25 de fevereiro, 2022.
Uma sexta-feira que ficará registada na história dos videojogos. Nesse dia, milhões de pessoas em todo o mundo preparavam-se para receber o próximo grande título da FromSoftware, com toda a pompa e circunstância que esse evento exigia. Jogadores veteranos e novatos uniam-se lado a lado como um só na espera pela disponibilização do jogo. A expectativa era colossal e, apesar da qualidade do título estar mais que provada aquando do Closed Network Test, a dúvida pairava no pensamento coletivo desta multidão: será que Elden Ring seria capaz de satisfazer toda esta antecipação? Lá no fundo sabíamos a resposta a esta questão. Havia qualquer coisa de especial que ditava o sucesso iminente do jogo. Ainda que não poderíamos imaginar o quão epopeico esse sucesso seria.
E ali estava eu, inquieto, a aguardar pela meia noite de dia 25 para que o botão “Jogar” aparecesse a verde na Steam. Não houve muitas vezes na minha vida em que estava tão ansioso por experienciar uma obra cultural como naquele momento. E não era “só” isso. Aquele momento era especial para mim. Pela primeira vez tinha-me juntado à comunidade Soulsborne num lançamento como fã. Demorei anos a conseguir apreciar este tipo de jogos. Anos! Independentemente do título em questão, de um modo geral, nunca fui um bom jogador. Alinhando isso à dificuldade que estes jogos apresentam, eu era carne para canhão (ou no espeto se preferirem), constantemente dizimado sem dó nem piedade. Obviamente que isso deixava-me frustrado. Tentei imensas vezes Dark Souls e Bloodborne sem sucesso… Até que, eventualmente, se deu o clique.
A culpa era minha.
Não sei exatamente quando percebi isto. Na verdade, acho que não existe um momento exato. Foi um processo. E foi bastante demorado. A pouco e pouco, o meu cérebro acabou por processar a fórmula que os jogos ofereciam. E simplesmente aconteceu: tornei-me fã.
Sabiam que Hidetaka Miyazaki, o criador de Dark Souls, Bloodborne e Sekiro, também nunca teve muita habilidade para jogar videojogos?
“Nunca fui um jogador muito habilidoso. Eu morro muito”, disse. “Então, no meu trabalho, quero responder à pergunta: se a morte deve ser mais do que uma marca de fracasso, como lhe dou sentido? Como tornar a morte agradável?”
“Como tornar a morte agradável?“… Esta pergunta é mais do que isso: é a própria resposta! A morte nestes jogos é a principal mecânica que faz deles algo tão especial. E eu não percebia. Deixava-me levar pela frustração porque não encontrava o propósito para a morte. Olhava para cada momento de fraqueza como uma perda de tempo, quando era exatamente o oposto. Cada morte, ensinava-me! Dava-me algum tipo de informação que outrora eu não possuía. Mostrava-me o padrão dos inimigos, os seus poderes e fraquezas; nuances do terreno em que me encontrava (fosse elevação, precipícios ou armadilhas); tipos de estratégias que eram ou não eficazes. Mostrava-me que tinha que ter paciência e perseverância, e que me devia fazê-lo com graciosidade, como numa dança, nos tempos certos de uma música inaudível. E tudo isso passava-me ao lado antes. Daí a experiência ser tão vazia… porque eu não lhe retirava sentido. Dou graças aos céus por ter percebido a tempo o verdadeiro significado destes jogos. Isso mudou a tempo de Elden Ring.
Eu duvido que pudessem sequer imaginar… que aquele que comanda as estrelas… dando à vida todo o seu brilho.
Elden Ring. Oh, Elden Ring….
Despedaçado… Por alguém… ou algo.
Não me digais que não vedes.
Olhai para o céu. Ele arde.
Elden Ring é uma das melhores experiências que alguma vez tive a oportunidade de viver em toda a minha vida. Dentro e fora dos videojogos. É uma obra de arte sem igual que me fez (e ainda faz) extremamente feliz. Terminei-o 3 vezes, completando os 3 principais finais da história, e ainda me é inacreditável pensar que este jogo é uma realidade. Elden Ring é gigante, em quantidade e qualidade, e deve ser referenciado futuramente como um marco na indústria no qual muitos outros jogos devem tirar notas de como abordar design. Não há muitos jogos como este. Simplesmente não há. E, por causa disso, logo após o terminarmos chega o vazio: o sentimento de que algo bom acabou e não o poderemos vivenciar novamente com o mesmo fulgor da primeira vez. É horrível… mas nada temam. Como se costuma dizer: “Não chorem porque acabou, sorriam porque aconteceu!” … ou algo assim do género.
Bem, mas eu não estou aqui para apaziguar a vossa dor só com palavras. Estou aqui para tentar preencher esse vazio. Caros leitores, sois das pessoas que terminou Elden Ring e agora não sabem mais que outra experiência pode preencher esse vácuo no vosso peito? Eu tenho algumas sugestões de obras fabulosas que tenho a certeza que ficarão convosco para sempre, tal como ficaram comigo… tal como Elden Ring ficou. Preparados? Vamos à lista!
Nota: Já agora, leiam a nossa análise a Elden Ring (abaixo do título deste artigo!).
