ALERTA SPOILERS: Alguns, vá!
Não sei se foi do espírito do novo ano (provavelmente), mas decidi colocar alguns dos meus pensamentos mais “absurdos” por escrito e partilhar com vocês.
Tenham em atenção que isto são apenas divagações, conjecturas e idiotices de um “velho do Restelo”. Ainda assim, penso que será benéfico para mim purgar a minha alma de tais vozes internas, sobretudo antes de realmente enfrentar o ano que me aguarda.
Para os novos leitores de “Um Pedro No Sapato”, aqui podem ler a minha primeira entrada na rubrica, se quiserem ficar a saber o que vos aguarda:
Desisto de Shokugeki no Soma – Um Pedro No Sapato
Como o título indica hoje vamos “chatear os fãs de Kuroko no Basket” (e eu sou um deles, por isso misericórdia gente!)
Kuroko no Basket: o que podia ter sido – Um Pedro No Sapato
Ah Kuroko, Kuroko. O que podia ter sido…
- Basquetebol
- Bom design
- Boa animação (Production I.G. e anime de desporto não desilude)
- Boa música (entre a qual incluo os openings)
Porém, algo falhou e eu sei exatamente o que falhou. Para mim, pelo menos. Espero não “estragar” a visualização/leitura da obra a ninguém, mas sentem-se aqui à volta da lareira que o velho Pedro vai contar-vos uma história:
Era uma vez… o Kuroko e o Kagami são o maior problema de Kuroko no Basket!
FIM
“Pegando o touro pelos cornos”, vou ‘despachar’ já o assunto Kagami Taiga (#NotMyTaiga, #Toradora4ever). Tentando manter a cabeça limpa de rants intermináveis, vou tentar explanar os meus problemas com o Tiger-boya em alguns pontos:
#1 – “A capacidade de salto sobrenatural!”
Eles bem tentam impingir que esta é a sua especialidade, mas o gajo faz tudo, sobretudo quando está na Zone (conceito interessante que parte de algo “real”, mas que com a sobre-exposição e “má selecção” de merecedores, passou a ser mais uma espinha encravada). Acho piada que a certa altura tentam “limitar” o Kagami não por limitações da sua capacidade individual, forçando-o a um basquetebol mais cerebral, mas ao colocar um limite no número de saltos.
#2 – Zone
Triplos, afundanços, controlo, passe, ressaltos, blocos, playmaking… só não é moço das águas e apanha bolas porque não calha. A certa altura, consoante outras Zone vão surgindo, dá a ideia de que cada uma seria ajustada à personagem em questão. Curioso que a do Kagami se parece imenso com a do Aomine, quando a narrativa assim o pede. Aliás, a obra faz questão de mostrar o Kagami a ultrapassar o Aomine da mesma maneira que este o havia feito. Booring
#3 – Luz, mas porquê?
Não entendo porque dele ser a “Luz” e a treta toda do rebentar a porta. Ele é tão individualista, ou mais, que qualquer um dos da Generation of Miracles.
Contudo temos que aceitar o que as personagens nos dizem? Que ele tem o potencial que rivaliza com o deles? Porquê? Porque passou tempo na América? (I call bullshit!).
Passa-se o pano de que ele é igual porque está nos humildes e fofos Seirin? Plot armor? Todas as opções que referi, não é?!
Sejamos sinceros, Kagami Taiga é o rebound boy do Kuroko. O puto fantasma ficou ressabiado com o Aomine quando este perdeu o encanto pelo desporto e desistiu de levar os adversários a sério, e foi arranjar um para lhe fazer ciúmes. -.-
E, falando em Kuroko…
Depois de ver o anime, para mim, o título da obra remete para duas coisas:
- “A forma como o Kuroko quer um basket de equipa e de alegria”
- “Validar/reconhecer o estilo de jogo dele” (Algo que nem vou aprofundar aqui porque ele mal sabe o fundamental do desporto)
Agora, a lição que ele queria dar aos da Generation of Miracles seria nobre se não fosse tudo retratado como foi. Vamos por pontos e por milagres:
#1 – Por muito que eles tentem passar a ideia de que Seirin é uma equipa, dependem sempre do mesmo.
E não, não é do Kuroko. Entendo perfeitamente que uma equipa de elite, ou em ascensão, tem sempre um star player. Mas, nesse caso, não atirem areia para os olhos a tentar indicar que Seirin joga segundo os princípios do trabalho de equipa e amizade. (Hipérbole a caminho) Eles, nada mais passam de uns autênticos NPCs com uma support character, Kuroko, e um jogador de nível 100, Kagami. O que diferencia realmente os Seirin de Touou?
