Sim senhor, estamos novamente naquele que muitos apelidam do “dia mais romântico do ano”, ou para os mais cínicos – ou talvez realistas – o “segundo dia mais dispendioso do ano”, esquecendo, ou desconhecendo, a origem sangrenta que o dia de S. Valentim acarreta.
Mas, hey, não decidi escrever este artigo para rebentar qualquer balão cor-de-rosa, ou derramar vinho na vossa toalha de linho branca de jantar romântico, não. Não vou também falar de anime violentos com massacres que se aproximem mais do simbolismo inicial do dia em questão, apelidando a lista de “5 anime que estão para o romance, como Die Hard está para o Natal”, não.
O que tenciono com estas cinco recomendações anime, é falar de produções que eu pessoalmente gosto e que ou são primariamente de romance, ou contêm fortes elementos românticos, tentando ainda que algumas delas fujam às formulas já conhecidas, e daí alargar a sua longevidade para além deste dia tão carmim. Pensem em como vários dos melhores filmes românticos que existem, são aqueles que não se escondem das partes menos boas e dolorosas de amar, e neste sentido, vou tentar recomendar um cadinho de várias coisas.
Disclaimer: Estou longe de ser um conhecedor do género romântico, quer em manga, quer em anime, e muitos dos essenciais e clássicos do meio estão na watchlist há muito tempo, e sei bem que vou gostar deles, mas, como tal, eles não se encontrarão aqui. Casos como os de: “Wotakoi”, “Kaguya-sama wa Kokurasetai”, “Hachimitsu to Clover”, “Kimi ni Todoke”, “Ao Haru Ride”, entre tantos outros.
5 Anime com Romance para o S. Valentim e mais além
♡ Toradora!
Ano: 2008
Episódios: 25
Toradora é a recomendação mais convencional que farei neste artigo, talvez não pelos motivos que estejas a pensar, mas sobretudo porque de todos os anime de romance (puro) que vi, este ainda se destaca como o meu favorito – já o revi umas duas vezes.
Para não descarrilar a minha própria recomendação, vou já tocar no tema que está na mente de todos os que já ouviram falar da obra e até daqueles que viram e não gostam por causa dele: a Taiga Aisaka, a nossa coprotagonista e tsundere de serviço. Sim, a Taiga irrompe pelo campo de batalha com o estandarte tsundere bem alto, e a sua personalidade de miúda irritante e mimada vai incomodar. A mim, foi-me passando conforme a vamos conhecendo melhor, mas entendo que isso seja um efeito que nunca seja ultrapassado pela maioria dos espetadores.
Contudo, assinalo, que embora ela seja a “cara” da franquia, o Tora do título não deve ser o vosso foco primordial, mas sim o Dora, ou seja o Ryuuji. O nosso outro coprotagonista é a melhor companhia que podíamos ter para uma obra de drama juvenil, em que tudo parece uma calamidade romântica de proporções cósmicas. Há uma genuína profundidade e cuidado na forma como o Ryuuji foi escrito, algo que se torna aparente se realmente olharmos para ele e menos para a “tigre de meio palmo”. E se o nosso ” doce dragão” é o centro, o que o rodeia é um elenco secundário de luxo com personalidades distintas, os seus próprios sentimentos, arcs pessoais, e momentos incríveis.
Talvez seja a minha veia nostálgica por uma bom teenage drama, mas Toradora enche-me todas as medidas, sobretudo pela forma como jogou com a minha percepção de cada personagem aquando da primeira vez que vi o anime. Nem tudo é o que parece…
♡ BEASTARS
Ano: 2019
Episódios: 24 (3ª temporada a caminho)
Passamos do meu anime de puro romance favorito, para um dos meus manga favoritos de sempre e que tem uma adaptação anime perfeita e super interessante do ponto de vista da execução. Há muito que quero fazer um artigo sobre BEASTARS e a forma como a Paru Itagaki-sensei, através dos seus animais antropomorfizados, concebeu um mundo repleto de camadas e camadas, capaz de fazer inveja ao Shrek – if you know, you know. Embora este não seja esse artigo, toda a oportunidade que eu tenha para recomendar BEASTARS eu vou aproveitar.
Longe de ser uma narrativa de digestão fácil, e que lida com temas adultos, temas animais, e a “metaforização” de uns nos outros, no fundo o que temos é a jornada de autodescobrimento e amadurecimento do nosso Legoshi. Pensem assim, em vez de virem o seu “salivar por sangue” e os seus instintos predatórios como o seu lado lupus, afastem o véu e vejam isso como um adolescente a lidar com as mudanças no seu corpo e mente e tudo ficará mais claro, a começar pela forma complicada e intensa como ele tenta entender como e o que sente verdadeiramente por Haru.
A jornada do Legoshi tem muitos altos e baixos e muitas curvas que parecem desviá-lo do ponto central que é o seu romance com Haru, mas não só essa questão permanece pertinente ao longo de toda a obra, como outras situações à volta do casal servem como espelho de comparação à sua situação, e algumas das minhas favoritas estão ligadas ao passado do nosso Legoshi.
Deem uma oportunidade, e se a questão de serem animais é um turn off, tenho mesmo pena, porque há tanto codificado nessa escolha artística…
♡ Bakemonogatari
Ano: 2009
Episódios: 15
E falando em narrativas de ingestão difícil, vamos para uma das mais difíceis de todas? ‘Bora.