Terminei Elden Ring, e agora? – 5 jogos para preencher o vazio
Shadow of the Colossus
Um clássico da PlayStation 2 cujo remake pelas mãos da Bluepoint Games (o mesmo estúdio por detrás do remake de Demon Souls) ofereceu à geração atual a possibilidade de jogar esta obra de arte monumental, inicialmente criada pela TeamIco. Shadow of the Colossus é um jogo único no qual controlamos o jovem Wander numa jornada para salvar uma donzela da morte. Com a ajuda do seu cavalo Agro, ambos transportam a mulher para um templo no qual uma misteriosa voz incita o protagonista a eliminar 16 bestas míticas que vagueiam pelos montes, vales, ruínas e riachos daquela terra amaldiçoada. Estes seres gigantescos são denominados de Colossi e toda a jogabilidade é centrada nas batalhas contra eles e na exploração do cenário solitário para chegar ao próximo alvo. Preparem-se para embates de cortar a respiração e momentos de partir o coração. Este é daqueles títulos que merecem um artigo para fazer justiça à sua qualidade! Talvez o faça num futuro próximo. Entretanto, confiem em mim: jogam-no o mais rapidamente possível!
The World Ends With You
Apesar de nos últimos tempos a Square Enix andar na boca dos média e da comunidade pelos piores motivos, é inevitável mencionar que a empresa tem uma quantidade substancial de propriedades intelectuais a transbordar de qualidade. Sou fã do que eles fazem desde sempre e ainda há uma lista de jogos clássicos da empresa que me faltam jogar. Até há um ano atrás, um deles era The World Ends With You. Com a chegada do anime e da sequela NEO: The Word Ends With You, não podia adiar mais (até porque sou fã de Kingdom Hearts e há ligação entre ambos os universos!). Este foi uma grande surpresa. Eu já esperava que fosse bom mas nunca pensei que fosse tanto. Foi um daqueles jogos que também me deixou com um vazio no fim, muito por culpa da história e do setting atrativo para mim – a cultura urban. Não me vou alongar mais aqui… se quiserem saber a minha opinião detalhada sobre esta preciosidade, fiquem com a minha análise ao jogo.
Kingdom Hearts
Não podia faltar Kingdom Hearts nesta lista. É a minha série de jogos predileta, simplesmente porque significa muito para mim. A vários níveis. Desde a jogabilidade, até à história que junta as personagens da Disney e da Square Enix. Não quer dizer que seja a melhor a nível técnico ou até a nível criativo. Mas é-me muito especial. Ficou para sempre marcada na minha vida e vai-se manter assim, para o resto dos meus dias. E não foi só a mim que isto aconteceu, há cada vez mais fãs da franquia por esse mundo fora. Caros leitores, vocês podem ser os próximos. Acreditem que vale a pena. E se querem saber ao detalhe porquê, convido-vos a ler o meu artigo especial dos 20 anos de Kingdom Hearts.
Chrono Trigger
O que acontece quando mentes brilhantes se juntam para criar uma obra? Acontece Chrono Trigger, provavelmente o jogo mais perto de atingir o que idealizamos como perfeito. Acham que estou a exagerar? Pois bem, não estou. Chrono Trigger é um esforço conjunto entre o grupo que ficou conhecido como “Dream Team“: Hironobu Sakaguchi, criador da franquia Final Fantasy; Yūji Horii e Akira Toriyama, dois designers que trabalharam na franquia Dragon Quest (e claro… mencionar que este Akira Toriyama é a mesma pessoa que criou Dragon Ball); Kazuhiko Aoki, produtor do jogo; Masato Kato que escreveu grande parte da história; e o compositor Yasunori Mitsuda que fez grande parte da banda sonora até Nobuo Uematsu, compositor musical da franquia Final Fantasy, se ter juntado à equipa para ajudar. Com esta equipa podia-se esperar algo diferente de maravilhoso? Não! Este jogo é um JRPG em 2D com uma narrativa fabulosa e um sistema de combate baseado no tempo de cooldown de cada personagem até ficar apta para voltar a usar uma habilidade (também conhecido como Active Time Battle). O jogo tem 13 finais, um cast de personagens diversificado, uma banda sonora épica e não há uma única crítica que lhe consiga fazer. É daquelas experiências que muda para sempre alguém. Mais um que merece um artigo totalmente dedicado. Talvez um dia.
The Legend of Zelda: Breath of the Wild
Este foi o jogo que joguei menos de entre todos. Pura e simplesmente porque não tenho uma cópia do mesmo. Quando joguei foi em Nintendo Switch’s de amigos, durante períodos de tempo que pareceram segundos. Não foram segundos… pareceram segundos, repito. Breath of the Wild é um excelente nome para este jogo de Zelda. “O Sussuro Selvagem”. Sabe tão bem perdermo-nos nesta Hyrule cheia de perigos inquietantes à espreita a cada clareira de árvores. A liberdade e o sentimento de exploração é traduzido de forma fenomenal neste título que, tal como Elden Ring, não agarra a mão de ninguém e lhe diz para onde tem que se dirigir para completar o próximo objetivo. Aqui as regras são definidas pelo jogador, e o jogador tem que arcar com as consequências das mesmas… para o bem ou para o mal. Com isto, fica a promessa a mim mesmo que preciso de adquirir este jogo antes que a sequela fique disponível e eu fique sem tempo.
5 sugestões que acredito que vos ajudarão a ultrapassar esta ressaca pós-Elden Ring. Espero que de uma forma ou de outra vos facilite um pouco o processo doloroso. Mergulhem nestas obras… e sejam felizes!
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