Assisti, a 3 de setembro, aos primeiros dois episódios da série live-action de One Piece da NETFLIX e como não parei de ruminar no assunto… aqui estou eu.
Desculpem , mas vão ter que levar comigo durante umas centenas de palavrinhas só para fazer um bocadinho de venting.
No que toca a adaptações live-action eu sou mais do que o velho do Restelo, sou mais do que o descendente de Sir Buzz Killington, eu sou o vilão/super-herói da wish… o ANTI-HYPE!
Dizer que estava de pé atrás com a adaptação live-action de One Piece, é um eufemismo. Aliás podem ter noção disso mesmo através de um episódio do GenkiCast no qual falámos do assunto aquando do seu anúncio:
Mesmo com as revelações do elenco de que o Eiichiro Oda-sensei estava super envolvido na sua criação, a minha posição manteve-se e em alguns aspectos agravou-se. Os teasers e trailers saíram e, apesar de acalmar em certos aspectos, mantive o que continuo a achar de live-actions, mas com uma adenda: A julgar pelo aspecto, e dedicação depositada, sobretudo no set e ship designs, a adaptação no mínimo não será ofensiva.
Outro ponto que me fez acalmar, foi a felicidade do Oda-sensei com a criação desta pequena “aberração real”. O mestre tem aqui uma oportunidade ímpar para ver em carne e osso as personagens que há 26 anos anda a colocar no papel, e isso é lindo de ver e aliviou a minha posição de: isto é uma merda!
Bom, vi os primeiros dois episódios e…
One Piece live-action é Melhor do que Pensava mas…
O Bom
Tal como aludi acima, o set design e a construção dos navios da obra à escala são um ponto altamente positivo. No mínimo, mostram um comprometimento que, sinceramente, não esperava. Nem sempre despender dinheiro é prova de sucesso, aliás, muitas vezes, as maiores catástrofes criativas resultam de investimentos absurdos e mal orientados. Contudo, aqui, num live-action de anime, de uma tentativa hercúlea de adaptar um manga tão lendário, é de facto muito bom sinal tentarem ir mais além da recriação de cenários CGI.
Depois dos cenários, tenho que, sem surpresas falar do elenco. Sobre o elenco tenho várias opiniões e acho que o melhor e pior encontram-se neste ponto, mas não tenho qualquer hesitação em dizer que o trio inicial dos Straw Hats está tão bem escolhido quanto possível. Sobre os restantes vou ter que suspender opinião até ver mais, embora tenha imensas reservas com o Sanji…
Além das escolhas na mouche do Luffy, Zoro – incrível ver que quando o guião e direcção são melhores, um ator parece logo outro. Coitado do Mackenyu em Saint Seiya… -, e Nami, também o elenco secundário tem muito que se lhe diga. Acho que as escolhas para o Garp, Koby, Helmeppo, Captain Morgan e Yasopp são brilhantes, mesmo com conceções visuais para encaixar no live-action.
Para rematar a parte positiva desta adaptação, tenho que falar da narrativa. A espaços, nota-se claramente um esforço cuidado para transportar painéis do manga/cenas do anime para o live-action. Funcionam como pequenas homenagens e, até onde vi, não se tornam nem intrusivas, nem metidas a prego.
Interessantemente, e talvez um bom indicador de que houve mesmo umas boas mãos na produção, são os ajustes narrativos para tornar todo o desenvolvimento dos episódios mais natural para uma audiência internacional. São coisas pequenas que não impactam a obra, mas que permitem ao espectadores menos experientes lidar com certo tipo de informação.
O que quero dizer com isto? Cenas como:
- O Luffy ouvir falar do nome do Zoro no navio da Alvida – efeito para nós próprios começarmos a criar a ideia da existência de um caçador de piratas;
- O Luffy, a Nami e o Zoro estarem todos no mesmo bar dos Marines e o Luffy presenciar o Zoro a combater e ficar com vontade de o juntar à tripulação;
- O facto do Helmeppo ter um cabelo mais normal, para depois ficar para a posteridade que foi o Zoro que lhe deixou o corte de cabelo que conhecemos do manga;
Este tipo de exemplos, não impactam de todo a narrativa de One Piece, mas são bons elementos de ligação lógicos para o público em geral e aplaudo o esforço e cuidado.
