Esta animação foi lançada em 2001. Poucos anos depois do manga se ter iniciado. A obra original (manga) teve início em 1997 e terminou em 2008. Conclui-se assim facilmente que a adaptação de Hellsing foi brutalmente precoce. Por volta do episódio 5, a equipa responsável pelo anime (Estúdios Gonzo) teve que criar uma história completamente nova e fora do conteúdo original.
Este é o tipo de situação que deixa os argumentistas com bastante liberdade. Que lhes permite desenvolver uma narrativa sem restrições, pois não se vêem obrigados a ter que seguir o enredo original. Estatisticamente falando, com base em experiências semelhantes de outros estúdios, o resultado costuma ser bastante negativo, tendendo a desiludir os fãs da obra original.
Terá sido este o resultado fatídico também para Hellsing?
Hellsing – Análise | A História
“Hellsing” segue o rumo da vida de Seras Victoria, desde o momento da sua transformação em vampira até à fase de aceitação. Assim como de Alucard. O seu mestre vampiro, que por sua vez foi quem a transformou.
Seras, após a sua transformação, é contratada pela organização “Hellsing”, para a qual Alucard já trabalha. Esta instituição possui a sua sede em Londres, tendo como principal objetivo a erradicação de todos os vampiros.
Tudo parecia relativamente fácil e pacífico na missão. Porém, a chegada de uma nova vaga de vampiros às ruas de Londres, criados artificialmente por seres humanos, muda o cenário por completo.
Hellsing – Análise | Ambiente e Enredo
Como já referi na sinopse, a instituição Hellsing tem como objetivo a aniquilação completa da espécie vampiresca. Revelam-se hipócritas ao ponto de abrigarem e usarem vampiros para os ajudarem a concluir os seus objectivos.
Até onde se sabe, Alucard, foi o primeiro e único vampiro da casa dos Hellsing. Esta obra deveria ter sido desenvolvida em torno desta personagem. O que não acontece. A trama anda à volta de Seras Victoria. Ainda assim, apesar da narrativa partir dela, não conseguimos evitar o facto de considerar Alucard como a personagem principal de “Hellsing”.
A sequência de abertura do anime segue a narrativa original com algum rigor. Alucard vê-se obrigado a matar Seras Victoria para destruir um inimigo em comum, acabando por a transformar em vampiro e evitando assim a sua “morte”. Esta é uma premissa sem muitas mudanças de elementos, comparativamente ao enredo original.
O problema vem depois. Com a progressão da narrativa de Hellsing, os elemento originais e capazes de tornar a obra interessante começam a perder-se. A adaptação deixa de ser uma adaptação e começa a ser uma obra completamente nova. E isto não é um bom sinal, bem pelo contrário. Ao perder os elementos originais, o enredo desta animação torna-se aborrecido. Em vez de nos dar diversão, passa a dar-nos sono.
Mas, nem tudo é mau. O primeiro episódio está bem perto do sublime. A boa construção do mesmo suga, inconscientemente, a nossa atenção para dentro daquele mundo.
Já a animação está relativamente interessante. Os cenários possuem elementos e referências que ajudam a criar todo aquele universo sobrenatural, apresentando uma certa consistência e um bom feeling sobre todo o ambiente.
Para além de tudo isto, “Hellsing” toca em alguns assuntos interessantes relativamente a simbolismos religiosos. Até mesmo na controvérsia e conspiração que sempre se gerou em torno do Vaticano e das suas práticas menos ortodoxas.
A qualidade do ambiente não potencializa em nada a fraca narrativa da obra. O character design é uma completa desgraça. Apenas se nota um mínimo de qualidade apresentável nas personagens mais relevantes. Ou melhor, na grande parte das vezes isto não se verifica. O único que se vai mantendo mais constante é Alucard. Infelizmente também vai sofrendo a falta de qualidade de desenho.
A construção da imagem das personagens é, em grande parte dos casos, desproporcional e descuidada. Esta contém apenas o mínimo de elementos necessários para que se assemelhem a figuras humanas.
A animação é fraca, bastante irreal, lenta, e infelizmente permanece assim em toda a extensão da obra. A coloração roça o horrível, principalmente no que toca às personagens. Cada uma delas possui apenas uma cor. Algumas delas quase que nem são visíveis em determinados cenários, confundido muitas vezes o espectador e fazendo com que ele se perca no meio da ação.
Tal como no argumento, também o ambiente tem os seus momentos bons, baixos e altos. Estes picos de qualidade evidenciam-se nas cenas entre Alucard e o Padre Anderson.
Nomeadamente no seu primeiro encontro. Altura em que vemos uma animação na obra que ainda não tinha sido vista, e que nunca mais temos oportunidade de colocar os olhos. Um momento com um nível de animação bastante acima da média, considerando o nível pelo qual vagueiam o resto das cenas. Aqui há pormenores bastante interessantes. Principalmente na estruturação da coreografia da luta entre o Vampiro de meio milénio contra o peculiar e intrigante Padre.