Ora, Bakemonogatari, por onde começar… O NisiOisin é um escritor nipónico de habilidades singulares, que joga com a língua japonesa de tal maneira virtuosa, que até os comuns leitores nipónicos “passam as passas do Algarve” para extrair todo o sumo das suas criações. Abençoado todo o tradutor que foi “batalhar” com as obras do mestre e as entregou nas mais diversas línguas, para que todos possamos penar à escala global.
Se ler é o que é, então transferir para outros meios pior ainda. Vai que Akiyuki Simbo e o estúdio SHAFT devem ter uma costela de NisiOisin, porque agarraram esse desafio e nunca mais olharam para trás, sendo responsáveis pelas maravilhosas adaptações da Monogatari Series a que temos acesso. Bakemonogatari foi a primeira das adaptações e, tal como o Ararararararagi ficou arrebatado pelo head tilt da Senjougahara, também eu fiquei arrebatado por este universo e pelas suas interessantes, complexas, engraçadas e caleidoscópicas personagens.
Mas perguntam vocês e bem: No meio disto tudo, o romance está onde? Bom, Bakemonogatari apresenta uma variação bem moderna e manipulada de lendas do folclore japonês, associadas a animais/monstros míticos, que se veem representados por avatares que são as várias meninas da obra. Para mim, onde o romance mais brilha no anime é logo na primeira história, com a rapariga sem peso, Senjougahara Hitagi.
Até hoje, nunca esqueci o date que ela tem com o nosso protagonista, a nossa personagem POV, Araragi Koyomi. Num anime repleto de bizarria, cores, palavras na tela, e mistério, uma das cenas mais cativantes e brilhantemente executadas, é aquela que à partida pareceria ser a mais corriqueira. Experimentem!
♡ NANA
Ano: 2006
Episódios: 47
Saltamos agora da estranheza de um mundo para o abismo que é a existência humana. NANA é a ode da incrível mangaka Ai Yazawa e, desde que vi o anime e li o manga (o que dele existe até agora…), se tornou uma das obras no meu TOP 5.
Não é uma recomendação fácil não porque seja difícil de entender, mas sobretudo porque o que se retira deste retrato da vida depende muito do ponto em que nos encontramos na nossa própria existência. Se o tivesse visto mais jovem, não digo que não adorasse na mesma, mas a nossa perspectiva e experiência ajuda a que entendamos melhor que o que está acontecer na obra é mais do que drama de adultos à procura de dar os primeiros passos da independência, à procura do seu lugar no mundo, e até a lidar com relações interpessoais.
O que as duas Nana e o restante elenco exibem é a exposição da alma crua e nua de alguém que desesperadamente se quer conhecer, encontrar e singrar. Ajuda o facto de ser um dos melhores anime do ponto de vista musical, e como essa música simultaneamente bebe da e alimenta a narrativa.
O romance está por todo o lado, mas muito poucas vezes é simples e bonito, como tantas obras nos mostram. Em NANA vemos pessoas, sim pessoas, a confrontar-se com a realidade de que o amor toma muitas formas e, algumas delas, são nefastas e tudo o que não precisamos, mas apenas achamos que sim. É maravilhoso e uma dádiva artística que um dia, espero, poder ver o sim derradeiro final.
♡ Bakuman.
Ano: 2010
Episódios: 75
Para terminar, vamos manter a qualidade, mas aliviar a tensão e colocar um sorriso no rosto. BAKUMAN. é “a obra” de Tsugumi Ohba e Takeshi Obata.
Entendo que Death Note seja para muitos o ponto alto destes dois mestres, e é um colosso de tamanho impacto e influência, que nunca vou discordar com quem me disser que é a sua obra favorita. Contudo, em termos de nuance, introspeção e sensibilidade, BAKUMAN. bate qualquer outra obra dos autores aos pontos e, não fosse a temática central ser tão nicho para tantos fãs anime/manga, sejam os mais experientes, ou casuais, ou iniciantes, e estaria mais que firmemente marcada como uma obra pilar de toda a indústria.
Em vários artigos, conversas e podcasts falei como adoro obras que mostrem o “levantar do véu” de algo, o “como a salsicha é feita”. BAKUMAN. faz isso com manga, e um pouco com anime, e portanto agarrou-me logo por aí. Agora, convém lembrar que uma das premissas nucleares da obra está assente num voto de amor.
Ao início o voto entre Moritaka Mashiro e Miho Azuki parece a mais banal trope para despoletar a “jornada do herói”. Parece imotivada e “porque tem que ser”. Contudo, com o avançar da obra, camadas e camadas vêm ao de cima, jogando com as nossas expectativas. E, mesmo com isto, o triunfo do romance em BAKUMAN. vai acontecendo nas entrelinhas destes dois pombinhos. Até hoje, o romance orgânico que se constrói e cimenta entre o Akito Takagi e a Kaya Miyoshi é das coisinhas mais enternecedoras que já vi e surge numa obra onde o romance parece ser apenas um pavio para outras explosões.
BAKUMAN. consegue tudo minha gente. Triunfa na forma como retrata o sacrifício e paixão que envolve a criação de um manga; triunfa na forma como nos ensina que o legado e os mestres que nos precedem são a maior força impulsionadora para a criação; e triunfa em, no meio de tudo isto, nos mostrar como, mesmo que o nosso foco seja só no nosso objetivo pessoal, a vida nos rodeia de verdadeiras amizades, com direito a rivalidade e discussões, e nos rodeia de paixão que vai além da tinta nas páginas.