No final do ano 2016, quando aqui apresentei a minha opinião sobre a primeira adaptação do manga “Terra Formars” para anime, e apesar de todas as críticas que deixei à produção, guardei em mim uma réstia de esperança que a produção iria melhorar na sua sequela. Por essa altura, já “Terra Formars: Revenge” tinha sido transmitido, mas outras prioridades colocaram a franquia na minha lista de espera que, constato agora, foi bem justificada. Esta sequela trouxe consigo ligeiras melhorias, mas, a meu ver, insuficientes.
Uma divisão em 3 facções onde as baratas são as menos culpadas!
O frente a frente entre o exército humano (equipa Annex I) – que aterrou em Marte com a missão de encontrar a cura para um vírus mortal que está a afectar a população do planeta Terra – e as baratas que foram enviadas para lá anos antes e se desenvolveram ao ponto de medirem forças com os humanos, foi o centro de todas as atenções na primeira série. Estas baratas evoluídas, apelidadas de “terraformars” estavam em vantagem por essa altura, quer em relação aos humanos, quer em relação ao espectador, pois ambas as partes desconheciam muitas das suas capacidades.
Até à data, esse factor surpresa ainda prevalece de certa forma, mas os holofotes são agora partilhados por três grupos de intervenientes em vez de dois, uma vez que os interesses individuais das principais nações terrestres falaram mais alto e uma traição ocorreu no seio da suposta união que existia entre elas. Uma ocorrência que foi programada na Terra e posta em práctica em Marte. “Terra Formars: Revenge” incide sobretudo nessa “facada nas costas” que atingiu a tripulação Annex I e todas as nações que a ela pertencem. Porém, mesmo com grande parte da transmissão a apresentar esse confronto entre humanos, os terraformars não saem de cena – aliás, seria impensável que tal acontecesse – e surgem frequentemente para deixar a sua marca nestes confrontos.
No entanto, a meu ver, esta divisão em 3 facções não melhorou a qualidade da produção. No que toca à parte humana, resume-se essencialmente a lutas. Ou seja, não existe aquele interesse ou curiosidade de se perspectivar o que vai acontecer, pois os diálogos sobre o assunto são muito pobres nesse sentido. Isto em Marte! Já na Terra, onde os responsáveis das nações “puxam os cordelinhos” de todo o esquema, a qualidade falha por razões que falarei mais à frente.
Na ponta que sobra deste triângulo de combate estão os terraformars, criaturas que continuam a padecer de uma identidade. Embora algumas baratas se evidenciem no meio de milhares delas, nem mesmo essas mais especiais assumem um verdadeiro papel de destaque no desenrolar da trama, salvo seja ao nível da acção. Ao mesmo tempo que este aspecto isenta os terraformars da responsabilidade de tornar o enredo da obra mais apelativo, ele contribui para a decadência do mesmo.
Continuam os mesmos problemas! Sobretudo a sobreposição da quantidade à qualidade.
A réstia de esperança que guardei da primeira série advinha do facto de encontrar vários pontos de interesse nas personagens e na ideia do criador desta história. Mesmo não sendo as baratas um animal atractivo, cedo fiquei com a sensação que uma concepção diferente do enredo podia transformar Terra Formars numa obra muito melhor. Porque não aconteceu? Na minha opinião, aponto o número excessivo de personagens como o grande responsável. Este elenco já seria demasiado para uma série long run, quanto mais para uma produção de 13 episódios. Em Marte, o tempo é curto e os protagonistas são muitos – demasiados, mesmo depois de vários terem ficado pelo caminho na primeira série – pelo que se perde qualquer foco de atenção possível. Mais a mais, se já é complicado fixar muitos nomes de personagens, tudo fica pior quando são revelados os poderes das criaturas associadas a cada membro da tripulação, pois todos esses animais apresentam características bastante peculiares e, portanto, difíceis de reter.
De volta à Terra, e como já dei a entender em cima, algo semelhante se verifica. Ainda que o número de intervenientes seja mais reduzido, a confusão também está instalada. Neste caso, devido a o facto de não existir sobre os líderes das várias nações um tempo de atenção que permita ao espectador entrosar-se com as suas personalidades. Como consequência, são poucas as ilações que se podem tirar das suas conversas que não são mais do que jogadas estratégicas com vista à glória própria e individual. Por outras palavras, é tudo demasiado evasivo ou confuso, ao ponto de impedir o espectador de formular teorias ou perspectivar o que se vai passar a seguir. Aqueles pormaiores que tantas vezes envolvem o fã no mistério da trama e lhe despertam o interesse são, em “Terra Formars: Revenge” (título que resulta da conspiração que se desenrola), imperceptíveis, por um destes dois motivos.
Terra Formars: Revenge não é pior do que a sua prequela!