A única diferença é que devido às personalidades mais vincadas dos jogadores de Touou, estes não têm tanto entrosamento entre si como os “moços de cabelo de cor neutra” de Seirin. Mas todos os jogadores que não o Aomine, jogam basket de equipa, orquestrado pelo Imayoshi. Têm é de, infelizmente, ceder e servir de suporte aos caprichos do talentoso jogador. Portanto, é mais desculpável nos Seirin porque o Kagami é simpático relativamente ao seu egoísmo? É mais tolerável por parte dos colegas de equipa porque crêem que só assim conseguem vencer?
#2 – Kise Ryouta
O Kise, sinceramente, quase nem conta (ou melhor, eu quase nem conto com ele…). Ele na equipa de Kaijō sempre se enturmou e respeitou o senpai dele. Já para não falar que é o Miracle suplente, cuja habilidade é… nem vale a pena… é tudo.
#3 – Murasakibara Atsushi
O Murasakibara, além de parecer geralmente mais aborrecido do que convencido, não me parece ignorar a existência dos demais da equipa de Yousen. O seu enfadamento ou apatia leva à hilariante (a meu ver) forma como introduziram o Himuro na equipa. Uma figura do passado, de maneira a tentarem dar algum peso emocional ao jogo Seirin vs Yousen, já que o Atsushi se estava a marimbar para o Kagami e para Seirin – gotta have stakes and feels!
Já para não falar na falta de follow through com o rescaldo da derrota do Murasakibara. Parece que nem o(s) criador(es) tinham interesse em ver a sua evolução (“menor tempo de antena de sempre”)
#4 – Aomine Daiki
O Aomine seria de facto um excelente exemplar daquilo contra o qual Kuroko quer lutar. É um receptáculo perfeito para tentar chamar à razão e tentar que voltasse a apaixonar-se pelo basket. Fazer isso com Seirin a ganhar como equipa seria a solução, mas noooooooooooooooooooooop!
Input code: Kagami + Zone e uma “perninha” de Kuroko e chega.
Ótimo! Acaba a obra sem ficarmos a saber se efectivamente algo mudou no Aomine e se a sua postura com a equipa de Touou melhorou ao ponto de poderem fazer uma senhora equipa – eu estou a ouvir os murmúrios. Não, o filme não conta para nada!
E sejamos brutalmente honestos: o Aomine é o jogador “perfeito”. Fica a sensação, novamente, que foi derrotado por não ter um Kuroko a seu lado, e não por não ter uma equipa. 2 não são 5!
#5- Akashi Seijuurou
O Akashi… Humm. Ok, a forma como ele gere a equipa parece superficialmente evil, mas só fazem isso para o pintar como vilão. O que até podia ser, contudo fizeram dele Point Guard (PG – base), um autêntico floor general que planeia as jogadas e coloca os colegas em posição de marcar (bué “vilãozão” e individualista). A Zone dele afecta a equipa toda – mas de forma evil – para depois Seirin usar uma Zone de equipa toda pura e linda. Perdoem-me mas, boooring…. Kagami novamente, o parte portas.
Ah! Já quase me esquecia do outro “fantasma”: Chihiro Mayuzumi. O Akashi “criou-o” para ser o novo Kuroko e mostrar que qualquer um pode servir o seu propósito. Malvadez não é? Por aqui eu até aceitava. Mas, novamente, não faz sentido o Akashi ser PG. Mais valia ser um Power Forward austero que teria criado um playmaker perfeito que atuaria nas sombras para o assistir. Digo eu, vá…
Eu sei que ser base serve para ilustrar a necessidade quase obsessiva de controlo que o Akashi tem. E aqui vem o terceiro elemento da sua maldade. A dupla personalidade, qual Dr. Jekyll e Mr. Hyde. EVIL
“Of course I remember you, Kagami Taiga. I’ll give you one warning though.
Only those subservient to me are allowed to speak without changing their line of sight.
I don’t allow anyone acting against me to look down on me.
Lower your head.”
Fica a faltar o Midorima. Mas antes de tocarmos em pontos mais positivos, quero explicar um pouco o porquê de eu levar tanto a sério o aspecto basquetebol em Kuroko, quando poderia fechar os olhos às suas irrealidades.
Parece um battle shonen mas de desporto. Tem poderes e o diabo a sete. Não devia ser levado a sério enquanto retrato do desporto em si.
Vocês têm toda a razão, mas sinto que é pretensão da obra ter um pé no realismo e o outro na fantasia. E, nesse caso, sinto-me no direito de mandar vir com as dissonâncias criadas dentre o Kuroko no Basket e o “Real no Basket”.
Há mais obras como Kuroko, que optam pela retratação mais fantástica do desporto em causa: The Prince of Tennis, Eyeshield 21 e, de certa forma, até mesmo Captain Tsubasa, são exemplos. Mas, sobretudo no caso dos dois primeiros, sinto que não existe a pretensão do realismo. Tirando as regras básicas do desporto, é só poderes, técnicas bizarras e diversão por todo o lado. Kuroko tenta operar no limbo e é no limbo que mais vezes tropeça, porque puxa das leis de cada “mundo” para justificar acontecimentos e resultados, conforme lhe apetece.
