Este artigo representa um desabafo pessoal. Uma abordagem a um acontecimento da história de Shingeki no Kyojin (Attack on Titan) recentemente adaptado para o anime. Aos fãs da obra que não têm pelo menos a série televisiva em dia é recomendado que parem de ler este artigo de imediato. SPOILERS JÁ DE SEGUIDA!
Tudo se passou no episódio 55 do anime. Intitulado “Midnight Sun”, o dito cujo presenteou os espectadores com um dos momentos mais tristes e difíceis de digerir de Shingeki no Kyojin até à data. Erwin Smith e Armin Arlert. Duas vidas a esfumarem-se e a oportunidade de salvar um deles. Mas quem? Com base em que critérios? A decisão final da escolha mais difícil de sempre assentou nos ombros de Levi. Isto quando ainda tentávamos respirar de um role de acontecimentos épicos e eletrizantes.
Façamos então uma viagem ao passado recente. Ao momento em que Levi teve que injetar o soro dos Titãs num destes dois, a fim de o salvar, e deixar o outro morrer. A decisão foi precedida de conflitos entre várias personagens. Instantes esses que também nós, espectadores, aproveitamos para tomar um partido. Fosse esta uma situação real e não sei até que ponto não faleciam os dois até sermos capazes de reagir à dureza da situação. Porém, sentados no sofá a comer pipocas, torna-se impossível não fazer uma escolha.
Erwin Smith vs Armin Arlert
Posto isto, coloco a questão óbvia e respondo no imediato. Armin ou Erwin? Qual dos dois salvariam vocês, neste duelo travado no limbo que separa a vida do além? Erwin Smith seria a minha escolha. Mesmo também sendo um admirador de Armin. Daqui resulta a tremenda dificuldade desta escolha e o impacto deste duelo em mim. Eu que, ao longo das minhas análises semanais e sazonais a Attack on Titan, sempre mostrei a minha preferência pelo trio Erwin Smith, Hange Zoe e Levi em relação a Eren Yeager, Mikasa Ackerman e Armin Arlert.
Todavia, não deixa de ser curioso. Erwin conquistou-me logo na primeira temporada com o plano engendrado para capturar a Female Titan em plena Floresta das Árvores Gigantes. Ganhou pontos que lhe deram uma vantagem muito confortável no meu TOP 3 de personagens predilectas em relação às que seguiam atrás. Mais à frente, Erwin teve outros momentos bastante bons. No entanto, não ao nível do de Annie Leonhart.
Erwin merecia mais descobrir os segredos escondidos na cave da casa de Eren do que Armin descobrir a praia e o mar para lá das muralhas.
Por seu lado, Levi e Hange Zoe foram fortalecendo as suas posições de forma mais suave, mas altamente consistente. Isto claro, até Levi decidir criar um “registo sísmico” neste gráfico de popularidade por força do duelo (de sentido único!) que travou com o Beast Titan.
Armin Arlert – O futuro líder dos Survey Corps?!
Não obstante isto, o desenrolar da trama foi reforçando a ideia de que Armin Arlert seria o sucessor de Erwin Smith. Um estratega muito acima da média, como vários momentos já o deixaram claro. Inclusive nesta parte final da terceira temporada. Quando digo “sucessor” do Comandante é por força das semelhanças encontradas entre ambos no que toca aos seus maiores talentos. Não num sentido de líder dos Survey Corps. Embora, a meu ver, faça sentido que o cargo seja entregue a personagens com as características destes dois. Contudo, pelo menos por agora, Armin não assumirá essa função.
Ora, como é sabido, a escolha final de Levi favoreceu Armin. Independentemente disso, a progressão inevitável da linha do tempo escrevia “passado” na testa de Erwin e “futuro” na de Armin. O já mencionado sentido transitório. Por outras palavras, um já tinha muitas provas dadas, enquanto o outro ainda estava a começar a jogar as primeiras cartas. Pois bem, este pode ter sido o grande fator que influenciou a minha escolha neste duelo cerebral.
Por tudo o que fez pela Humanidade, e pelo que se mostrou disposto a fazer nas suas últimas horas de vida, Erwin merecia sobreviver e continuar a comandar as tropas. De um outro modo, poderia dizer que Erwin merecia mais descobrir os segredos escondidos na cave da casa de Eren do que Armin descobrir a praia e o mar para lá das muralhas. Com muita pena minha, Hajime Isayama entendeu que não deveria ser assim.
De uma perspetiva mais otimista, não será errado de todo dizer que nesta perda a Humanidade sairia sempre a ganhar. Armin tem potencial para justificar esta escolha. Ficaria pior que estragado se este embate de salvação colocasse qualquer elemento do trio principal dos Survey Corps em equação com Eren ou até mesmo Mikasa.
Será que Hajime Isayama não identificou espaço nos acontecimentos futuros para duas personagens tão cerebrais?
Eren Yeager, o suposto protagonista, está longe de ser das personagens mais interessantes e consistentes da criação. Já Mikasa, por muito boa lutadora que seja, vê as suas atenções reduzidas quando o espectador conhece Levi. Em simultâneo com isso, o facto da rapariga viver cegamente para proteger Eren também não joga muito em seu favor.
Resumindo, o cenário criado foi o mais doloroso de todos os possíveis. Hajime Isayama não teve dó nem piedade. Com outros voluntários disponíveis, porquê este duelo pela sobrevivência entre duas das melhores personagens da trama? Será que o autor não identificou espaço nos acontecimentos futuros para duas personagens tão cerebrais? Teve receio de mais à frente ser incapaz de dividir as atenções entre a maturidade diabólica de Erwin e a ascensão inegável de Armin?
Veremos o que por aí vem. Para já, e apesar de tudo, reconheço lá no fundo a qualidade excecional deste momento. Quer pela forma como foi construído, quer por toda a carga emocional envolvida. Até pelo comportamento do próprio Levi! No meio daquela avalanche de situações e comportamentos inesperados, o sobrinho de Kenny Ackerman também não quis ser diferente. Sentimental numa primeira fase, racional (dizem os fãs de Armin) numa segunda, por mais tempo que Erwin já tivesse caminhado pelo Inferno ao longo da sua vida, o Comandante talvez preferisse continuar lá por mais uns tempos. Por mais quentes que fossem as labaredas que o rodeavam, a esperança de um dia descobrir os segredos que tanto ambicionada afirmava-se como o seu escudo protetor inquebrável. O facto de Erwin ter perdido a vida quando estava tão perto de aceder à cave em Shiganshina acabou por ser um anti-clímax na perspetiva individual da personagem.
Já lã vão vários dias desde o acontecimento. Mais ainda se tiver em conta o tempo em que o li no manga. No presente, e de espírito mais tranquilo, o nível de excelência de toda a cena conseguiu finalmente sobrepor-se ao da tristeza pela personagem perdida. A minha admiração pela obra saiu reforçada.
Aliás, se for para continuar a engrandecer Attack on Titan, venham mais momentos assim. O objetivo é continuar a ser agradavelmente surpreendido, numa altura em que apenas me arrependo de seguir esta obra em simultâneo no manga e no anime. Cada vez mais me convenço que este acompanhamento em jeito multi-tarefa condiciona os meus níveis de entretenimento. Especialmente quando as adaptações são de qualidade, como acontece com Shingeki no Kyojin. Invejo aqueles que só assistiram a este duelo no anime.
Obrigado por tudo, Comandante!