- Título: Trigun Stampede
- Adaptação: Manga
- Produtora: Orange
- Temporada: Inverno 2023
- Género / Demografia: Shounen, Ação, Aventura, Sci-fi
Olá a todos! Bem vindos a mais uma série de comentários semanais, desta vez, sobre o inesperado comeback de um dos meus animes favoritos: Trigun!
Trigun Stampede Episódio 1 – Opinião
Nesta temporada de inverno recheada de grandes estreias, Trigun Stampede era uma das que mais ansiava. Contudo, este anime dos anos 90, que viveu lado a lado com o clássico Cowboy Bebop, voltou para nós 25 anos depois sob uma forma renovada: a de animação 3D / CGI.
Digamos que o CGI não tem muito boa reputação no que toca à animação japonesa, e o meu primeiro instinto foi torcer o nariz. Não só à animação, como aos renovados designs das personagens que tanto adoro. O Vash sem o seu cabelo “vassoura”? Sem o seu icónico casaco vermelho? O meu otimismo em relação a este remake não era muito grande. No entanto, respirei um pouco de alívio quando soube que a produção estava a cargo do estúdio Orange, conhecido pelos animes Beastars e Land of Lustrous. Assim, decidi manter a minha mente aberta, dando uma oportunidade a novas abordagens de um anime que me é tão querido. Por agora, posso dizer que o resultado da reencarnação de Trigun superou todas as minhas expetativas.
Revisitar Trigun: um clássico esquecido
Mesmo sendo contemporâneo de Cowboy Bebop, Trigun, produzido pela Madhouse em 1998, não usufrui da mesma popularidade nem do mesmo reconhecimento. Apesar das suas raízes de ficção científica, com uma perna num cenário reminiscente do faroeste, Trigun parece não ter sobrevivido (muito bem) ao escrutínio dos tempos. Raramente se fala de Trigun na comunidade de anime, e eu apenas me apercebi da sua existência porque me apareceu timidamente nas recomendações da Netflix. Felizmente, cliquei e fiquei completamente abismada com o que encontrei.
Encontrei uma série com uma animação um pouco datada, mas super rica nas suas questões de moralidade e ética. A demandada de Vash, uma personagem tão misteriosa quanto as suas circunstâncias, na procura de “amor e paz” é tão fascinante quanto trágica. E foi assim que Trigun capturou a minha total atenção. Cada episódio que via cimentava a verdade cade vez mais inegável de que me deparava com uma masterpiece como nunca vira antes. Inesperadamente, Trigun fascinou-me como poucos animes conseguiram até aos dias de hoje.
Por isso, a todos aqueles que tenham interesse em Trigun Stampede, não posso deixar de recomendar a série original, que tem o seu próprio charme. Se são tão fãs das vibes dos animes “velhos” como eu, Trigun é o anime ideal para vocês!
Trigun Stampede Episódio 1
Começar a matar
Trigun Stampede não fez por menos e começou o episódio com uma cena digna de Starwars. Toda a sequência da fuga de Vash e do seu irmão gémeo, Knifes, na pequena nave espacial no meio de inúmeras explosões deixa, automaticamente, uma impressão muito positiva acerca da animação. Apesar do passado de ambos os irmãos ser revelado muito mais cedo nesta versão que no anime original, não considero esta abordagem algo de problemático em termos de storytelling, já que a causa destes eventos catastróficos, bem como a relação dos irmãos com Rem não foi revelada para quem mergulha no universo de Trigun pela primeira vez. E acreditem, que se já acharam a coisa muito trágica, não se preocupem porque ainda não viram nada.
Caras familiares
Voltando ao tempo presente, regressamos ao familiar ambiente desértico de Trigun que, nesta versão, está recheado de criaturas bizarras que dão vida a este planeta hostil. É, exatamente neste cenário, que reencontramos Meryl Stryfe, a familiar agente de seguros que decidiu de mudar de profissão (e de outfit). Nesta reincarnação, Merly é aspirante a repórter, sedenta por uma manchete sensacional. Mas esta mudança até que faz sentido, tendo em conta que ela sempre gostou de meter o nariz onde não era chamada. Já o seu senpai, a personagem original Roberto de Niro (onde é que eu já ouvi esse nome?) fornece um bom contraste à atitude proativa de Merly, pois ele é um homem de meia idade com um crónico cansaço existencial.
A forma como Merly e Roberto encontram a personificação de hot news é caricata. Vash está pendurado de pernas para o ar a fazer alguns dos seus muitos shenanigans habituais. Os fãs de Trigun poderão concordar que esta introdução está spots on em termos de caracterização do quão (adoravelmente) patético Vash pode ser. Para além disso, esta introdução é muito eficaz em dar logo um cheirinho das contradições do pistoleiro pacifista que diz “não ser muito bom em lutas”.
Plantas e plantinhas
O novo setting em que Vash, Merly e Roberto são colocados, apesar de original, segue uma ideia já presente no anime original. Vash zela pelo bem-estar das pequenas cidades e dos seus cidadãos. A única diferença é que estes cidadãos recebem-no muito bem, e não com vontade de o matar pela enorme quantia de dinheiro que ele vale. A razão de tal empatia deve-se à boa vontade de Vash em reparar a Plant da cidade. Para os fãs de Trigun, é sabido que as Plants são uma parte muito importante da narrativa. Elas são as únicas fontes de energia disponíveis neste planeta super seco. Sem elas, as comunidades estão condenadas à extinção.