Eis que chegamos, finalmente, ao cerne da questão, o que desencadeou a escrita deste artigo: Midorima Shintarou.
O Midorima é a “salvação” da premissa da obra. Ou, pelo menos, de parte dela. O ace 3-pointer SG (shooting guard) da Generation of Miracles é arrogante, egocêntrico, individualista, coloca-se acima dos seus “companheiros” de equipa e, bem, pode ser usado para efeito de comédia, mas a forma como ele trata do Takao a princípio, é mais uma prova da sua postura de superioridade. A sua aura faz-me lembrar a de Atobe Keigo de Prince of Tennis (o qual, curiosamente, tem o mesmo seiyuu que Aomine – o talentoso Junichi Suwabe).
Contudo, entre a derrota de Shutoku contra Seirin – a derrota do seu basket perante a combinação e esforço dos dois protagonistas – Midorima passa por uma transformação. Reavalia o basquetebol e até mesmo a sua atitude perante os seus senpai e o seu “escravo” Takao.
A meu ver, a derrota desencadeia nele esta mudança porque, ao contrário de Aomine, que se encosta ao seu monstruoso talento, e de Murasakibara, que se encosta à sua genética, Midorima, a par de Akashi (talvez por isso a ligação entre eles – aqueles jogos de xadrez dizem muito) treina diligentemente, tentando reunir o máximo de condições favoráveis possível para manter a sua incomparável pontaria. É como ver um mestre criador de espadas a fazer a minuciosa manutenção das suas katana. E, apesar de todo o treino, de todos os horóscopos, o seu basquetebol foi derrotado. Apesar de ter feito de tudo para se polir e se tornar na arma mais eficaz, apoiando-se na realidade irrefutável que 3 pontos vão sempre valer mais que 2, o seu basquetebol foi derrotado.
É por isso que ele quebra e na ânsia de melhorar e de vencer, se reavalia e começa a dar valor aos demais. E em momento algum essa evolução está mais patente que no melhor jogo de basquetebol de todo o anime: RAKUZAN vs SHUTOKU!
É fenomenal. Adoro, adoro, adoro esse jogo. Palavras jamais lhe fariam justiça. A bagagem emocional, a mestria em campo, o desespero pela vitória. Contudo, desta vez, tudo é diferente. E, mesmo na derrota, a sua atitude é diferente. A forma como se dirige ao Akashi no final do jogo, estendendo a mão dizendo que “apesar da derrota, da próxima vez vão vencer”. Arrepia-me todo. My boy has grown.
Já para não falar que ele se junta aos colegas na vénia final de agradecimento aos adeptos da equipa, enquanto se vê uma tarja dizendo “tenacidade inflexível”! (relembrem abaixo)
Depois o choro de frustração de Takao no túnel e a, em igual medida, frustração de Midorima, acompanhada pelas suas lágrimas… (e as minhas também!)
OK Pedro, o Midorima é fantástico e best boy. Mas para quê este texto todo para dizer isso?
Meus queridos, este ponto, no final de tantas palavras e “escárnio”, serve para mostrar “o que Kuroko no Basket poderia ter sido” se cada elemento da Generation of Miracles tivesse sido tratado com o cuidado com que Midorima foi. Não através dos mesmos sentimentos e processo, pois seria repetitivo. Mas, quem sabe… algo poderia ter sido feito. Até mesmo pelos protagonistas que, apesar de tanto espernearem, parecem igualmente desprovidos de real emoção.
E assim chegamos ao final de mais um “Um Pedro no Sapato”. Contudo, antes de irem embora gostaria de vos deixar quatro sugestões (por agora) de anime de desporto, caso não as tenham visto ainda:
- Mais realismo e excelente progressão de personagens: Haikyuu!! e Diamond no Ace
- Menos realismo mas vasto elenco de personagens com poderes e personalidades únicas: The Prince of Tennis e Eyeshield 21.
Até à próxima e já sabem, caso queiram deixar sugestão de tema para um próximo “Pedro no Sapato”, deixem nos comentários!
Dado o tema central da obra, não poderia terminar este artigo sem referir o lendário Kobe Bryant. Aos 41 anos a sua partida foi severamente antecipada, sendo ainda mais antecipada a da sua filha Gigi.
“Kuroko no Basket” retira inspiração de jogadores bem reais para “apimentar” as jogadas das personagens e, sem dúvida, os fãs de basquetebol e de Kuroko repararam nalgumas semelhanças entre certas jogadas do Aomine e jogadas da Black Mamba.
Como tributo, e com enorme pesar, partilho o vídeo concebido por Enrique Gonzalez que destaca alguns desses momentos:
Descansa em paz Kobe, “Black Mamba”, #8, #24… Lenda.