Filme: O Reino dos Gatos | The Cat Returns| Neko no Ongaeshi (original)
Diretor: Hiroyuki Morita
Escritor: Reiko Yoshida
Produtores: Toshio Suzuki, Hayao Miyazaki
Data de estreia: 20 de julho de 2002
Género: Drama, Aventura, Fantasia
Duração: 1h 15 minutos
Estúdio: Estúdio Ghibli
The Cat Returns – Análise
Há uns bons anos atrás assisti pela primeira vez um filme do Estúdio Ghibli. Ao contrário da maioria, o meu primeiro filme foi The Cat Returns. Nessa altura, novata aqui, estava toda confiante que conseguiria analisar um filme tão curto quanto este (tem pouco mais de 1h). Doce engano.
A minha arrogância de quem acha que escreve umas coisas levou uma chapada de noção gigantesca: não é à toa que a Ghibli é especial. A essência que o estúdio transmite, mesmo nas suas obras menos conhecidas (e menos longas), está presente. As suas obras transmitem as emoções de uma forma pura, quase que infantil. São filmes emocionais, que nos envolvem e fazem sentir emoções que já nos tínhamos esquecido. E colocar em palavras aquilo que sentimos nunca foi tarefa fácil.
É como perguntarem a alguém que acabou de ver Totoro: “porque gostas do Totoro?” A resposta poderá ser algo do tipo: “porque o Totoro é… o Totoro!” E para quem viu essa resposta faz todo o sentido!
Logo, para mim, pedirem-me para descrever, mais, analisar The Cat Returns foi só impossível com a maturidade da altura em que o assisti pela primeira vez. E bem, mesmo agora não prometo que saia algo muito bom…
Mas por falar em maturidade…
Um filme sobre a maturidade
Uma coisa que achei muito interessante na minha segunda visualização foi a nova perspetiva com que assisti ao filme. No fundo, acabei por me aperceber de temas que antes nem tinha percebido.
A minha opinião sobre o filme continua a mesma: adoro-o e é dos meus filmes preferidos. Todavia, acho que compreendi o porquê de ele tanto ter mexido comigo na altura: o crescimento emocional trabalhado naquela forma singela e em tom de fábola.
Afinal, o que há de melhor para transmitir uma mensagem que não seja numa fábola?
A história segue Haru, uma menina de 17 anos muito trapalhona, descuidada, mas de bom coração. Todos os dias eram a mesma coisa: adormecia, nunca tomava o pequeno almoço e, para piorar, era sempre apanhada pelo professor a esquivar-se para dentro da sala. Enfim, tudo lhe acontecia: tropeçava, caía, ia de encontro às mais variadas barreiras físicas e a sua apaixoneta – o rapaz mais giro da sala – namorava! Já viram o quão horrível era a sua vida?
Tudo muda quando salva um gato de ser atropelado…
Esse gato era, nada mais nada menos, que o príncipe do Reino dos Gatos. Após tão honrosa façanha, os felinos do reino mobilizaram-se para agradecer Haru da forma que melhor sabiam…
O mundano torna-se extraordinário!
Que a animação é deslumbrante isso já não é de todo uma novidade. Para quem já viu os títulos mais populares do estúdio, como por exemplo Howl’s Moving Castle, as engrenhagens e todo o ambiente é muito mais caprichado que em The Cat Returns. My Neighbor Totoro possui cenários bem mais vivos e fluidos, para não falar de Ponyo… Em suma, não é o filme com a melhor animação do estúdio Ghibli.
Mas também não é mau! É um filme competente e francamente acima da média na altura, a razão porque se demarca dos restantes é sobretudo por fugir muito do ambiente mágico dos títulos supracitados.
Pensem antes num slice of life de um mundo como o nosso, apenas com a particularidade de os gatos terem um reino deles algures no mundo… e as peças de arte criadas com todo o coração por artesãos, possuem uma alma.
