Vários são os concursos literários dos quais surgem algumas obras que, de outra forma, dificilmente seriam publicadas.
Recentemente conhecemos o caso do concurso japonês SMA (Silent Manga Audition). Este congratula jovens estrangeiros que lutam pela sua paixão (pela arte manga) até, um dia, conseguirem a oportunidade de verem a sua criação publicada.
Aqui em Portugal, existem também iniciativas de promoção de novos autores e uma delas é por parte da Editora Bubok.
Supernova – A Explosão de Kingu – Crítica Literária
Fruto do último concurso de Romance Original da Bubok tivemos Supernova – A Explosão de Kingu como vencedor. A característica primordial por detrás desta obra não poderia ser mais peculiar: inspirada em banda desenhada japonesa, possui um enredo e uma estrutura que conquistam miúdos e graúdos.
A autora, Sofia Neto, não poderia ser também ela mais especial, de apenas 19 anos, vê o seu primeiro livro ganhar o primeiro concurso literário no qual participa. Estudante de Engenharia Biomédica na Universidade do Minho, iniciou Supernova – A Explosão de Kingu com apenas 15 anos.
Supernova – A Explosão de Kingu – Sinopse
Num universo futurista, Nethan é um país de extremos. Por um lado o avanço tecnológico com robôs e armas sofisticadas, sob a alçada de uma cruel rainha; pelo outro um povo faminto cujos habitantes desaparecem pouco a pouco sem ninguém saber como nem porquê. A única pista é a ida à capital por convite da rainha. A combater este caos, está um grupo de rebeldes unidos para destruir o reinado de Kingu e reestabelecer a paz em Netham.
Milk é a protagonista desta história e uma dos líderes de uma das fações dos rebeldes. Assombrada por um passado de morte, e sonhos dos quais não se consegue lembrar, Milk será a chave para o sucesso.
Supernova – A Explosão de Kingu – A História
Sofia inicia o seu livro com chave de ouro ao adicionar um momento em analepse que nos desperta a curiosidade. A escrita é fluída e o storytelling bastante competente. Não nos perdemos na descrição e envolvemo-nos desde logo com o mistério e loucura de Kingu. Todavia, numa história tão complexa a maior dificuldade surge na ligação entre o passado e o presente.
A premissa inicia-se com a apresentação dos Sins, nome dado ao grupo de rebeldes, que vivem numa pequena fortaleza longe do alcance de Kingu. Divididos em três principais fações ativas Starting Yellow, Slaying Red e Sneacking Blue, é sobre eles que recai grande parte da narrativa. A história dos rebeldes e como tudo funciona exige um malabarismo narrativo difícil até para os escritores mais consagrados e que infelizmente não foi tão bem conseguido.
Logo após a extensa introdução temos um arc todo ele dedicado a um torneio de dois contra dois, numa arena, para terminar num desenlace de perder o folgo.
Posto isto, fiquei surpreendida pela audácia de Sofia em, num primeiro livro, criar um romance de aventura que no mínimo daria para dois volumes. Nota-se que a mente fervilhava ideias e, para compensar a injeção de teoria dos primeiros capítulos introdutórios, temos um desenvolvimento construtivo, com um bom desencadear de ideias e temas.
As inspirações
Como amante de cultura pop, foi realmente fácil detetar a maioria das inspirações da autora. Harry Potter está bem patente na caracterização das facções dos Sins, mas também obras manga/anime como Steins;Gate, Fullmetal Alchemist, HunterxHunter e Dragon Ball possuem um papel preponderante. Para quem conhece essas séries as ligações são bastante óbvias, transformando a leitura numa experiência de imersão no universo de cultura pop nipónico.
Sem cair no exagero no recurso das suas inspirações, vêmo-las recontadas, misturadas e trabalhadas num ambiente novo e vibrante. Um projeto ambicioso da jovem escritora de 19 anos mas cujo resultado foi bastante positivo.
