A série anime de One Piece já entrou no arco do Reverie. Por outras palavras, isto significa que a saga de Totto Land já ficou para trás. Ufa! Finalmente! Embora para mim, isso só aconteça com a publicação deste artigo.
Dois anos após ter feito projeção à saga da Big Mom, compete-me agora, cerca de 100 episódios depois, apresentar a minha crítica a esta parte da história de Eiichiro Oda. A saga foi bastante longa e repleta de tópicos de discussão. Não querendo transformar este artigo num livro, o mesmo será restringido ao que considerei mais importante. Para quem ainda não terminou de ver este arco, chamo à atenção para a existência de SPOILERS à frente. Vamos a eles!
Tentativa de assassinato da Big Mom
Quando se trata de alianças entre grupos ou grandes piratas, tais pactos mexem sempre comigo. Acredito que convosco também não seja diferente. Estas são oportunidades raras de vermos determinadas personagens a lutarem lado a lado, que por acréscimo nos costumam trazer um pouco da sua história de vida. Foi assim com Robin quando se juntou aos Straw Hats. Assim foi com Trafalgar Law em Punk Hazar e Dressrosa.
Agora, de uma maneira menos intensa, surgiu a junção de forças entre Luffy e o homem dá Máfia, Capone Bege. Dois elementos da Worst Generation cuja união não era de todo expectável. Basta olhar ao “rapto” de Sanji e ao pacto que Bege tinha com a Big Mom.
A reunião entre os dois grupos de piratas foi agradável, assim como o plano e execução da tentativa de assassinato da Big Mom, que envolveu Straw Hats, Fire Tank, Jinbei, e outros participantes em pleno casamento. Mas … os elogios acabam aqui!
O desfecho da Tea Party
O momento em que o Whole Cake Chateau se desmoronou. Na minha opinião, um acontecimento demasiado forçado. Mas não só! Criou-se tanta expectativa em torno da Tamatebako e afinal … era uma bomba. Um engenho que no universo de One Piece será pouco mais que um disparo em série dos canhões de um grande navio. Conclusão? Estragou-se o misticismo em torno do que parecia ser uma verdadeira caixa de Pandora e a Tea Party acabou de uma das maneiras mais desenxabidas possíveis. No fundo, um reflexo daquilo que foi o arco de Totto Land.
Germa 66 – Inspiração nos Power Rangers?!
Que One Piece é uma história de piratas, tesouros e navegação pelos grandes mares, toda a gente sabe. Porém, também desde muito cedo que Eiichiro Oda deixou claro que grande parte das personagens iriam destoar por completo dos tradicionais “ladrões dos mares”. Uma escolha do autor que nos faz sentir atração por uns e desprezo ou indiferença por outros, consoante as nossas preferências e afinidades.
No que toca a Whole Cake Island, eu cá dispensava por completo a associação de almas a objetos e plantas (homies), o que lhes confere consciência. Isto só contribuiu para a saga ficar ainda mais enfadonha. Por outro lado, agradou-me a parte da Germa 66.
Primeiro, por esta organização mercenária ser claramente inspirada nos Super Sentai (Power Rangers), o que me despertou nostalgia. De notar que esta escolha vem em sequência dos poderes originais dos Tontatta, Minks, Fishmens, entre outros. Parece que os Frutos do Diabo, centro das atenções deste o início da história, continuam a perder parte da sua cota no mercado.
Segundo, pela parte da ambição tecnológica que tomou conta de Judge Vinsmoke. Foi este tema tão atual da robótica e da inteligência artificial que dividiu a família e conferiu curiosidade sobre o seu passado.
Charlotte Pudding – A melhor de um elenco medíocre
Das personagens que marcaram presença em Totto Land, Charlotte Pudding foi das poucas que apresentou evolução (coisa rara!), e consistência nesses seus progressos! E digo isto depois de refletir melhor sobre ela, pois cheguei a apontar-lhe o dedo.
Pudding revelou-se uma rapariga com duas caras, resultado de estar confinada àquela ilha original e rodeada de perto por personagens como a Big Mom. No entanto, depois de contactar com os Straw Hats, e em especial com Sanji no dia do seu casamento, foi como se uma porta para outra realidade se abrisse diante da rapariga. Foi como se tivesse pisado novo mundo, o que a levou a refletir progressivamente sobre os seus comportamentos e atitudes, à medida que tinha mais contacto com gente bem diferente da sua família. Esta mudança teve alguns pontos chave, mas foi gradual e com sentido, o que despertou a minha atenção. Ainda para mais num arco onde muitas personagens estagnaram ou andaram para trás.
Um Luffy que não conhece limites
O grande protagonista da história foi regular na sequência de acontecimentos que o envolveram, mas pelos piores motivos.