Com tantas críticas, posso estar a passar a ideia de que o anime piorou nesta sequela em termos de enredo. Não creio que isso tenha acontecido, embora o progresso seja difícil de medir por não ser muito significativo. Apesar de um autêntico bombardeamento de informação e de tanta confusão, é um pouco mais fácil seguir os acontecimentos em Marte de “Terra Formars: Revenge” do que na série de estreia que, importa lembrar, já apresentava alguns dos problemas mencionados em cima. Simplesmente, nesta sequela tornou-se uma missão quase heróica entender a conspiração do ponto de vista dos seus vários intérpretes. Ao mesmo tempo, a redução do número de personagens envolvidas em lutas facilitou um pouco a memorização dos nomes de algumas e dos seus poderes, tarefa que se verificava árdua até então.
Uma menção também para os flashbacks, pois estes continuam a “roubar” demasiado tempo de antena aos dois planos dos acontecimentos. Se alguns são relevantes, outros tornam-se irritantes devido à sua repetição.
Ambiente, Arte e Animação
Mais uma questão de gosto pessoal do que dizer que se trata de uma melhoria, importa referir que “Terra Formars: Revenge” apresenta um ambiente mais vivo e luminoso do que a sua prequela, marcada pelas trevas e pelo dark mode que pintava os seus planos de fundo. Desta vez, há muito mais acontecimentos em pleno dia em Marte, sendo esta a grande diferença comparativamente à produção de estreia.
Uma palavra também para a injecção de fan service no desenrolar da trama. A produção inclui um número de momentos suficiente para eu não poder deixar de referir a existência deste “serviço” nesta minha análise.
Relativamente ao traço de desenho das personagens, este mantém-se bastante carregado, ainda que se note um maior nível de detalhe nas cenas em relação à série anterior. Um ponto que pode estar relacionado com o facto dos ambientes serem agora mais luminosos e, indirectamente, apresentarem essa necessidade.
Já no que diz respeito à animação, e tratando-se de um anime que continua a apresentar muita acção – devido ao grande número de confrontos, sejam eles entre baratas e humanos ou apenas com estes últimos – continua a existir falta de fluidez nos combates. Ou, quiçá, não será errado dizer, uma consequência do traço grosso e carregado das personagens que, aliado aos seus físicos possantes e transformados que as agigantam, causam a sensação de movimento mais lento na perspectiva do espectador. Por outro lado, não existe preocupação em censurar os ataques, isto é, mudar a câmara nos momentos chave, o que é um aspecto positivo.
A rotatividade dos openings e endings
Se em relação à banda sonora não há muito que possa dizer, pois esta nem desagrada nem sobressai, tenho algumas palavras para as aberturas e encerramentos.
Primeiro, de destacar a rotatividade destes vídeos. Apesar de curta, a produção tem cerca de 2 openings e 3 endings diferentes que não transmite de forma seguida. Ou seja, se num episódio passa um, no seguinte pode passar outro diferente, e no a seguir voltar ao primeiro que passou. Não que isto acrescente algo em termos de valor à série, mas merece a referência por ser pouco habitual.
Segundo, ainda que, de um modo geral, as músicas e os vídeos sejam satisfatórios, parece-me apropriado destacar a música “Planet / The Hell” da banda de heavy-metal Seikima-II. Eu, que nem sou fã deste tipo de música, confesso que a mesma constitui a minha melhor recordação de toda a produção. A música encaixou que nem uma luva no vídeo de abertura que acompanha e evidencia os terraformars em prol dos humanos.
Terra Formars: Revenge – Juízo Final
Assim termino uma análise que provavelmente assinala também o fim da minha ligação com esta franquia. Caso para dizer que desapareceu a réstia de esperança que tinha em ver o seu potencial melhor aproveitado. Porque de facto foi isso que me levou a ver “Terra Formars: Revenge”. Apesar da sua adaptação de estreia não ter sido grande coisa, eu consegui encontrar nela alguns pontos de interesse que, trabalhados de forma diferente, podiam tornar a obra muito mais interessante.
Como disse em cima, e agora acredito mais do que nunca, a quantidade de personagens é excessiva, e as linhas traçadas no enredo, entre as várias organizações associadas à expedição a Marte, são demasiado confusas. Para lá disto, sobram os combates entre personagens que não são propriamente fabulosos.
Concluindo, como o potencial não é o que determina a qualidade final de uma obra, cabe-me dizer que dedicar atenção a esta franquia é tempo perdido.
Terra Formars: Revenge – Trailer
Análises
Terra Formars: Revenge
Uma produção que apresenta ligeiras melhorias em relação à sua prequela. No entanto, continua longe de um patamar de qualidade aceitável, embora se deva salientar que tinha material para isso.
Os Pros
- Opening "Planet / The Hell"
Os Contras
- Número excessivo de personagens
- A origem da conspiração - que dá título à série - apresenta diálogos dos quais não se consegue tirar quaisquer ilações
- Flashbacks repetitivos que consomem tempo precioso da trama