Yubisaki to Renren, mais conhecido pelo seu nome inglês: A Sign of Affection, trata-se de um manga de demografia shoujo, publicado na popular revista Dessert, da autora Suu Morishita.
Muito se tem falado desta obra nas redes sociais pelo mundo fora. Logo após o anúncio do anime, muito foi o hype manifestado pelos amantes do manga e que acabaram por contaminar quem nada sabia sobre este.
Estamos numa era em que bons romances são pesquisados e procurados – até que enfim! -, tendo os shounens de romance ocupado o pódio, neste momento. Felizmente, após o mais recente sucesso do shoujo Yamada-kun to Lv999 no Koi wo Suru, quero acreditar que o público mais mainstream está progressivamente a olhar com outros olhos para a demografia shoujo (sem meter na caixinha de que é só para jovens raparigas).
Mas será A Sign of Affection assim tão bom? Porquê todo este hype? Por ser mais um anime de romance com visual bonito? O que tem A Sign of Affection de tão especial?
A Sign of Affection merece tanto hype?
Várias foram as dúvidas dos céticos da internet. E muito bem, há que questionar o hype… Afinal se fosse só pelo plot de menina surda x rapaz ouvinte tinhamos a GRANDE obra A Silent Voice (recomendação máxima!), que possui também ela uma adaptação anime.
Mas não. Não é só por causa da sinopse, não é só por explorar as dificuldades e desafios de se ser deficiente auditivo. Não é só isso…
Yubisaki to Renren, ou A Sign of Affection, trata-se de um romance que acompanha a história de dois estudantes universitários: Yuki Itose e Itsuomi Nagi.
O que poderia ser um romance normal entre dois jovens com amigos em comuns – semelhante a tantos outros, e sem por isso perder valor – adiciona uma característica determinante: Yuki é deficiente auditiva.
Incapaz de ouvir, esforça-se por viver num mundo que nem sempre está preparado para pessoas com algum tipo de deficiência. Ainda assim, pouco ou nada a difere dos demais estudantes. Um dia, no metro, cruza-se com um colega de faculdade, que suscita a sua curiosidade por falar bem inglês e possuir uma aparência mais exótica. Mais tarde, Rin Fujishiro, a sua melhor amiga e colega de faculdade, apresenta-lhe esse mesmo rapaz: Itsuomi, um poligolota e colega de faculdade de ambas, com muita experiência no estrangeiro.
Ao contrário da maioria das pessoas que interage pela primeira vez com Rin, Itsuomi não encarou a surdez da jovem como uma barreira de comunicação – para ele, é apenas “mais uma língua para aprender”. Essa liberdade de pensamento, todas as partilhas de histórias e o à-vontade dele, levaram a um interesse crescente de Rin por Itsuomi. E assim começa uma aprendizagem constante entre dois jovens, a entrar no mundo dos adultos, ao mesmo tempo que procuram o equilíbrio entre as suas personalidades, limitações, desejos e ambições.
Suu Morishita-sensei é incrível!
Conheci este manga aquando o seu lançamento, em 2019. Encontrar shoujo bom disponível na internet – licenciamentos é algo demasiado demorado se quiser estar a par do que vai saindo no Japão – é uma façanha, normalmente pesquiso por autoras. Foi a vez de pesquisar por Suu Morishita, a autora de um dos meus shoujos preferidos: Hibi Chouchou. Qual a minha surpresa quando descubro que ela encontrava-se a publicar este manga (que já me tinha cruzado com ele!).
Tal como Hibi Chouchou, a doçura estava lá. O design fofo e delicado das protagonistas; o design atraente nível GOD dos personagens masculinos; os cenários pormenorizados e os painéis divertidos repletos de formas geométricas coincidentes com a emoção que as personagens estão a sentir.
E o sentir, aqui, é muito importante.
Uma das coisas que mais me atrai nas obras desta autora é o sentimento que transmite; e as emoções que ela provoca ao leitor – tudo isto numa história light-hearted, leve e bem-disposta.
