A temporada de animes do outono passado ficou marcada pela transmissão de “Akatsuki no Yona”. Uma obra classificada como shoujo que rapidamente se tornou muito conhecida e que ainda hoje continua a receber rasgados elogios. Embora este género de séries não faça parte dos meus preferidos, decidi aventurar-me pelo Reino de Kouka, de forma a tentar perceber o que tão de bom tinha esta produção da Studio Pierrot.
Akatsuki no Yona | A História
Yona é uma rapariga que leva a vida de acordo com o título que ostenta (Princesa do Reino de Kouka), ou não fossem as suas únicas preocupações coisas altamente miudinhas e irrelevantes para a vida. Contudo, certo dia, a sua vida sofre um duro revés. Soo-won, grande amigo de infância da jovem e por quem esta nutre um sentimento muito especial, assassina o Rei de Kouka, isto é, o pai de Yona. Ao dar de caras com a situação, Yona entra num completo estado de choque. Aquela noite no castelo poderia ter sido bem mais trágica, não fosse a intervenção de Haku, o outro grande amigo da protagonista, que a leva para fora do castelo, tornando-se os dois fugitivos.
A partir desse momento começa a grande aventura de Yona. Uma que ela nunca julgou vir a viver. Soo-won assume a posição de Rei em Kouka e, enquanto isso, longe do castelo a ex-Princesa, Haku e mais alguns intervenientes vão formando um grupo interessante que ambiciona um dia fazer justiça aos acontecimentos passados.
Akatsuki no Yona | Ambiente e Enredo
Antes de abordar qualquer aspeto técnico da obra, tenho de confessar (e as minhas primeiras impressões a Akatsuki no Yona comprovam-no!) que a obra me trocou as voltas nos episódios iniciais. Como não conhecedor da manga, o arranque da série tinha algo muito mais orientado para a ação e aventura do que propriamente para o género shoujo.
Só a partir do terceiro episódio é que a história começou a ir de encontro ao seu estilo. O foco passou de grandes lutas em perspetiva para a vida de Yona num habitat completamente diferente daquele a que a rapariga estava habituada. Tudo bem em termos de história, pena o ritmo demasiado lento em alguns destes momentos. Um factor que atrasou muito o desenvolvimento do enredo e a chegada às cenas de maior interesse. Na verdade, chego ao final da trama com a ideia de que esta foi uma das grandes dificuldades dos seus responsáveis, isto é, a gestão do tempo nos vários acontecimentos. Algumas aventuras passaram demasiado rápido, enquanto que outras pareciam nunca mais terem fim. Veja-se o contacto de Yona com os dragões. Dois deles juntaram-se ao grupo em quase dois episódios; já os outros dois contabilizam cerca de 10 episódios ou mais, com outras peripécias pelo meio. Em suma, faltou um ponto de equilíbrio neste aspeto, independentemente do que ditava a obra de adaptação.
Prosseguindo, não posso deixar de salientar a presença dos comentários cómicos entre personagens nas mais variadas cenas, em paralelo com as mudanças de expressões nas suas caras. Cada um tem a sua noção pessoal do peso e medida ideal para a inclusão deste tipo de cenas. Pessoalmente acho que houve um ligeiro exagero na sua presença mas, mais importante do que isso, no geral todas elas tiveram a sua boa dose de piada, contribuindo assim para divertir o espectador de vez em quando e para dar um outro tipo de qualidade ao anime.
Relativamente aos ambientes de fundo e ao desenho das personagens, estes serão os únicos aspectos cuja opinião que detinha nas primeiras impressões não mudou. A elevada qualidade manteve-se do princípio ao fim, contribuindo assim para uma maior relevância das personagens aquando das suas aparições. A parte da animação também nunca defraudou, com exceção das cenas mais violentas. Nestas alturas, a Studio Pierrot arranjou maneira de reduzir sempre a “gravidade” das cenas que poderiam ser mais susceptíveis ao espectador. Foi pena!