O Mau
Contudo, mesmo que louve o esforço e cuidado, há coisas que não consigo deixar passar. Há elementos que pioram precisamente pelo contraste com o que foi bem feito. Atenção, não são pontos graves e até podem ir melhorando com o avançar da série, mas também podem piorar, e por isso tenho que sublinhar.
Tal como aludi acima, vamos ter que falar de algumas escolhas de elenco e, sobretudo, do figurino. Sim, as personagens que referi acima foram bem escolhidas, e as nucleares mesmo bem, mas depois…
- Benn Beckman e Lucky Roux – O que aconteceu aqui?? Eu sei que no arc de East Blue, o Shanks tem o papel primordial e a tripulação dele vai ganhando mais destaque, mas a adaptação dispõe de conhecimento à posteriori, logo podiam dar já destaque a estas personagens tendo em conta o que se sabe delas. O Lucky Roux não está mal per se, mas a decisão de alterar um pouco a cena icónica dele no anime e depois o por a combater com uma pata de peru é tipo… Agora o “crime” é o first mate dos Red Hair Pirates, o braço direito do Shanks, porque raio escolheram alguém que já parece velho 12 anos antes? Porque parece ele alguém que pertence a uma banda de tributo regional dos Xutos & Pontapés??
- Makino – Embora tenha melhorado em cenas posteriores, senti que retrataram a doce e gentil Makino de forma um bocado “trombuda” e séria sobretudo, dada a sua significância para a pequena ilha, para o Shanks e até para o Luffy, que é praticamente um filho da ilha.
- Shanks – Acho que a escolha do Peter Gadiot para Shanks não está má, mas veremos posteriormente se tem a gravitas necessária para encarnar o temido Yonkou. Coloquei-o aqui por causa do figurino. Numa série onde temos uma Nami, um Zoro e até um Buggy com cabelo colorido, mas de forma a parecer uma ter uma tez natural, porque raios é que só o Shanks parece que está a usar uma peruca? É que distrai um bocado das cenas de tão antinatural que parece… É pena.
Para rematar o que vi de pior tenho só que deixar uma nota sobre o Buggy. Gostei da actuação do Marc Jobst, sobretudo quando se deixou cair na comédia ridícula do pirata palhaço. Agora, não entendo a necessidade de tentarem fazer dele uma ameaça e, pior, retratá-lo um bocado como o “Joker da wish”. O Buggy, apesar do seu impacto na obra, que a tem, e do seu poder fantástico, nunca deixará de ser o Team Rocket de One Piece. Tenho esperança na prestação do Marc para cenas futuras, mas esta introdutória com uma tentativa de seriedade a mim deixou-me meh…
One Piece live-action é Melhor do que Pensava, mas…Em Conclusão:
Em conclusão, e contextualizando, tenho a dizer que passei de abominador deste live-action a agnóstico devido ao claro amor que o Oda-sensei tem pelo projecto. Sinceramente, estou-me a marimbar para o que as massas acham, mas se o Oda-sensei está contente com a criação, quem sou eu para andar a rebentar os balões da festa?!
Vou ver os restantes episódios e, embora ainda continue com a mesma dúvida sobre a quem se destina esta adaptação, a sua criação para além de não ser ofensiva como temia, consegue transferir para pessoas de carne e osso alguma da “magia” de One Piece.
Estou curioso para ver como futuras histórias desta epopeia serão retratadas, como serão tratados certos poderes e figurinos, e como serão escolhas de elenco e escrita de guiões. Isto porque, como os leitores sabem, a estranheza da narrativa e sobretudo das personagens, aumenta exponencialmente a cada arc que passa.
Desfrutem do live-action e fiquem atentos a mais opiniões já que tenciono falar mais desta criação!
Este One Piece não é real, mas é uma decente imitação.