Noragami

Noragami é uma série shounen, de fantasia, sobrenatural e romance. É baseada no manga de Adachitoka com o mesmo nome, publicado na Monthly Shonen Magazine. As expetativas desta produção estabeleceram-se num patamar elevado mesmo antes do seu lançamento, tudo porque o estúdio responsável é o famoso Bones, responsável por séries como Fullmetal Alchemist, Soul Eater, Darker Than Black, entre outras produções de sucesso.

Noragami | A História

Noragami significa, literalmente, “Deus Perdido”, título bastante sugestivo visto que o anime no fundo trata disso mesmo: Yato, o outrora poderoso e implacável Deus da Guerra, encontra-se na sua jornada para a criação de uma nova identidade, um templo em seu nome, nome este reconhecido pelos seus esforços na realização de simples pedidos de ajuda. A pacata vida de Yato muda totalmente quando se cruza com a doce Hiyori. Ao contrário dos restantes seres humanos, Hiyori consegue aperceber-se da existência de alguém mais, alguém que parece passar-se despercebido pela multidão típica das ruas. Quando tenta segui-lo, a rapariga acaba por ser atropelada, sobrevivendo milagrosamente, sem nenhum ferimento aparente. Cética, a morena não acredita inicialmente quando Yato lhe explica o sucedido, no entanto, cedo se apercebe da verdade por trás das suas palavras e o quão drástica a sua vida mudou após o seu repentino encontro com o “outro mundo”.

Noragami | Ambiente e Enredo

O encadeamento das diferentes personagens, sobretudo a forma como estas surgem na vida de Yato, fazem parte do enredo principal desta narrativa. Nos primeiros episódios, os acontecimentos surgem de forma fluída, primeiro a transformação de Hiyori em meio-fantasma, encontro e criação de Yuki, bem como a apresentação de algumas personagens secundárias como Kofuku. O mistério e suspense caraterísticos desta obra são francamente notórios com a chegada da misteriosa Nora, uma “shinki” com vários Deuses sobre a sua alçada. Considerado ser amaldiçoado, Nora surge de forma repentina e poderá considerar-se assustadora ao longo dos episódios, como se de um “fantasma”, de uma verdadeira maldição se tratasse.

Denota-se uma extrema qualidade e coordenação entre a animação, design e banda sonora, sobretudo nos momentos dramáticos. Apesar da premissa não ser considerada forte e de cariz trágico, os elementos visuais foram utilizados com excelência e habilidade, caraterísticas de uma equipa de animadores de luxo. As fronteiras entre os dois mundos são definidas e mostradas através de Hyori, com a sua existência liminar e Yuki, que como shinki, deixou o mundo cedo demais e contra sua vontade (por exemplo, pessoas que se suicidaram não poderão tornar-se shinkis). As qualidades técnicas e o desenho são pontos fortes desta animação, sem esquecer nunca, do jogo de cores (a cor dos olhos das personagens são simplesmente magníficas) e vestuário demarcado dos diferentes protagonistas que marcam, com certeza, esta série de enorme sucesso.

Noragami | As Personagens

Yato é o Deus da Guerra e da destruição. Completamente adaptado aos tempos modernos, decidiu construir o seu próprio templo e simultaneamente publicitar o seu nome com vista a ganhar súbditos. Divertido e sempre alegre, o moreno de olhos azuis auto proclama-se de “Yatogami” (Deus Yato) e sonha viver uma vida calma e rica como os Deuses famosos. O jovem Deus, por trás daquela máscara de idiota esconde um passado negro, instigando a dúvida à cerca da sua real personalidade.

Hiyori Iki é uma doce e aluada estudante do 3º ciclo que vê a sua vida virada do avesso após o seu encontro com Yato. Filha dos donos do hospital local, a morena acaba por quase morrer ao tentar “salvar” Yato e torna-se numa “meio-fantasma”. Com a sua cauda de gato rosa e força sobre-humana decide ajudar Yato enquanto este não resolve o seu pequeno “problema”, uma vez que a mesma não consegue discernir em que fase da vida ou da morte está, acabando por a sua forma fantasma tomar rédeas sobre as suas ações sem que a mesma se aperceba, deixando de lado o seu corpo adormecido.

Yukine é o atual shinki de Yato. É chamado de “Sekki”, pois a sua forma shinki tem a forma de uma katana. Morreu muito jovem e como todos os shinkis, desejava ter vivido mais. As saudades e o desejo de voltar a existir no mundo dos vivos como um deles fazem com que seja mal-humorado, infantil e um pouco arrogante, sendo, numa fase inicial, incapaz de aceitar o seu novo destino.

Noragami | Juízo Final

Os limites são constantemente testados neste anime, aparentemente com o propósito de testar a reação humana (e não humana) às situações limite entre o certo e o errado, entre a vida e a morte, entre o bem e o mal. Uma dessas situações é a própria existência de Hiyori. O típico romance Deus-rapariga, tão comummente usado pela cultura nipónica é usado de forma inteligente, sem nunca se criar um ambiente demasiado romântico. A relação dos protagonistas é usada como uma forma intermédia para se chegar ao objetivo final, quer este seja uma batalha, uma lição ou a criação de novos elos entre novas/antigas personagens.

“Noragami” perde pela rapidez no desenvolvimento narrativo na reta final da animação. A coerência e explicação dos acontecimento, mais a entrada de novas e importantes personagens, são pouco esclarecidos. Confusão e mesmo estranheza são o resultado das batalhas de vida ou de morte entre Deuses que aparecem simplesmente porque sim, ao mesmo tempo que outros acontecimentos de extrema importância são negligenciados e/ou passados para segundo plano. Uma nova temporada é claramente exigida, para a explicação de muitos dos mistérios desta produção que tanto tem para dar e que mostrou tão pouco quando confrontada com o seu enorme potencial.

Uma série divertida com uma mensagem subentendida em cada diálogo, em cada imagem ou pensamento que destaca este anime de muitos outros. A profundidade escondida entre cada piada do alegre Yato, as ilações e pensamentos de Hiyori, sem esquecer do confronto constante de Yuki com o “mundo”, fazem desta obra algo que merece apreciação e vale realmente a pena os 24 minutos despendidos todas as semanas.