Nesta versão, as Plants também têm um visual diferente. Apesar de ainda gostar muito do visual antigo (quase vintage) de “lâmpada”, um moderno frasco luminoso também é bonito de ser ver. Para além destas pequenas alterações, estou muito curiosa para ver a forma como Stampede irá explorar a relação de Vash com as Plants, já que o anime de 1988 apenas tocou levemente no assunto por falta de source material em que se apoiar, já que à data, o manga ainda estava a ser publicado.
O íman de problemas
Como já devem ter percebido, Vash é um autêntico íman de problemas. E o amor que os cidadãos têm pelo seu benfeitor às vezes é menor do que o amor pelo dinheiro que ele vale. Existe assim, uma grande hesitação em o ajudar quando a polícia o vem buscar pelos alegados crimes que ele cometeu.
Na verdade, Vash é daquelas pessoas que não gosta nada de pedir ajuda, mesmo quando está a levar uma bruta de uma sova da polícia. Assim, lá têm de ser Meryl e Roberto a interceder por ele, acabando por envolver Vash num duelo (pois a outra opção era ir para a cadeia). O problema é que Vash se calhar até preferia ir para a prisão, porque ele odeia violência mais do que tudo na vida. Mas, como faz parte da história arrastar Vash para situações que ele não gosta, tudo isto me soube um tanto familiar.
A Drama Queen suprema
Vash não é Vash sem momentos ridículos e hilariantes de absoluto pânico e choro. Já em 1998, o homem se tinha esquecido de pôr balas na pistola e agora cometeu o mesmo erro. Acredito que a produção quis ir buscar um pouco desta idiotice nostálgica do Vash e sinceramente agradeço o gesto. Estes momentos nunca são demais. Toda a sequência do duelo é fenomenal. Mostra o quão bom o CGI pode ser, com movimentos de câmara dinâmicos e uma coreografia de luta eletrificante que me dá vontade de gritar “GOOO VASHH!” cada vez que ele se desvia de uma bala com todo o estilo do mundo. Também mostra claramente as tendências humildes de um Vash que acredita que só ganhou porque “teve sorte”.
Assim, o nosso episódio termina com outra drama queen que quer tudo menos paz: Million Knifes. A tocar piano dentro de um fato tipo casulo que é tão estranho e aterrorizador quanto ele (apesar de parecer bastante confortável), ele jura acabar com a humanidade e aterrorizar a vida do irmão no processo. Resumindo e concluindo, Vash é provavelmente a pessoa com mais legitimidade para dizer que o “mundo inteiro se uniu para o tramar”. Mas essa é, ironicamente, a essência de Trigun. Os ideias de Vash estão contra a ordem natural do mundo e dos instintos humanos e, por isso, são constantemente postos à prova. O mais interessante é ver até que ponto ele está disposto a ir para resistir a estas tentações, ou se é mesmo possível sequer resistir a elas.
Trigun Stampede Episódio 1
Conclusão
Trigun é um anime muito intrigante. As suas questões éticas levam-nos a reavaliar os nosso valores, mas nunca nos apontam na direção de uma “resposta certa” porque na realidade, não existe apenas uma resposta possível para estes dilemas. Aliás, nesta obra, Vash é quem vive o maior dilema de praticar o amor incondicional por todas as vidas, num mundo cruel e violento.
Trigun Stampede é, na minha opinião, um recontar moderno desta história que está bem encaminhado. Apesar de divergir da fonte, especialmente ao mudar a profissão de Meryl e apagar por completo a existência de Milly, mantem a essência do mundo e das suas personagens. Assim, há que felicitar o estúdio Orange por ter a coragem de explorar o potencial ilimitado desta obra, renovando os seus elementos para se adequarem aos dias de hoje. Stampede é também uma importante prova de que existe espaço para o CGI na animação japonesa, podendo vir a conviver lado a lado com a animação 2D (de forma amigável).
Independentemente do curso que Trigun Stampede decidir tomar, este é claramente um trabalho com muita paixão por detrás. Este projeto não só conseguiu transportar-me para o familiar universo de Trigun de 1988, como abriu-lhe portas a mais possibilidades. Mal posso esperar para ver os caminhos que Trigun Stampede irá tomar nos próximos episódios! Estou super curiosa!
E vocês? O que acharam desta versão nova de Trigun? Comentem abaixo a vossa opinião sobre Trigun Stampede Episódio 1!
Até para a semana!
Análises
Trigun Stampede Episódio 1 - Opinião
O remake do clássico anime de 1988 voltou para nós sob a forma de animação 3D / CGI com visuais renovados e uma nova abordagem à história intemporal de Yasuhiro Nightow.
Os Pros
- Animação CGI é a melhor que eu alguma vez vi
- Os novos designs de personagens são apelativos
- Mantem a essência do original, reinventando-o
Os Contras
- Animação 3D / CGI pode não agradar a bastantes pessoas
- Revela (parcialmente) "mistérios" do anime original no primeiro episódio
- Não tem a Milly 🙁