No final dos anos 90 e início dos anos 2000, assistiu-se a uma explosão da indústria do cinema de terror asiático. Desde que Ringu estreou em 1998, os fãs do cinema olham para esta região do mundo à procura dos seus jumpscares. Enquanto que o horror americano estagnou, os filmes de terror “A” têm sido uma fonte de inovação. Ao longo dos anos, os direitos de muitos dos melhores filmes de terror asiáticos foram comprados por Hollywood e refeitos para o público ocidental, mas – sejamos honestos – resultando quase sempre em produtos inferiores.
Aqui fica um pequena lista de filmes de terror asiáticos, representativos das indústrias fílmicas mais relevantes do continente asiático.
Cinema de Terror Asiático – Especial Halloween
Japão
Cure (1997)
Lançado no Japão em 1997, o thriller psicológico de Kiyoshi Kurosawa – Cure – fez parte de um novo movimento do cinema japonês, cristalizado num ano, em retrospetiva, milagroso. The Princess Mononoke, a animação de Hayao Miyazaki bateu recordes de bilheteira, o drama policial de Takeshi Kitano, Hana-bi, ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e o filme-choque de Hideo Nakata – Ringu – lançou o boom do J-horror.
Em Cure, uma onda de assassínios horripilantes varre Tóquio. A única ligação entre estes é a marca de um X sangrento entalhado no pescoço de cada uma das vítimas. Em cada caso, o assassino é encontrado perto da vítima e não se lembra do crime. O detetive Takabe e o psicólogo Sakuma são chamados para descobrir a ligação, mas a sua investigação não leva a lado nenhum…
Perdido na sombra do seu conterrâneo Ringu, Cure é um filme profundamente inquietante – o sangue é mínimo, e vislumbrado apenas, mas o que torna o filme tão perturbador é a sua atmosfera desoladora e desolada.
Coreia do Sul
Thirst (2009)
Park Chan-wook é hoje o realizador dos filmes de terror coreanos de maior sucesso, talvez porque, nos seus filmes, há sempre algo mais do que simples terror. Chan-wook sonda as profundezas alarmantes da natureza humana. Talvez seja por isso que a sua filmografia seja celebrada, simultaneamente, nas comunidades de culto e ganhe o Prémio do Júri no Festival de Cinema de Cannes em 2009.
Sang-hyun, um padre respeitado, é voluntário para um procedimento experimental que pode levar a uma cura para um vírus mortal. Infelizmente, é infetado e morre, mas uma transfusão de sangue de origem desconhecida trá-lo de volta à vida… como vampiro. Sang-hyun encontra-se dividido entre a fé e a sede de sangue e um novo desejo: Tae-ju, a esposa do seu amigo de infância.
Ao longo de toda a parafernália de sons explícitos de sugar sangue e beijar, o filme revela-se assustador, comovente e evocativo. Como a maioria dos filmes de Park, não acaba quando o público espera que acabe. O final de Thirst transforma as personagens e mantém a sua humanidade, mesmo no meio do abraço mais frenético das suas obsessões. Thirst é um olhar engenhoso sobre um tema obsoleto, provando que o género não perdeu o seu espírito, mas que grande parte dos realizadores esforçam se por isso.
Hong Kong
Dream Home (2010)
O mercado imobiliário estrangulante de Hong Kong e a iminente crise financeira de 2008 são motivos para os assassinatos em série em Dream Home, um filme impiedoso, por vezes horrivelmente selvagem, realizado por Pang Ho-cheung.
Josie Ho interpreta Cheng Lai-Sheung, solteira, com empregos múltiplos, cujo desejo de uma casa com vista para o porto de Victoria é constantemente bloqueado pelo mercado imobiliário de Hong Kong, pelo que a própria se encarrega de diminuir o valor da casa dos seus sonhos, para dentro das suas possibilidades.
Os deslumbrantes apartamentos do porto de Victoria não são apenas o cenário da sua matança sem limites – revelam o estilo de vida mimado e consumista da população rica da cidade, em contraste com a sua – tem dois empregos, vendendo bolsas de luxo e telemarketing para um banco e o seu “namorado” é, na verdade, casado, um filantropo descuidado que vê as mulheres como mais item na sua lista de propriedades.
As ações de Cheng são metódicas e o seu estilo de matança é insensível e mercenário, mas talvez refrescante para uma protagonista feminina num género com um histórico de protagonistas predominantemente sexualizadas, emocionalmente carenciadas ou “superficialmente complexas” – por causa disto, Dream Home merece um aplauso.
Tailândia
Shutter (2004)
Um dos fatores motivacionais mais comuns nas histórias de fantasmas é a vingança. A este respeito, Shutter, um filme tailandês, dos realizadores Banjong Pisanthanakun e Parkpoom Wongpoom, não traz nada de novo. Usando o fenómeno da fotografia espiritual como trampolim, Shutter oferece uma história arrepiante, de culpa, engano e vingança fantasmagórica.
O filme começa com o fotógrafo Tun e a sua namorada Jane a sofrerem um terrível acidente. Enquanto conduzia por uma estrada escura, uma jovem mulher aparece subitamente e Jane atropela-a. Jane quer parar e ajudar, mas Tun convence-a a afastar-se do local do acidente. Isto é, obviamente, uma má ideia. Daí em diante, Tun e Jane experienciam fenómenos estranhos, incluindo a presença de brilhos fantasmagóricos nas fotografias de Tun. Jane acredita que estas estranhas ocorrências são devidas à mulher do acidente, mas Tun permanece cético. À medida que Jane se encarrega de investigar a história da mulher, o que acaba por descobrir é chocante.
Embora tenha algumas falhas menores (a fotografia espiritual é utilizada como trampolim para a história, não se faz muito com o conceito, por exemplo), Shutter é uma narrativa muito bem apresentada. Como já foi notado, Shutter é um dos melhores filmes do mais recente boom do cinema de terror asiático, e é uma experiência angustiante e perturbadora.
Indonésia
Macabre (2009)
Vindo de uma indústria pouco conhecida e reconhecida, Macabre, título internacional de Rumah Dara (nome indonésio), é um filme de terror/slasher indonésio realizado em 2010 pelos irmãos Kimo Stamboel e Timo Tjahjanto. O filme conta a história de um grupo que tenta escapar de uma casa que pertence a Dara e à sua família. Mais tarde descobrimos que essa família é um grupo assassinos e canibais que tentam ganhar a imortalidade.
Macabre é baseado na curta-metragem Dara, também realizado pelos irmãos Mo, que faz parte da compilação Takut: Faces of Fear, lançada em 2009. A longa passou por diversos festivais em 2009 e chegou aos cinemas indonésios no ano seguinte, depois de ver algumas das suas cenas alteradas: a decapitação, por exemplo, não é exibida. E não foi apenas no seu país de origem que o filme sofreu censura: em Singapura, todas as cenas em que uma lâmina entra em contato com a pele foram removidas; na Malásia, Macabre foi o primeiro filme indonésio a ser banido por excesso de violência.
Os indonésios mostram que são mais do que capazes de se aguentarem nas apostas do horror, bem como em qualquer tentativa ocidental equivalente e Macabre surge como um dos mais entusiásticos banhos de sangue em memórias recentes. De facto, os Irmãos Mo fazem um trabalho muito melhor de copiar as regras básicas de O Massacre do Texas (1974), de Tobe Hooper, do que quando Rob Zombie fez no absurdo A Casa dos 1000 Cadáveres (2003).
Estes são cinco obras de cinema de terror asiático que aconselho assistirem neste Halloween. Que outros filmes recomendarias para os amantes deste género?
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