Depois de derrotar Cracker, de medir forças com Sanji, de enfrentar a armada da Big Mom, e de estar em destaque na Tea Party, Luffy ainda enfrentou e derrotou Katakuri. Tudo isto num curto espaço de tempo. Em Dressrosa, o jovem andou aflito com os timings das suas transformações, a fim de poder contra-atacar Doflamingo, e foi ao limite logo após o embate. Em contrapartida, neste arco, Luffy parecia não ter limitador. De uma hora para a outra já está novamente no seu máximo.
Mas não é tudo! Pessoalmente, não fiquei fã de nenhum combate que Luffy travou durante a saga. Nem mesmo da batalha com Katakuri. Na dita cuja, o que mais me irritou, e contribui para esta crítica negativa à personagem, foi o facto do embate parecer um treino. Luffy fartou-se de “levar no pêlo”. Porém, estava claro que ia estar ali o tempo que fosse preciso até desenvolver as habilidades que outrora trabalhara com Silvers Rayleigh. Posto isto, restava esperar.
Em relação à ausência de um verdadeiro combate com a Big Mom, isso já era mais ou menos esperado. No entanto, foi só mesmo isso que faltou depois de toda a gente que levou à frente aos repelões.
Resumindo, fica a ideia de desleixo no trabalho desenvolvido em torno desta personagem neste arco.
As Hunger Pangs de Charlotte Linlin
Desde a sua primeira aparição que não fiquei fã da Big Mom. A personagem nunca me despertou interesse, o seu passado não me comoveu, e as coisas agravaram-se com a apresentação da sua “doença do apetite”, mais conhecida por Hunger Pangs.
Se este arco já estava longe de ser atrativo devido aos acontecimentos forçados e à sua progressão narrativa enfadonha, pior ficou quando este descontrolo da Big Mom tomou conta do ecrã, no pós Tea Party. Mas desde quando é que é interessante ver uma perseguição desenfreada de uma personagem tão temida nos mares, num estado de inconsciência, enquanto o próprio inimigo lhe está a fazer um bolo delicioso para a acordar do transe? De bradar aos céus!
O sobrestimado Jinbei
Uma peça fundamental para os Straw Hats conseguirem escapar de Totto Land. No entanto, olhando a toda a reputação conquistada entre Fishmens, elementos do grupo Big Mom, e o mundo dos piratas em geral, creio que o “Cavaleiro dos Mares” poderia e deveria ter sido ainda mais impactante nesta saga.
Por outras palavras, esperava mais intensidade da parte de Jinbei neste seu momento de rebelião contra a Big Mom. Todavia, exceção feita ao bom momento que proporcionou na Tea Party, todos os restantes foram um pouco abaixo do expectável para uma personagem que, até prova em contrário, para mim continua a ser overrated. Ou não se deverá esperar mais de um ex-Shichibukai? Não olhemos a Buggy …
Sanji Vinsmoke
O grande responsável pela existência desta saga. Não obstante o passado interessante da sua família, o caminho palmilhado pelo cozinheiro no decorrer de Totto Land era previsível. Inclusive a sua luta com Luffy e, pois claro, o seu regresso à tripulação.
Concluído o arco, o que podemos reter? Que Sanji afinal é melhor cozinheiro que Streusen? Que tem um coração de ouro? Nada disto é novidade! Conhecer a sua filosofia de vida foi bem mais interessante. Algo que já aconteceu na longínqua saga do Baratie.
Sanji Vinsmoke é reflexo de como tudo foi forçado neste arco, mesmo antes do seu arranque oficial. Foi Sanji quem viu Robin abandonar os Straw Hats na saga do CP9. Foi Sanji quem lhe tentou dar a volta. Porém, mesmo depois de tudo isso que se passou em Water 7 e Enies Lobby, é precisamente Sanji quem repete o comportamento da amiga? Nonsense!
https://www.youtube.com/watch?v=fIUFPBr5xv4
Os Minks deram jeito!
Quando uma saga anda à deriva, fica difícil para quem quer que seja destacar-se positivamente. Os Minks presentes em Totto Land são reflexo disso mesmo. Pedro sacrificou-se de uma maneira um pouco estúpida e que para pouco serviu. Perospero ficou mais “doce”.
Depois de desaparecer, Pekoms regressou no final da saga, quase sem razão aparente, para a narrativa poder prosseguir. Uma personagem que me leva até Brulee. Não sendo Mink, a “bruxa” teve o condão de estar sempre presente onde era precisa, fosse para amigos ou inimigos. Nunca vi personagem tão solicitada e tão disponível.