Um mundo onde, na rua onde Haru passa todos os dias, poderá estar Muta, o braço direito do lendário Baron! E é por entre ruas e ruelas que, se precisarmos mesmo de ajuda, conseguimos auxílio por entre o mundo das criações.
E assim o mundano torna-se extraordinário!
As transições entre o mundo real e o de fantasia são assim singelas, sem grandes “pozinhos mágicos”, não é com magias de perder a respiração ou grande alvoroço mágico. Em boa verdade, é capaz de ser dos filmes menos mágicos da Ghibli a envolver fantasia.
A mensagem de The Cat Returns
Se em cima falava da atenção ao pormenor na construção do ambiente, é no enredo e na protagonista que mais devemos estar atentos aos pormenores.
Tenho a certeza que não entendi a mensagem do filme (ou uma das) na primeira vez que vi. Pelo menos o que retirei nesta visualização foi completamente diferente da primeira.
Acreditar em nós mesmos e maturidade. São estes os temas do filme, tão gloriosamente mascarados num conto de fadas entre uma humana e um gato.
Haru começa o filme como uma menina inconsciente e inconsequente, no fundo só quer uma vida sossegada, relaxada e que tudo lhe corresse tal e qual como ela desejava. Sem responsabilidades, sem confusões, comer e dormir uma sesta como qualquer vida de gato. E é o desejo de fugir da realidade que dita a sua sentença.
Quando a protagonista procura ajuda vemos pouca assertividade, não sentimos real vontade de mudar. É simplesmente uma menina perdida à procura do seu lugar no mundo.
Ao longo do filme, com muita comédia e momentos caricatos, vemos Haru ora delirante para poder viver uma vida mais animada ora chorosa pela sua “desgraça”. Achei imensa piada na forma como demonstram o egocentrismo típico da idade, aquele inconformismo dos adolescentes quando as coisas não correm como eles querem, sem olhar para o resto.
Tudo isto culmina numa série de peripécias que a fazem soltar o seu Grito de Ipiranga!
Um filme que goza com ele mesmo
O filme não é perfeito. E ele sabe disso! Está repleto de situações demasiado convenientes, como uma porta de fuga no momento em que estão a fugir, ou muralhas humanas convenientemente alinhadas, etc. Mas é aí que a narrativa se critica a ela mesma com comentários “Olha que conveniente!“, “Eu bem os avisei para não se alinharem assim...”.
Mas vamos ser sinceros, com um filme de 1h em que tinham que apresentar um universo totalmente novo, personagens carismáticas e ainda desenvolver a protagonista de forma coerente, não podemos esperar a perfeição, não é?
Ainda assim, conseguimos ignorar a maioria das conveniências. O filme não finge ser algo que não é. O romance é cliché, e trata-se de um conto de fadas até na forma monárquica mediaval em que se apresenta. A ideia é, a meu ver, mostrar que nem tudo o que é conto de fadas o é.
Juízo Final
Não se tratando de um “Cabeça de Cartaz” do Estúdio Ghibli, The Cat Returns acaba por passar ao lado de muitos possíveis espectadores. Acredito que o filme agrade a maioria, não vejo nada nele que o considere restritivo para qualquer fã do consagrado estúdio.
Todavia, o facto de ser um filme slice of life é por si uma característica que fará gostar mais ou menos dele, dependendo se forem (ou não) fãs do género. Tem um pace lento e com poucos “pontos altos”, mesmo quando os há são suaves e sem grandes “aparatos” narrativos e cinéfilos.
Em suma, é um bom filme, ideal para todas as idades e que dificilmente não gostarão! Contudo, isso não significa que fique no vosso top de melhores filmes, aí entra o gosto pessoal, sem dúvida.
Análises
The Cat Returns
Em suma, é um bom filme, ideal para todas as idades e que dificilmente não gostarão! Contudo, isso não significa que fique no vosso top de melhores filmes, aí entra o gosto pessoal, sem dúvida.
Os Pros
- A forma como a história é construída
- Baron Humbert von Gikkingen
Os Contras
- O ritmo narrativo pode não agradar a todos