A terceira adaptação do manga “Attack on Titan” para o ecrã ficou marcada por uma divisão em duas partes. Enquanto a primeira foi transmitida no verão de 2018, a segunda ocupou a primavera do ano 2019. Uma escolha da produção que não é inédita e que permitiu aos seus responsáveis agruparem melhor os acontecimentos do manga que estiveram em foco.
Após uma segunda temporada curta e sem capacidade para fazer face às expectativas criadas na primeira adaptação, Attack on Titan 3 recolocou a obra em patamares muito elevados. Um bom presságio para a temporada final que até já tem data anunciada: outono de 2020. Colocando a boa nova de lado, este artigo segue para o seu principal objetivo: analisar Shingeki no Kyojin 3.
Apesar das referências a alguns acontecimentos que preencheram os 22 episódios da trama, ESTE TEXTO ENCONTRA-SE LIVRE DE GRANDES SPOILERS. Mais acrescento. O dito cujo não tem capacidade para estragar o entusiasmo de qualquer leitor que ainda não tenha visto a produção em causa.
Uma primeira parte sem Titãs!
A estreia de Attack on Titan 3 trouxe desde logo consigo uma novidade na trama. A ausência de Titãs. Os Survey Corps e seus aliados dedicaram-se a investigar o Interior, na tentativa de perceber se grande parte da verdade que lhes faltava sobre a história das Muralhas e dos Titãs não estaria precisamente a ser-lhes ocultada pelos seus governantes e associados.
Esta viragem no enredo voltou a trazer personagens fortes para o centro das atenções, como foi o caso de Erwin, Hange e Levi, que na segunda temporada estiveram quase de férias. De facto, coube a Levi e ao seu tio, Kenny abrirem as hostilidades logo no primeiro episódio. Uns primeiros 20 minutos que reforçaram a ideia de que não só de Titãs vive esta criação.
Kenny, Eren e Historia: Luta pelo protagonismo!
Kenny Ackerman foi uma das personagens novas em Shingeki no Kyojin 3. Um belo acrescento, pois foi das que mais contribuiu para o interesse do espectador durante os episódios transmitidos no verão de 2018 (parte 1). Juntamente com o trio principal dos Survey Corps, este quarteto revelou-se crucial para a trama assegurar um bom nível de qualidade por esta altura.
Ao mesmo tempo, Eren e Historia tentaram “reclamar” o protagonismo dos acontecimentos a qualquer custo. A meu ver, estas não foram as melhores escolhas de Hajime Isayama. Historia até teve alguns momentos interessantes e a sua evolução como personagem foi notória. No entanto, falta-lhe mais qualquer coisa para ser capaz de deixar uma marca nos fãs.
Já Eren mostrou uma inconsistência que apelidaria mesmo de assustadora. Os seus discursos e atitudes neste período contrastaram por completo com o Eren Yeager das prequelas. Algo que tornou os seus momentos de atenção bastante enfadonhos, tristes, e até irritáveis.
Mudanças estratégicas na ordem dos acontecimentos
Posto isto, regresso ao tema da investigação dos Survey Corps e ao desenrolar da história neste primeiro cour. Colocando as personagens de lado, o enredo incluiu cenas de alta qualidade que contrastaram com outras menos apelativas.
A meu ver, esta oscilação entre o hype e o aborrecido foi estratégica. Passo a explicar. Durante o processo de adaptação desta parte 1 surgiram algumas trocas na ordem dos acontecimentos em relação ao manga original. Um facto que me leva a crer que a ideia de Isayama e dos responsáveis do Wit Studio foi equilibrar a qualidade dos episódios e agarrar os fãs nos momentos certos, tendo em conta o material dó enredo disponível para o trabalho.
O capítulo de estreia será o exemplo que melhor corrobora a minha teoria. Uma parte da história antecipada e ali colocada precisamente para logo criar impacto naquele regresso tão aguardado de Shingeki no Kyojin ao ecrã.
Uma segunda parte de loucos!
Foi qualquer coisa de extraordinário! Concluídas as aventuras pelo Interior, a segunda parte voltou a colocar os Survey Corps em terreno inseguro e à procura dos Titãs. Eles não tardaram em ser encontrados, e logo os seus maiores trunfos.
A importância dos Titãs em Shingeki no Kyojin
É por esta altura que chego à conclusão da importância dos Titãs para a obra dar o salto para patamares muito altos. Não pelos Titãs em si. Como disse em cima, estes estiveram praticamente ausentes no primeiro cour, e a obra (com algumas dificuldades é certo) foi capaz de se manter a bom nível, ainda que longe dos seus momentos mais soberbos. Todavia, de forma indireta, os Titãs revelam-se o elemento catalisador para Isayama nos presentear com o melhor do seu trabalho. Para nos expor a essência das personagens principais.
Esta segunda parte foi repleta de ação, e logo com confrontos que todos ansiavam por ver. Porém, para lá da prestação de Levi, que, apesar de pouco provável, foi capaz de superar as expectativas em relação ao teto máximo do seu talento para o combate, os restantes protagonistas excederam-se noutros campos. Nomeadamente: no duelo mental; na avaliação das diversas situações de batalha com o peso de vidas em jogo; nas decisões tomadas ao leme de uma grande carga emocional individual e coletiva.
Em suma, uma panóplia de diálogos e acontecimentos que, suportados por duelos inevitáveis no campo de batalha, elevaram esta história ao seu ponto mais alto de sempre.