Por último, Carrot e o poder Sulong dos Minks deixou-me com a sensação de ser mais uma matreirice de Oda para dar conteúdo à fuga dos Straw Hats.
Ou seja, os Minks estiveram em Totto Land apenas porque deu muito jeito. Sem uma forte ligação com o espectador, todas as suas decisões acabam por nos ser indiferentes.
A lista interminável de filhos da Big Mom
46 filhos e 39 filhas, num total de 85. Será este o número de herdeiros da Big Mom até à data. Vários foram apresentados mais ao detalhe ao longo da saga. Não poderia ser de outra forma, pois era o principal grupo antagonista e estava a “jogar em casa”.
Todavia, de um modo geral, o grupo deixou muito a desejar. Esperava que as habilidades dos seus principais elementos fossem muito mais apelativas aos meus olhos, o que não se verificou. O mochi do Katakuri, a resina dos doces do Perospero, a extração da Smoothie, o aquecimento de Oven, os biscoitos de Cracker, enfim …
Olho para esta gente e olho por exemplo para os Capitães do Whitebeard, para os elementos que o Barba Negra recrutou mesmo antes da Guerra de Marineford, ou até mesmo para o pouco que conhecemos do grupo de piratas liderado por Shanks e chego à conclusão que nada têm a ver com os filhos e subordinados da Big Mom.
Por outro lado, percebo que Whole Cake Island seja um mundo à parte dentro de todo o universo One Piece. A ilha representa o ideal de Charlotte Linlin em criar uma região onde todas as espécies possam viver em comunidade. Respeito isso. Contudo, esta realidade, talvez por ser inspirada em doces e derivados, não ficou minimamente interessante! Com uma outra base, quem sabe esta minha opinião não fosse diferente.
De volta aos filhos da Big Mom, posso destacar três Charlottes no meio de tantos. Achei engraçado e apelativo o génio da lâmpada do Daifuku, a alteração das memórias de Pudding, e o mundo dos livros do Mont-d’Or. Mas lá está, são três filhos cujos poderes fogem do espectro que abrange o mundo da Big Mom.
Mont-d’Or até despertou a minha curiosidade em saber que personagens estariam presas no seu livro principal. Mais acrescento. Esta poderia ser uma hipótese de fuga para os Straw Hats depois de resgatarem Sanji. Isto é, a possibilidade de existirem personagens fortes e interessantes dentro do livro que viriam a ser libertadas e a colaborar na fuga dos Straw Hats, em alternativa à fuga das Hunger Pangs da Big Mom. Um pouco à semelhança do que se passou com Luffy, Jinbei, Crocodile, e restante comitiva, em Impel Down. Seria muito melhor dedicar tempo à criação de personagens deste calibre do que filhos e mais filhos desinteressantes da Big Mom.
Juízo Final
Em jeito de conclusão, considero Totto Land um dos piores arcos de sempre de One Piece.
Por um lado, devido à ausência de conteúdos apelativos, como é o caso da região de Whole Cake Island, da falta de carisma da Big Mom (nem parece uma Yonko!), e dos poderes que acompanham os seus filhos (Charlottes) com maior projeção ao longo desta centena de episódios.
Já num plano mais narrativo, nota negativa para a falta de consistência em personagens centrais e um conjunto de acontecimentos excessivamente forçados. Veja-se, por exemplo, o caso em que os membros dos Big Mom Pirates não acreditam que Luffy derrote Katakuri. Eles demonstram isso com grande convicção … nas suas palavras. Afinal de contas, estão todos à espera de Luffy na parte de fora do espelho.
Uma situação que já não é novidade é o ritmo lento e enfadonho. Quando os conteúdos não são atrativos, este aspeto faz-se sentir ainda mais.
Sem grandes alterações significativas no plano visual em relação aos arcos que antecederam esta saga, quero apenas destacar pela positiva a música “Super Powers” dos V6. Ao dar muita vida ao opening deste arco, e olhando ao que se estava a passar na história, o vídeo de abertura acabou por ser dos raros momentos de alegria que tirei do anime One Piece, nos últimos tempos.
Depois de tudo isto, resta somente dizer que o Reverie tem obrigação de ser melhor que Totto Land, dê por onde der, caso One Piece queira recuperar a sua boa reputação.
Análises
One Piece - Totto Land
A série tombou! Um arco marcado por um lote de acontecimentos forçados e enfadonhos que pautaram a sua progressão narrativa e que se agravaram por força das incoerências verificadas em algumas personagens principais.
Os Pros
- Tentativa de assassinato da Big Mom
- Charlotte Pudding
- Germa 66
Os Contras
- Progressão narrativa
- Monkey D. Luffy
- As Hunger Pangs da Big Mom