NOTA: *Spoilers para Black Lagoon*
Uma das minhas animes preferidas de todos os tempos é Black Lagoon. Eu sinto que ninguém lhe dá o devido valor e por isso vou explicar-vos uma das facetas que torna a série super interessante. Qual é a coisa mais popular em Black Lagoon? A Revy. Ela é que aparece em todas as capas, ela é a que vende mais merchandise, ela é o maior atrativo da série e o elemento de que toda a gente se lembra.
Deixem-me só falar da Revy aqui durante um bocado…
A minha pergunta é “Porquê?” e a vossa resposta provavelmente será “Porque ela é uma Badass!” e vocês têm razão. A Revy não só é uma badass, como também pertence aquela lista de mulheres badass clássicas em anime, que incluem, entre outras, nomes como a Major Kusanagi, a Leona Ozaki, a Faye Valentine e a Rika Nonaka.
Ela anda aos tiros, ela bebe, ela diz asneiras e ela mata indiscriminadamente. Isto é tudo verdade. No entanto, a Revy não é uma badass típica porque Black Lagoon não é uma anime de ação típica. A preocupação principal de BL não são as explosões ou os tiros ou as asneiras, mas sim uma análise de como o ambiente que as personagens habitam as afeta e muda. Apesar de não termos muitos detalhes, a implicação que a série faz é que a Revy não teve uma infância fácil, começando a matar desde muito nova. Isto empurra-a para ser a assassina psicopática que conhecemos na série. Esta escolha com a backstory dela estabelece imediatamente uma coisa: ser uma badass não é uma experiência divertida. Se alguém é incrivelmente bom a matar outras pessoas, deve haver uma razão horrível no seu passado para isso ter acontecido.
A série esforça-se, sempre que pode, para estabelecer a ideia de que ser um badass implica ser má pessoa. Na minha opinião, a cena que solidifica isto acontece no episódio em que o Rock e a Revy têm que invadir um submarino nazi afundado e a Revy começa imediatamente a assaltar os cadáveres. O Rock protesta e a Revy faz-lhe um discurso que se resume a “Bem, de que é que estavas à espera?”. Ser badass, não é aparecer à última da hora com um ataque espectacular, uma pose estilosa e uma expressão serena. É rastejar entre o pior da humanidade para tentar sobreviver. É lutar para ser o rei da montanha de estrume.
Mas o prego no caixão relativamente à badassness da Revy, vem com a relação entre ela e o Rock. Durante a série, a Revy demonstra interesse numa relação romântica com o Rock. Por muito que ela o contrarie, a Revy quer uma vida normal. No início da arc no Japão, que termina a segunda temporada, ela brinca aos tiros com uns miúdos num parque. É uma cena curta e pouco importante no contexto da história mas diz imenso sobre a Revy. Ela quer essa vida doméstica, ela quer poder relaxar e brincar um bocado.
No entanto, no fim da arc, é-lhe reafirmado o facto de que ela já está demasiado afundada no seu mundo e que a única coisa que pode fazer é impedir outros de serem arrastados para lá, como exemplificado pela cena em que ela reencontra os miúdos e dispara uma arma a sério para os dissuadir da ideia de que “armas são fixes”.
Como é que isto se relaciona com o Rock? Para a Revy, o Rock é uma bóia de salvamento. Ele é o “Senhor Normalidade”, visto que vem de um trabalho aborrecido como um homem de negócios genérico de uma multinacional japonesa. Mesmo que ela não o admita, ela quer acreditar que um dia o Rock a vai levar para longe de Roanapur para viver uma vida normal com ele. O que ela só percebe no Roberta’s Blood Trail (e só depois da Eda lhe explicar) é que o mundo criminoso não deixa ninguém intocado e o Rock está a tornar-se cada vez menos ético e disposto a lixar todos os outros para seu próprio benefício.
A Revy é o que aconteceria se existisse uma badass na vida real. Ela anda aos tiros e diz asneiras porque está totalmente quebrada por dentro.
A vida é assim, meninos. Aquela personagem que achavam super fixe? Afinal é uma paródia desfigurada daquilo que achavam que ela era. Para a semana, venho aqui arruinar truques de magia e o Pai Natal.