O website SoraNews24 realizou uma entrevista com uma editora veterana de manga, que possui mais de dez anos de experiência, à qual perguntou “Porque é que existem tantas franquias novas centradas no género Isekai e especificamente no Isekai Otome?”. Iseikai Otome diz respeito a histórias nas quais o protagonista reencarna dentro de um videojogo otome – jogo de encontros para mulheres – na maioria das vezes como o vilão do mesmo.
Sabes porque é que existem tantos Isekai hoje em dia? Fica a saber mais na entrevista realizada pelo SoraNews24, infra.
Porque existem tantos Isekai hoje em dia?
Existe algum título específico que tenha dado início ao actual boom no género isekai?
Penso que o sucesso de “Tensei Shitara Slime Datta Ken” foi um importante ponto de viragem. A série começou como uma web novel no website Shosetsuka ni Narou (“Let’s Become Novelists”), e uma vez que se tornou popular lá, converteu-se num manga. Há muitas histórias de reencarnação no website, tantas que algumas pessoas também chamam às histórias tensei [de reencarnação] “histórias Narou”.
Na indústria costumávamos ter muitas histórias de viagens no tempo, ou histórias teni (“transferência”), em que alguém ia para um tempo ou lugar diferente, mantendo a sua aparência e identidade originais. Mas as histórias teni que estão em voga agora são diferentes, no sentido em que o protagonista morre no nosso mundo e depois acorda noutro mundo como uma pessoa diferente, mas com as suas memórias do mundo real intactas.
Nas histórias de tensei, quando chegam ao mundo alternativo, eles possuem um aspecto diferente e um estilo de vida completamente novo, certo?
Penso que o motivo é atrair leitores que queiram tornar-se uma pessoa diferente do que são agora e reconstruirem as suas vidas. É uma característica frequente das histórias Isekai que a origem real do protagonista e o tipo de pessoa que era antes de chegar ao mundo alternativo não são tratados como muito importantes.
Sim, reparei que não se aprofundam muito neste tipo de coisas.
Geralmente, no início do primeiro capítulo apenas existem algumas páginas rápidas sobre a vida do personagem principal no nosso mundo, depois ele morre e passamos ao início da história no mundo alternativo. Não é dada muita importância ao tipo de pessoa que foi ou ao tipo de educação e experiências que teve no nosso mundo. Creio que apenas querem estabelecer, o mais rapidamente possível, “Ok, aqui está esta pessoa… agora está morta… e agora está a começar uma nova vida”. Por vezes surpreende-me a pouca necessidade que a história parece ter para os leitores para simpatizarem com o personagem principal enquanto ele está no mundo real.
O que é que se passa com as histórias de reencarnação de vilãs? Ultimamente tenho visto muito manga dirigido a mulheres onde a personagem principal era uma pessoa tímida no mundo real, e compreendo o desejo de querer renascer como uma pessoa mais poderosa, mas porquê uma vilã?
Bem, durante muito tempo, o padrão em manga shoujo tem sido que o personagem principal é eventualmente recompensado por ter bom coração e ser sincero. Porém, com o avanço das redes sociais, penso que as emoções e romances mais confusos e realistas tornaram-se mais visíveis, e algumas pessoas estão cansadas dessas personagens principais de bom coração.
Penso que não existem muitas pessoas que possam viver as suas vidas como uma heroína de shoujo, pura e sincera.
Mas, em contraste, uma vilã poderosa pode ser energicamente audaz e repreender pessoas de quem não gosta. Penso que isso é algo que as pessoas acham apelativo. Histórias em que a vilã termina um noivado também são populares. Pode ser o resultado de empatia com esse desejo de estar livre do controlo de um homem.
Oh, agora já percebi! Uma vilã rica e poderosa pode fazer o que quiser, e não tem de “andar com rodeios” quando fala com personagens masculinos. Ela é basicamente imparável.
A propósito, há também um novo género, muitas vezes destinado aos leitores masculinos, com algumas semelhanças com o tensei que é chamado zamaa-style.
Zamaa-style? O que é isso?
Vem de “zamaa miro” [japonês para “é o que mereces”]. O personagem principal não é alguém que reencarnou, mas sim alguém que foi expulso de um grupo de heróis que não o achavam suficientemente bom. Então o personagem principal junta-se a outro grupo e encontra sucesso, enquanto as coisas se desmoronam para o grupo de heróis em que costumava estar. É semelhante a uma história de vingança.
Alguma vez trabalhou como editora de uma série de mangas Isekai?
Não uma série Isekai especificamente, mas tenho estado envolvida no planeamento de uma. Mas há algo nelas que… bem, honestamente, perguntei-me se fazer uma série Isekai seria uma boa decisão para o futuro daquele artista de manga. Inclusive se as pessoas lerem a série, não tem sentido para o artista se esse sucesso não puder ser ligado à sua próxima série. As séries Isekai têm muitas semelhanças entre si, por isso é difícil para um artista individual desenvolver uma base de fãs para si próprio através de uma. Os leitores não costumam reagir, dizendo: “Agora vou ver também as suas outras obras”.
Acho que é verdade que se não se consegue distinguir uma série de outra no género, provavelmente também não se vai lembrar do nome do artista.
Mas por outro lado, como é um género popular, é mais fácil para os novos artistas obter a aprovação das suas propostas, e há um grande benefício financeiro para o artista em termos do aumento de vendas devido ao facto da sua série pertencer a um género popular. O ideal é conseguir com que os leitores se tornem fãs da série e, ao mesmo tempo, do artista.
Antes de terminar, tem alguma recomendação pessoal de Isekai para nós, leitores de manga?
Claro! “My Next Life as a Villainess: All Routes Lead to Doom!” (arte de Nami Hidaka, história de Satoru Yamaguchi) tem uma história interessante e um apelativo elenco de personagens. E tecnicamente é uma história teni, mas “The Screwed-up Potions Turned to Be Soy Sauce, So I Cooked with Them [Hazure Poshon ga Shoyu Datta no de Ryori Suru Koto ni Shimashita]” (arte de Risuno, história de Fuji Tomato, e design de personagem por Yuichi Murakami) é outra que realmente estou a gostar de ler. Tem um conceito realmente único: uma dona de casa é transportada para outro mundo e apercebe-se que as suas defeituosas poções de cura são na realidade molho de soja, pelo que as utiliza para cozinhar.
Que obras Isekai recomendas?
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Fonte: SoraNews24