O universo distópico descrito em Supernova não peca em elementos do fantástico e muito menos na sua união com a vertente de ficção científica. Na minha opinião, até acho que todos os elementos se uniram bastante bem, e prova disso foi o último arc, um final alucinante que me prendeu do início ao fim.
O tema mais arriscado foi o “viagens no tempo”. Já temos várias provas espalhadas pelos vários formatos de entretenimento do quão complexo é mexer com linhas temporais e o quão a sua escrita é susceptível de criar paradoxos. Este primeiro livro penso que conseguiu manter-se sem qualquer tipo de plot hole ou paradoxo mas será, sem dúvida, um ponto difícil de se manter livre de gralhas.
Será um desafio para Sofia Neto trabalhar num tema tão complexo, e tão a fundo, numa posterior sequela. Mas vamos acreditar que aprendeu bem a sua lição com Steins; Gate.
As personagens
Numa história de aventura épica são esperados vários personagens, e Supernova é um poço de descobertas de personagens diferentes a cada novo capítulo. Não é difícil nos ligarmos a estas, dadas as suas personalidades distintas, contudo, acabamos por sentir falta de mais informação sobre as mesmas. Algumas de elevada importância na narrativa, acabam por nos passar um pouco ao lado uma vez que não há “tempo” de as explorar. É caso para dizer que se espera muitos spinoffs!
Quanto aos protagonistas, desses não temos razão de queixa, além de muito bem construídos são, na sua maioria, fáceis de compreender numa primeira camada baixando as nossas defesas para todas as surpresas que nos aguardam no final. Uma estratégia inteligente e que demonstra uma maturidade escrita irrepreensível de Sofia Neto.
O romance em Supernova – A Explosão de Kingu
Apesar de ainda polémico, a homossexualidade ainda é objeto de atenção por parte dos media e autores contemporâneos. Muitos usam e abusam do romance homossexual para enfatizar as suas obras ou colocá-las sobre o estrelato. Não foi o que aconteceu em Supernova. A autora conseguiu inserir um romance homossexual com uma naturalidade de fazer inveja. Algo que deveria ser aceite por todos e que aqui vemos retratado como mais um dos vários romances trabalhados no livro.
Em boa verdade, há vários tipos de “relações” de paixões em Supernova. Achei extremamente interessante as referencias aos animes Nº6 e Mirai Nikki, sendo o último um bom exemplar de uma ideologia diferente cuja autora soube aproveitar muito bem.
Juízo Final
Todos os elementos trabalhados pela autora no início culminam num final épico onde um puzzle é montado sem que o leitor se aperceba. Escusado será dizer que fiquei absolutamente rendida pelo final. Nota-se o entusiasmo na escrita, no cuidado nos detalhes, na aptidão de tratar as personagens como elas são e as colocar no sítio certo há hora certa.
Autora de um potencial tremendo, cria uma maquinaria complexa de amores, ódios e tragédias onde o que parece não é. Uma aspirante a mestre do fantástico, que se prepara para abalar a literatura portuguesa com originais frenéticos e apaixonantes.
A sua idade é a prova que há margem para melhorar. Não é um livro perfeito, há personagens que acredito que podiam ter sido aprimoradas, e o início é um pouco custoso tendo em conta toda a informação que nos é fornecida sem qualquer ligação do leitor às personagens ou à história. Todavia, a partir de meio, Supernova torna-se num livro bom, francamente acima da média, e que recomendo avidamente. A maior crítica encontra-se nas gralhas de revisão que infelizmente acabam por ser demasiadas para um livro editado.
Sejam fãs ou não da cultura pop este é um livro que vos irá prender e que merece o nosso apoio. Se este é o primeiro livro de Sofia Neto, mal posso esperar por ler os seus sucessores e sobretudo, a continuação desta magnífica história.
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Análises
Supernova - A Explosão de Kingu
Um livro com inspirações da cultura pop japonesa que veio para marcar uma nova saga literária em Portugal. Uma história dramática de paixões, batalhas e muita aventura.
Os Pros
- Enredo Original
- Arc Final
Os Contras
- Início com injeção de informação
- Erros de revisão