o talho o resto das crianças e a entrada para o mundo humano é da quinta de onde fugiram – que também é onde as outras crianças se encontram – como vamos resolver isto, já que Grace Field é conhecido pela sua alta segurança?
Espetem com uma peça qualquer da tal caneta, que o demónio que a EMMA DECIDIU não matar carregava há já 15 anos, e coloquem lá todas as informações necessárias para resolver os problemas de uma só vez! Norman está a morrer? Toma lá a cura! A Isabella vai enviar os miúdos para o matadouro e não sabemos como evitar isso? A caneta tem um mapa detalhado com tudo o que precisamos saber, incluindo posições de guardas e etc. Isto é como estarmos em Alice in Borderland, em que podemos só escolher uma porta para sobrevivermos e de repente alguém tira uma chave, do sítio onde o sol não brilha, e termina o jogo. Que divertido.
Ainda assim, há uma coisa que me fez confusão.
Como podemos achar fiável uma informação com mais de 15 anos?
Vejamos: há mais de um ano que crianças de alto gabarito fugiram de uma das quintas. Não sei há quanto tempo, mas digamos uns meses, que o Norman e os outros colocaram uma bomba na Lambda e fugiram também, e nós vamos confiar que informações sobre Grace Field de há pelo menos 15 anos (porque o homem já podia andar com aquilo há bem mais tempo) estejam correctas. Porque quando presos conseguem fugir de uma prisão é porque a segurança está boa e portanto vamos mantê-la tal e qual, correcto?
Depois é a situação do Norman e dos outros. Claro que não quero que o moço morra, mas algo está muito errado nesta história. Primeiro, o facto de eles terem de mão beijada a cura para o seu problema sem nem sequer andarem a tentar resolvê-lo (devem tê-lo feito antes mas não vimos então não conta) e já se terem redimido à situação. Segundo que afinal existe uma cura para os efeitos secundários que os testes causam mas nunca decidiram utilizá-la nas cobaias das quintas, sendo melhor deixá-los a morrer em vez de se aproveitarem deles durante mais tempo (eles inclusive. Para quê matar o primeiro génio da quinta?).
Terceiro, como podemos confiar que a medicação se pode aplicar aos efeitos que eles possuem agora? Passaram pelo menos 15 anos, o que eles vêem ali pode muito bem ser ainda mais antiga e a cura nem sequer funcionar. Nesse período não existiu qualquer tipo de evolução nos métodos, na tecnologia, nada?
Estas informações deveriam ser apenas pistas e ajudas para os fazer chegar a algum lado e não soluções definitivas! Não é assim que funciona.
Não Norman, não conseguimos a informação por causa da Emma
O Norman além de ter sido estragado e não haver mais volta a dar na personagem dele, ainda me diz barbaridades como: não fosse a bondade da Emma e eles não conseguiam ter acesso àquela informação. Não Norman, não é assim que funciona. Queres brincar ao joguinho dos “ses”? Então vamos lá.
Se o Vylk não tivesse comido o humano (que poderia ser o Minerva ou aliado), se cuidasse dele e o ajudasse a sobreviver, não teria ele dado aquela peça aos miúdos? Não poderiam eles ter fugido mais cedo? Não poderiam já ter sido evitadas mais mortes? E se o Norman tivesse morto o velhote e depois o revistassem e encontrassem a peça? E se ele perdesse aquilo na floresta e eles encontrassem enquanto andavam a brincar aos pescadores? Se é para brincarmos podemos inventar qualquer cenário, não foi por causa da Emma porra nenhuma!
Aliás, se formos a ver só pelo que o anime nos mostrou, eles apenas tiveram acesso àquela peça porque o Norman decidiu iniciar um genocídio que levou àquele momento! Sem esta ação do Norman, nem existiria nada por essa ordem de ideias. Por isso não, a Emma não foi crucial em nada.
A Isabella agora virou GILF
Pronto e não haverá muito que dizer da Isabella de novo. Ela foi promovida à posição de Avó, mesmo que antes tenha levado sermão e precisasse de trabalhar para provar que merecia viver, não soubemos como isso aconteceu e, caso a informação seja dada no episódio 10 será despejada em 10 segundos, e fez uma parceria com o Peter Ratri que afinal não morreu só porque sim (porque coisa ruim não morre com uma bombinha).
Percebemos que foi realizada uma parceria entre os dois para trazer as crianças de volta. A Isabella por um motivo e o Peter Ratri por outro, então não sei até que ponto realmente existe uma “colaboração honesta” entre estes. Cheira-me que no final a Isabella irá espetar-lhe uma faca nas costas e ajudar os miúdos a fugir – até porque se a obra está a chegar a um fim e vai neste maravilhoso caminho, só pode ser essa a resolução.
Temos um traidor para ser derrotado já no próximo episódio
Estamos a dois episódios do fim do anime, qual o sentido de colocar um novo traidor neste momento? Para ser igualmente resolvido em cinco minutos com o Talk no Justu da Emma? Se isto fosse a meio da temporada, até que seria giro porque traições são sempre interessantes, mas com tudo aquilo que falta para solucionar nos restantes episódios, faz mesmo falta colocar outro obstáculo que será porcamente resolvido e sem nenhum peso para a plot? Não. Mas enfim, piorar não pode, certo?
Pensamentos Finais:
- Como não vi logo que o Vincent era um traidor ali no meio? Ele estava tão nervoso que se esqueceu como se senta normalmente. Afinal está de costas ou de lado? Digam as vossas apostas
- Isto de andar com uma peça durante 15 anos é mesmo coisas de velhos. Se o mundo precisasse de mim para ser salvo, bem que podíamos todos dizer adeus
- E este Attack no Neverland? Alguém faça um Titan da Mujika, bem mais eficiente
- A abordagem do uso de drogas para desenvolver os cérebros humanos é um paralelismo óbvio da indústria da carne e da utilização do mesmo procedimento para fazer o “produto” desenvolver-se mais rapidamente
- Porque é que alguns demónios parecem “demónios” e os normais, lá da aldeia, têm a forma mais humanizada possível? Será porque quanto mais carne de qualidade eles comem menos humanos parecem ou será só para termos peninha dos que vivem na aldeia?
O que acharam deste episódio? Estão ansiosos pelo final da temporada? Eu estou, não posso ver mais este desastre.
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