Personagens importantes que ficam pelo caminho
Por último, não posso deixar de referir a morte de personagens cruciais da trama. Não vou aqui falar em nomes por motivos de spoiler.
Numa batalha desta dimensão, onde no campo de batalha estão poucos indivíduos para além dos principais nomes do enredo, é perfeitamente natural, e diria mesmo “obrigatório”, que algumas fiquem pelo caminho. O autor não fez por menos. Apesar das escolhas não terem sido do meu agrado, apreciei a inclusão desta componente numa perspetiva de valorização da obra.
Shingeki no Kyojin encaixa no elemento “fantasia” apenas na parte de conceção do seu universo. Para lá disso, o realismo assume o comando das operações e estabelece uma forte ligação com o espectador. Se esse realismo se perder, a qualidade da obra ficará seriamente comprometida, como aliás já aconteceu com outras histórias. A insegurança e incerteza depositadas no futuro das personagens é fundamental.
Attack on Titan 3 – Visual e Animação
Os aspetos mais técnicos deste projeto da responsabilidade da Wit Studio não têm sofrido grandes oscilações de temporada para temporada. Um ponto positivo, olhando à qualidade que desde sempre apresentaram.
O visual continua muito apelativo, e a animação continua em alta nos seus momentos mais exigentes. Isto é, nas cenas de ação, quer estas envolvam confrontos entre Humanos, Titãs, ou com ambas as partes a medirem forças entre si.
Colossus e Beast Titans
Para lá disto, sobram as especificidades de alguns Titãs. O caso digno de mais destaque será o do Colossus Titan, que já na minha análise a Attack on Titan 2 critiquei. Apesar de continuar um pouco esquisito e destoar de tudo o que surge à sua volta, creio que as melhorias são evidentes.
Porém, não posso também deixar de mencionar o detalhe conferido aos arremessos do Beast Titan. Ainda que alguns possam ter sido réplicas de arremessos seus anteriores, não me canso de contemplar o gesto e ficar surpreendido como um movimento tão simples foi capaz de me despertar tamanha atenção.
Attack on Titan 3 – Openings e Endings
Ainda que passe um pouco mais disfarçada que o normal, a banda sonora mantém os padrões de qualidade exigidos para uma obra deste calibre.
Já no que diz respeito aos openings e endings que acompanharam esta terceira temporada, os sentimentos dividem-se. O opening da primeira parte destaca-se pela arte apresentada, mas depois deita tudo a perder com a música escolhida: “Red Swan” de Yoshiki Hayashi feat HIDE.
Já o opening da segunda metade: “Shoukei to Shikabane no Michi” é bem mais interessante na sua parte musical que o seu antecessor. Para não variar, o dito cujo é protagonizado pelos Linked Horizon. Depois do brilharete com que nos presentearam na primeira série, continua difícil (e compreensível!) elevarem ainda mais essa fasquia.
Por seu lado, ambos os endings revelam-se agradáveis para os fãs mais comuns. Estou convencido que esta componente, de um modo geral, tenta primar pela subtileza – não detetável por qualquer fã – em oposição aos openings energéticos e repletos de vivacidade. Enquanto o da primeira metade volta a colocar os Linked Horizon em palco, desta vez com o tema: “Akatsuki no Chinkonka”, o da segunda parte é protagonizado pelos Cinema Staff que cantam “Name of Love“.
Attack on Titan 3 – Juízo Final
Concluindo, a divisão em dois de Attack on Titan 3 reflete os patamares de qualidade diferentes em que as duas partes devem ser colocadas. A primeira metade teve de fazer um bom esforço para não defraudar as expectativas dos fãs e o hype gerado nos tempos que a anteciparam. Com alguns momentos de excelência, originários de algumas descobertas e de comportamentos de algumas personagens, lá conseguiu fazer jus à sua reputação.
Por seu lado, a segunda parte foi sem dúvida arrebatadora. Dez episódios de extrema intensidade, todos eles dotados de grandes momentos de ação, descobertas, e sempre com as emoções à flor da pele. Então aqueles episódios 54 e 55 … Se a série fosse constituída apenas por esta segunda metade eu dava-lhe pontuação máxima!
O que quer que venha por aí na derradeira temporada terá que puxar muito dos galões para superar este segundo cour de Shingeki no Kyojin 3.
Até lá, teremos que controlar a ansiedade. Para isso, contamos com a ajuda dos últimos três capítulos transmitidos. Depois de tantos episódios com os batimentos cardíacos longe da zona de repouso, a trama despediu-se com algumas revelações mais apaziguadoras.
Embora, verdade seja dita, essas novidades tenham levantado tantas ou mais interrogações quanto aquelas que esta season 3 foi capaz de esclarecer. Algumas pairavam no ar deste o início da série. Mas, em relação a isto, que dizer? Se não fosse assim, não era Shingeki no Kyojin.
Attack on Titan 3 Parte 1 – Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=1_-TJCs7S8s
Attack on Titan 3 Parte 2 – Trailer
https://www.youtube.com/watch?v=a3mo2TZGXlM
Análises
Attack on Titan 3
Uma produção cuja primeira parte percorreu um caminho algo irregular mas que contribui para uma segunda metade absolutamente excecional. Nesta terceira série, a adaptação ao manga de Hajime Isayama atingiu o seu ponto mais alto de sempre.
Os Pros
- Parte 1: Kenny Ackerman
- Parte 2: A segunda parte da série, no seu todo, roçou a perfeição. Imprópria para cardíacos
Os Contras
- Parte 1: Opening. A inconsistência do protagonista Eren Yeager
- Parte 2: Nem por sombras