Se ainda não viste Umibe no Étranger, aconselho-te a fazê-lo! Para além de ser um filme com duração de menos de uma hora, tem uma história cativante e relaxante, bem como um estilo gráfico muito apelativo!
Umibe no Étranger – Análise
Quando vi que foi produzido pela Blue Lynx, fiquei curiosa e com altas espectativas! Afinal estamos a falar da produtora de filmes yaoi (boy’s love) que tornou possível a adaptação de mangas como Given e Saezuru Tori wa Habatakanai (“Twittering Birds Never Fly – The Clouds Gather”).
Animação: estilo gráfico
As minhas primeiras impressões relativamente à animação deste filme foram: Umibe no Étranger é refrescante, cheio de cor e flores, e com uma vibe primaveril e de verão. Apaixonei-me pelas diversas paisagens do mar e a forma como foram animadas.
O estilo gráfico e técnico dos backgrounds é repleto de padrões coloridos e imagens pintadas analogicamente. Fizeram-me lembrar os filmes do estúdio Ghibli, como os cenários interiores, por exemplo, do filme Karigurashi no Arrietty.
O segundo aspeto visualmente marcante é o contraste entre o traço das personagens e os backgrounds. Enquanto os backgrounds têm um estilo gráfico mais complexo e característico da pintura, as personagens têm um traço simples, sólido e contrastante, mas ainda assim presente e claro na animação.
O terceiro pormenor que me marcou foi a presença de elementos da culinária japonesa e o aspeto da comida, similares à realidade. As suas cores vivas são muito apelativas, tanto que me provocaram apetite imediato. Adoro quando introduzem elementos mais tradicionais japoneses, como os pratos típicos, e o facto de estes serem um elo de aproximação entre as personagens neste filme.
O último pormenor presente neste filme que adorei foi os gatos! Amei a forma como estão presentes ao longo da narrativa, participando de uma forma caricatural fofa e engraçada, e interagindo com as personagens. É interessante ver como os gatos não só fazem companhia aos personagens principais, como aparecem nas mesmas posições que estes.
Umibe no Étranger – Análise à História
Desde o início do filme que a narrativa tem um desenrolar fluido e rápido, mostrando-nos as personagens e o local da ação. Gostei da forma como nos foram apresentadas as tarefas do dia-a-dia da personagem principal, Sho, bem como a relação familiar que este estabelece com quem habita.
A história torna-se ainda mais interessante, quando surge a segunda personagem principal, Mio, que cativa a atenção de Sho, quando o vê sentado todas as noites no mesmo banco.
Ao longo de Umibe no Étranger, a história é contada em dois tempos. Numa primeira fase é estabelecida uma aproximação suave e rápida entre as duas personagens principais, Sho e Mio. É muito engraçado assistir à amizade entre os dois e o desenvolvimento desta, especialmente quanto às guerras de ciúmes!
Numa segunda fase, é interessante assistir à passagem do tempo mais amplamente, a partir de algumas mudanças nos backgrounds, como o banco à beira mar. No início do filme este está vazio, mas ganha à sua volta muitas flores, após os três anos de separação entre Sho e Mio.
Gostei da forma como este banco permanece sempre como um ponto de encontro entre as duas personagens, e a forma como as flores oferecidas por Mio a Sho no início do filme, se tornam também um símbolo de ligação entre os dois, quando Sho as plantas à beira do banco e estas crescem.
Estejam preparados para uma narrativa sem tabus! Admirei a crueza com que são abordados vários temas, desde os relacionamentos familiares, pessoais e amorosos, às questões de género e orientações sexuais!
Personagens principais: questões de género e orientação sexual.
Sho é apresentado desde o início como um rapaz doce, sorridente, prestável e cheio de energia. Este vive desde a sua adolescência com problemas em assumir o seu género e orientação sexual, não só por dizerem que é parecido com uma rapariga, como também por acabar por perceber que gosta de rapazes.
A um certo ponto da narrativa surge uma questão importante: “Qual é o mal em um rapaz gostar de outro rapaz?”. A resposta a esta pergunta é procurada por Sho ao longo dos anos, mas é ao conhecer Mio que este percebe o verdadeiro significado do amor e da relação com o mesmo género. Ao perceber tudo isto, este tem uma certa hesitação em agir e em exprimir-se no início, mas acaba por tomar uma decisão que será a mais importante na sua vida.
Mio surge no início do filme como um rapaz solitário e misterioso, despertando a curiosidade e a atenção de Sho, que acaba por dar o primeiro passo ao aproximar-se de Mio, ao lhe falar pela primeira vez.
Com o retorno de Mio, após três anos, este tenta dar os seus primeiros passos na relação com Sho, ao assumir os seus sentimentos. Assistimos às tentativas de aproximação de Mio e ao destaque das inseguranças de Sho. Gostei de ver o realismo nas ações dos dois personagens e a forma fofa como Mio tenta aproximar-se mais intimamente de Sho, para ser evitado logo de seguida.
A ternura e sinceridade nos gestos trocados entre os dois, e os pormenores mais fofos e íntimos das suas ações, adicionam um bónus à narrativa, ao mostrar ao espectador a forma como a relação entre dois homens é um ato natural e normal, a partir do momento em que estes têm um sentimento recíproco.
Um segundo ponto importante em Umibe no Étranger, é o reconhecimento do género e orientações sexuais pelas próprias personagens. Para além disso, posso dizer que este filme nos presenteia também com momentos típicos de um filme yaoi, e com aspetos que me apanharam de surpresa!
O último aspeto relevante a ser referido, é não só o destaque da relação entre duas pessoas do mesmo sexo a partir de duas personagens masculinas (Mio e Sho), como também a partir de outras duas personagens femininas (Eri e Suzu).
Aspetos negativos
Achei que a passagem do tempo, entre a separação das duas personagens e a sua reunião, foi muito rápida, o que me causou uma certa confusão inicial. Só foi percetível primeiro pelas mudanças físicas, como a altura dos personagens ou o cabelo mais comprido de Mio, e só depois é que se confirma a passagem do tempo, com o Mio a dizer a sua idade e a referir que se passaram três anos.
Umibe no Étranger – Análise
Conclusão
Umibe no Étranger é um filme de esperança, de procura da felicidade e de aceitação da nossa entidade como pessoa. A sua temática é diluída numa narrativa contemplativa, colorida e muito calma, que nos faz assistir a um filme com uma problemática recorrente na sociedade e com um estilo típico de um filme yaoi.
A partir da história de vida de Sho e Mio, é-nos mostrado que não devemos de ter medo de aceitar quem somos, porque no final nunca estamos sozinhos e haverá sempre alguém que nos apoiará. Estejam à espera não só de se depararem com as questões de género e orientação sexual, como também de serem surpreendidos! Não estivéssemos nós a falar de um filme yaoi…
Umibe no Étranger – Análise
Trailer
Análises
Umibe no Étranger
Deixa-te encantar pela história e relação entre dois rapazes, Sho e Mio, que nos mostram que devemos assumir a nossa sexualidade sem medos e aceitar quem somos, porque no final nunca estamos sozinhos e haverá sempre alguém que nos apoiará.
Os Pros
- Narrativa sem tabus: crueza ao abordar várias questões sociais
- Estilo gráfico da animação
- Contraste entre o traço das personagens e os backgrounds
Os Contras
- Passagem do tempo muito rápida, entre a separação e a reunião das duas personagens principais