Já a banda sonora foi uma agradável surpresa. Caso para dizer que teve as badaladas certas nos momentos certos, sendo que a parte instrumental do primeiro opening de Akatsuki no Yona foi a cereja no topo do bolo. Excecional!
Akatsuki no Yona | Personagens
Yona e Haku assumem os papéis de personagem principal e seu auxiliar, respetivamente, enquanto Soo-won o de maior vilão. Este é o trio de relevo de Akatsuki no Yona, e aquele sobre o qual tinha mesmo de falar nesta análise.
A Princesa Yona não é a minha personagem favorita. Todavia, com o decorrer do anime, ela conseguiu conquistar o meu respeito e a minha admiração. As suas miudezas e os seus comportamentos numa primeira fase levaram-me a classificá-la como “detestável”, tendo nessa altura acompanhado a série apenas porque tinha de ser. Porém, com o passar dos capítulos, Yona cresceu muito enquanto pessoa, transitando de frágil e lamechas para uma personagem guerreira e determinada. Talvez esteja aqui o ponto forte/a razão de todo o sucesso que teve Akatsuki no Yona. O adepto que se decidir a seguir a série numa fase inicial acaba recompensado mais à frente.
Mais ainda, arrisco-me mesmo a dizer que o género shoujo atribuído à produção está concentrado unicamente em Yona e na sua evolução como pessoa. Sim, porque desenganem-se os que esperavam pela categoria do romance muitas vezes interligada neste estilo. Com exceção de uma ou outra situação com Hak (que em nada resultam!), nada de mais se passa nesta categoria. Hak é mesmo isto, um guerreiro fenomenal que vive para proteger Yona, após um compromisso estabelecido com o falecido Rei Il. Se em momentos de descontração o jovem aproveita para entrar em “picardias amigáveis” com a Princesa, nas alturas mais sérias e de maior tensão a sua grande preocupação é, inegavelmente, proteger a vida de Yona.
Por seu lado, Soo-won é, a meu ver, uma personagem que em termos de conceção deixa muito a desejar. Para além de não ter ar de vilão, nem antes nem depois de assassinar o Rei Il (o que não faz muito sentido!), os seus comportamentos altamente zen não estão nada de acordo com as suas intenções ou crimes cometidos. Desta forma, Soo-won acaba por se tornar numa personagem deveras original, mas não pelos melhores motivos. A falta de consenso entre a sua maneira de ser/estar e o papel que desempenha na história não joga nada a seu favor. Poderia ser aceite desta forma se tivesse um ar enigmático e de mistério associado, o que não é definitivamente o caso.
Akatsuki no Yona | Juízo Final
Apesar de não ser o maior adepto de shoujo, acho que não é exclusivamente por essa razão que esta análise não vai de encontro à de muitos fãs de anime. Gostei da série, acho que ela tem valor e muita qualidade em alguns aspetos, mas não deixo de lhe reconhecer as falhas em cima mencionadas. Além do mais, a história é boa mas não brilhante. Brilhante quanto muito seria Yona (personagem). Ao contrário de muitos, nunca desesperei pelo episódio seguinte e, como se costuma dizer, quando uma obra é fenomenal fascina qualquer um. Àqueles que se identificam com este tipo de premissa e de enredo, não lhes deixo de recomendar Akatsuki no Yona.
A existência de uma segunda temporada não está confirmada, mas esperemos que tal venha a acontecer. Depois do final apressado da primeira temporada (estou a falar do contacto estabelecido entre Yona e o dragão amarelo), todos esperam o contra-ataque da Princesa com vista à recuperação do trono do Reino de Kouka. De preferência com desenhos e badaladas de alta qualidade, pois aqui sim, Akatsuki no Yona está num patamar que não é para qualquer série.
Análises
Akatsuki no Yona
Uma obra que não deixa de ter bastante qualidade para o género em que se enquadra, mas que ainda assim está a ser sobrevalorizada pela comunidade.
Os Pros
- Produção Visual
- Banda Sonora
- Personagens
- Enredo
Os Contras
- Nada de relevante a apontar