Há obras para todos os gostos, mas será que há obras para todos os moods?
Sendo eu uma moody person (muito afetada pelo dia-a-dia ao ponto em que aquilo que consumo varia consoante aquilo que preciso para regular a minha disposição/ansiedade/stress), as obras de Suu são aquilo a que chamo de uma bálsamo para a alma com quantidades QB dos ingredientes de shoujo.
Passo a explicar.
Porque gosto tanto de A Sign of Affection
Quando embrenhamos no mundo de shoujo romântico há algumas tropes que nos vamos cruzar inevitavelmente:
- triângulos (ou polígonos) amorosos, dramas familiares em um ou ambos os protagonistas,
- algum drama/plot twist que surge por volta do 4/5 volume para dificultar a vida dos protagonistas que até à altura estavam a construir a relação “perfeita”;
- e, dependendo da idade dos mesmos e se o manga continua após o secundário, a introdução à idade adulta e voltamos a enfrentar mais um triângulo amoroso e desafios no trabalho até tudo ficar bem, casados e com filhos.
Claro que há exceções. Claro que ADORO shoujo. Claro que, tal como todas as histórias sobre pessoas e as suas vidas, há conceitos que se repetem, afinal estão a se basear na vida do ser humano comum, não é verdade? Não somos assim tão originais no dia-a-dia.
Mas então o que A Sign of Affection tem de diferente?
- Primeiro, nesta história os protagonistas encontram-se na faculdade! São mais velhos e com uma dinâmica que nada tem haver com o secundário.
- Segundo, apesar de também ter os seus polígonos amorosos eles são tratados com lógica, respeito, sem histerismos e com base no diálogo. Poupando-nos a frustração de vermos mal entendidos se prolongarem por um volume de manga.
- Terceiro, o banho de doçura é em quantidades diabéticas. É que a Yuki é tão mas tão querida e fofa (arquétipo de kawaii) e a interação das personagens é tão good feeling que é impossível não terminar os capítulos com um sorriso nos lábios.
- Quarto, não sei se é por serem mais velhos (personagens com 19+) mas o pacing é super acelerado em tudo (sobretudo no romance wink wink). Muito até ocidental. Claro que é justificado por ele ter vivido muito tempo fora do Japão e a viajar pelo mundo fora. De qualquer das formas, não é um pacing de típico shoujo.
- Em suma, não é um típico shoujo escolar de romance.
Um manga para todos
É impossível não gostar de A Sign of Affection. Simplesmente não acho possível. Em shoujo, há muito a desculpa de “ser mais para raparigas”, o pacing ser lento, as tropes serem demasiado repetitivas, o drama ser demasiado rebuscado ou até ser pouco relacionável. Mas nada disso acontece nesta obra.
A Sign of Affection difere muito dos típicos shoujos escolares – tão conhecidos pelo público – e, apesar de ser de romance, é bastante relacionável e trata as emoções, a construção das relações e a ligação entre pessoas diferentes de uma forma orgânica, real.
Ler A Sign of Affection é como ler um slice of life onde acompanhamos o dia a dia de Yuki, com as suas limitações, dificuldades. Conhecemos um pouco do mundo de quem não consegue ouvir e vemos a leve – e não tão discreta assim – discriminação por parte da sociedade que esta enfrenta.
O que esperar da adaptação Anime de A Sign of Affection?
Será o romance do ano.
Tão simples quanto isso. Dúvido que façam asneira com esta obra (apesar de não ter gostado do quão Yuki parece pequena ao lado do Itsuomi), afinal estamos a falar de uma obra muito popular e vencedora de prémios. Além disso, o género de romance encontra-se cada vez mais popular pela generalidade do público pelo que, será natural uma aposta aprimorada em animação, guião e estrutura.
Pelo menos assim espero.
Se o anime não for bom, não fiquem tristes: o manga é um must read!