Continuando na maré de pontos positivos, falemos então daquele que foi o melhor aspeto em toda a obra: a música! Blues, Jazz, Country, um misto de estilos clássicos e pouco recorrentes nas animações. A escolha das musica foi feita a dedo, acrescentando ao anime um feeling e ambiente incomuns, mas bons!
Pela mesma corrente positiva, seguem o opening e ending, que também estão fabulosos.
As Personagens
As personagens, de uma forma geral, não são interessantes. Estas não sofrem desenvolvimentos, mantendo-se estáticas ao longo de toda a narrativa. Não possuem objetivos. Nem sequer são moldadas com as suas ações, como se simplesmente não aprendessem com os erros.
No meio de toda esta confusão, felizmente ainda se conseguem arrancar algumas personagens que, das duas uma, ou começam interessantes ou acabam por se tornar interessantes.
Alucard é a arma secreta dos Hellsing. O vampiro especializado em matar a própria espécie. Tanto a sua personalidade como a sua fisionomia são peculiares e incrivelmente assustadoras. Tem cabelos pretos longos, olhos vermelhos e dentes afiados. As roupas são majestosas, desde o “sombrero” às enormes botas. Na sua roupa, reina o vermelho cor de sangue. De certa forma, este tom personifica e ajuda muito a solidificar a personalidade dele e aquilo que ele é.
Alucard tem cerca de 500 anos. Esta personagem vive a sua vida à procura de um desafio que lhe mostre que vale a pena estar vivo. Que lhe faça fervilhar o sangue.
Seras Victoria, a suposta personagem principal. Não existe muito a dizer sobre ela, além do que já foi sendo dito ao longo da análise. A personagem é estática e constante na maioria dos eventos. Mesmo com o avançar dos episódios, Seras mantem-se praticamente igual ao que era quando a história tem início.
Durante a série, vemos Seras a debater-se com vários eventos algo interessantes. O facto de ter que lidar com uma nova rotina e uma nova forma de alimentação. Acima de tudo, com uma nova forma de viver.
Contudo, apesar de tentar enfrentar estas novas problemáticas do dia a dia, Seras demonstra muito medo em tomar decisões. Assim sendo, apesar de saber que é vampira, que isso lhe traz vantagens, Seras acaba por não fazer escolhas, levando a sua personagem a ficar entre o vampiro e o ser humano.
Integra Wingates Hellsing, é a mulher responsável pela instituição. Desde pequena que foi treinada para que fosse a sucessora e comandante de toda a organização.
Aos 22 anos, Integra afirma-se como a entidade máxima dos Hellsing. Ela é também a última descendente. Apesar de ter ainda um curto tempo de vida, já possui uma elevada experiência e uma brilhante capacidade de decisão. Mostra-se apática, calculista e calma. Traços necessários para o cargo onde se encontra.
Um dos pontos mais interessantes desta personagem é a sua interação com Alucard. Duas personalidades fortíssimas que de vez em quando se enfrentam em discussões pacíficas, mas muito envolventes. Nota-se um enorme respeito mútuo entre os dois e até admiração. Sentimentos que não vemos estas personagens nutrir por mais ninguém.
Alexander Anderson. O vilão mais interessante de toda a obra. Mas mesmo assim conseguiram estragá-lo! Um potencial enorme para vestir este papel é completamente descartado. Isto porque por alguma razão decidiram criar um vilão inteiramente “original”, longe do nível do verdadeiro Anderson.
O padre irreverente, louco, de certa forma anti-herói e antagonista, é tristemente desvalorizado. Apesar disso, um dos pontos narrativos mais cativantes é o seu confronto contra Alucard.
Hellsing – Análise | Juízo Final
Respondendo agora à questão colocada na introdução. Terá sido Hellsing uma obra diferente dos resultados da estatística? Como deu para entender no decorrer desta análise, a resposta é claramente: não!
A ligação entre episódios é quase inexistente. Existe uma fraca noção de continuidade ao longo de todo o enredo. Mesmo existindo alguns pontos fortes, eles revelam-se insuficientes para segurar o pobre argumento.
Por exemplo, a temática principal é a criação artificial de seres vampíricos pelo ser humano. Mas se esta é a problemática central da narrativa, onde está a resolução da mesma? Porque que são criados? Por quem são criados? Com que propósito?
Porquê construir e desenvolver toda a estrutura do argumento sobre esta temática? O espectador é confundido durante toda a obra, para no fim ficar desiludido pela falta de resposta ao mistério. Perguntas a mais, e respostas a menos deixam qualquer espectador inicialmente interessado numa história com uma sensação de insatisfação enorme.
Resumindo, a narrativa de Hellsing é inexistente.
Em contrapartida, o que podem encontrar nesta animação? Banhos de sangue. Lutas sem muita estrutura. Animação e desenho inconsistentes. Algum fan-service. Uma ou outra personagem cativante. Excelente banda sonora. Atmosfera estranha, mas boa na maioria dos casos.
No caso de terem lido a manga por completo, acho desnecessário visualizarem esta obra.
Análises
Hellsing
Os Pros
- Banda Sonora
- Alucard
Os Contras
- Animação
- Estrutura narrativa