Quando Yoru no Yatterman estreou em 2015, levantei aqui várias dúvidas sobre o rumo que a série iria tomar, tendo em conta a diferença de conteúdos entre o primeiro e o segundo episódio. Anos depois, decidi rever esses mesmos capítulos e dar-lhes continuidade, com vista a poder elaborar esta análise.
Contudo, antes de arrancar com a avaliação propriamente dita, importa referir que nunca vi as produções Yatterman anteriores que, pelo que consegui apurar, eram mais direccionadas para o público mais pequeno. Não se tratando Yoru no Yatterman de uma sequela ou remake, esta ressalva é importante na medida em que o público integrado com a franquia pode olhar de forma completamente diferente para este projecto, em relação aos que só agora aterraram neste universo.
Uma aposta na diversão!
Qual o caminho escolhido? Esta foi a grande dúvida que coloquei na minha introdução à série. Com um episódio de estreia muito sério, e um muito cómico logo de seguida, como seriam o terceiro e seguintes? Pois bem, ainda que neles marquem presença alguns momentos sérios e/ou sentimentais, a aposta foi claramente na diversão que, a meu ver, não encaixou com o dilema heróico e de salvação dos Doronbow e seus aliados contra o Reino opressor Yatterman.
Em qualquer obra, a primeira impressão é muito importante, por vários motivos. Um deles é a capacidade de agarrar o espectador à trama, muitas vezes de forma definitiva! Mas é mais do que isso! Por ser a primeira, é difícil de apagar, ainda para mais em séries tão curtas. Ora, se os minutos de estreia de Yoru no Yatterman tivessem um teor mais leviano e menos dramático, talvez fosse mais fácil entrar no espírito que assolou cerca de 90% da produção. Seria um caso sem uma outra perspectiva e, portanto, sem algo mais a ter em conta. Porém, devido a esta indecisão e ao facto da comédia não ser assim tão boa, o anime torna-se bastante aborrecido durante grande parte da transmissão. A recta final, devido a algumas surpresas no enredo, acaba por ser a excepção, por boas razões!
Na verdade, a aposta na comédia torna-se bem evidente com a falta de progressão das personagens, à excepção de uma delas: Galina. Mas há mais! Esta despreocupação com o enredo é reforçada pela existência de aventuras isoladas em pelo menos metade dos episódios. Se juntar isto à dificuldade que a vertente cómica tem em passar para este lado do ecrã, salvo seja para os espectadores mais novos, torna-se óbvio que a qualidade da série está desde logo comprometida.
Arte e Animação
Quando aqui partilhei as minhas primeiras impressões a Yoru no Yatterman, salientei as boas indicações provenientes destes parâmetros da produção, que agora venho reforçar, sem muito ter a acrescentar. Agradado, mas não babado com o que vi no ecrã, o traço fino que detalha as personagens, e até os ambientes, conjuga bem com as animações fluídas utilizadas em grande parte dos momentos. A completar, destaque para um jogo de cores também ele muito interessante.
Abertura, Encerramento e Banda Sonora
A par da arte e da animação, também a parte musical se manteve constante desde o episódio de estreia de Yoru no Yatterman. Quer isto dizer que nunca se concretizou o desejo de uma música capaz de fazer a diferença na banda sonora da série. Nem para melhorar a qualidade da trama, nem para a piorar.
Por outro lado, a música de abertura de Yoru no Yatterman: “Kyokugen Dreamer“, dos SCREEN mode, foi entrando no ouvido, aos poucos e poucos, e parece-me adequado salientar que o seu reaproveitamento no derradeiro episódio – que resultou numa sintonia perfeita com os acontecimentos exibidos em paralelo – merece um grande elogio.
Relativamente ao ending (“Jounetsu CONTINUE“, das Sphere), como referi logo após o arranque da série, fica-se pelo razoável.
Conclusão
Resumindo, Yoru no Yatterman acaba por ser uma tentativa falhada de atrair e convencer qualquer tipo de público. Especialmente o espectador mais velho que pela primeira vez estabeleceu contacto com esta franquia. Em relação aos mais novos, talvez possam achar piada a algumas das peripécias e encarar este anime com outros olhos. No que diz respeito àqueles que noutros tempos acompanharam a série Yatterman, talvez consigam encontrar aqui alguns pontos de interesse, quiçá toldados pelo sentimento de nostalgia que os invade. Mas, mesmo nesses casos, tenho dúvidas que lhes desperte tanta atenção assim.
Em suma, qualquer que tenha sido o objectivo da Tatsunoko Productions, ele falhou! Ou, no melhor dos cenários, ficou longe de ser cumprido com o mínimo de satisfação, muito por culpa da aposta no enredo. Como é normal nestes casos, por muito boa que seja a arte, a animação ou a banda sonora – que até são positivas durante grande parte do tempo, mas longe de qualquer tipo de brilhantismo – a produção fica logo impedida de se afirmar devido aos acontecimentos enfadonhos com que presenteia o espectador.
Como referi em cima, o epílogo acaba por atordoar um pouco o aborrecimento, mas tenho dúvidas que a grande maioria resista aos acontecimentos prévios e chegue aos episódios finais. Assim, sou forçado a concluir que Yoru no Yatterman está longe de ser tempo bem despendido, em particular para aqueles que nunca tiveram qualquer ligação com a franquia.
Yoru no Yatterman – Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=5jRjlOy10KE
Análises
Yoru no Yatterman
Com a hipótese de escolher entre um enredo sério e um cómico, Yoru no Yatterman apostou na diversão, o que originou maus resultados.
Os Pros
- A reviravolta final na história
Os Contras
- A aposta na vertente cómica da história condicionou negativamente a qualidade do enredo criado